por Andrea Tornielli, do Il Giornale, em 10 de fevereiro de 2010
A mulher polonesa tocada pelo milagre do padre Pio através da mediação de João Paulo IIesteve em Milão, nesta semana, para a apresentação do seu livro. “Antes de morrer lhe perguntei: devo queimar as nossas cartas? E ele: seria um pecado”.
“Eu não me esqueço de João Paulo II, pois, em um certo sentido ainda estou em contato com ele, pois com os santos se pode dialogar. Acredito que também neste momento ele esteja aqui, atrás de mim”.
Wanda Poltawska, a amiga de Karol Wojtyla, tem 88 anos, é uma mulher pequena, mas robusta como um carvalho. Tem o rosto sulcado de rugas e o olhar que sabe ser duro quando lembra dos anos difíceis passados no campo de concentração em Ravensbrück na Alemanha, onde aos 18 anos passou por experimentos cirúrgicos e onde viu morrerem tantas crianças recém nascidas. Para ela, que adoeceu de câncer em 1962 quando as filhas ainda eram bem pequenas, o bispo Wojtyla pediu a intervenção do Padre Pio da Pietrelcina, que quando recebeu a carta do jovem prelado polonês, comentou: “Para este não se pode dizer não”. E a cura veio.
A encontramos na sede de Milão da Paulus, aonde veio apresentar a edição italiana do seu livro “Diário de uma amizade” (640 páginas), o diário espiritual de uma alma e de uma relação com aquele que ela chama de “o grande irmão” Karol, um volume contendo muitas coisas inéditas sobre o futuro Papa que reconstroem a ligação profunda de Wojtyla com a família Poltawski.
No diário se conta o horror do campo de concentração, os anos difíceis que seguem a liberação, quando Wanda, profundamente marcada por aquela experiência, estuda medicina e psiquiatria tentando entender como é possível que um homem chegue a estes ápices de desumanidade. Um dia, em uma igreja, vê entrar um jovem sacerdote e vai se confessar com ele: “Me entendia, lembro daquela sensação de incrível alívio pelo fato de que existia alguém que finalmente me entendia”.Dom Karol se tornou o seu diretor espiritual e daquele dia em diante todas as manhãs ele dava a Wanda um trecho das Escrituras lidas durante a missa para que meditasse sobre eles.
Ele a chama por um apelido, “minha caríssima Dusia”, ela o chama “irmão”. O futuro Papa se torna um grande amigo de Wanda, do marido Andrzej, e das filhas do casal. A sua família se torna a família dele. Uma amizade verdadeira, profunda, pura, que suscitou algumas preocupações nos últimos meses – depois prontamente sumiu – naqueles que temiam que a publicação das cartas e do diário pudessem danificar a causa da beatificação do Pontífice polonês.
O marido de Wanda Poltawska, na introdução do livro, escreve: “Foi o encontro de duas fortes personalidades, que tinham entre si, mesmo na diferença substancial, muito em comum; foi o encontro de um homem muito viril, no sentido mais profundo da palavra, com uma mulher muito feminina, no melhor sentido da palavra: sensível, com uma rica dinâmica de sentimentos, capaz de trabalhar com extrema doação aos outros”. Pedimos à protagonista para falar desta relação, relembrando como a história da Igreja está cheia de exemplos de fortes ligações espirituais como aquela que emerge das páginas do livro. “Também hoje – explica – é possível viver uma amizade pura entre um homem e uma mulher. Jesus disse: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Se pode e se deve amar todas as pessoas como irmãos e irmãs, indo além do amor pelo próprio marido e mulher, com a qual há uma ligação especial abençoada por Deus que os torna uma só carne”.
«O Papa – conta doutora Poltawska – convidava sempre os jovens e crianças a serem disciplinados, a manterem os olhos da alma abertos e não os do corpo. E eu me deparei com tantos sacerdotes santos, não somente Wojtyla, que fiéis ao celibato sabiam cultivar relações de amizade puras e fraternais com mulheres. A Igreja católica precisa de testemunhos, que façam ver como é possível o amor casto. Não é complicado, basta converter-se...”
Quando perguntada quais as recordações que tem de Karol Wojtyla, Wanda responde com um sorriso: “Não me lembro dele, estou em contato com ele. Uma vez, falando de um lugar em especial, em um bosque no sul da Polônia, de onde se tinha uma vista belíssima e por onde passamos mais de uma vez durante as excursões guiadas por ele, me disse que toda vez que voltasse ali, nunca estaria sozinha, ele estaria lá.
Também agora estou certa de que ele está aqui, atrás de mim. Com os santos se pode falar, se pode estar em contato com eles”. Wanda contou da colaboração de Wojtyla, antes sacerdote, depois professor, bispo, cardeal e Papa.
Uma colaboração que tinha como terreno comum exatamente a família, a sua salvaguarda, a tutela da vida humana nascente. “Encorajou-me a fundar um instituto para a família, uma casa para acolher jovens mães. Deixou-me à disposição uma sala do seu apartamento para usar como consultório onde ajudar a casais em crise que quisessem se separar. Queria educar os jovens ao amor responsável”. Tem tanto sobre João Paulo II nas páginas de Wanda Poltawska. Um pouco antes que o Papa morresse, em janeiro de 2005, a amiga pediu se deveria queimar as cartas e suas anotações. Wojtylarespondeu: “Seria um pecado”.
A mulher polonesa tocada pelo milagre do padre Pio através da mediação de João Paulo IIesteve em Milão, nesta semana, para a apresentação do seu livro. “Antes de morrer lhe perguntei: devo queimar as nossas cartas? E ele: seria um pecado”.
“Eu não me esqueço de João Paulo II, pois, em um certo sentido ainda estou em contato com ele, pois com os santos se pode dialogar. Acredito que também neste momento ele esteja aqui, atrás de mim”.
O sacerdote Wojtyla com a já casada Wanda: joelho com joelho |
A encontramos na sede de Milão da Paulus, aonde veio apresentar a edição italiana do seu livro “Diário de uma amizade” (640 páginas), o diário espiritual de uma alma e de uma relação com aquele que ela chama de “o grande irmão” Karol, um volume contendo muitas coisas inéditas sobre o futuro Papa que reconstroem a ligação profunda de Wojtyla com a família Poltawski.
No diário se conta o horror do campo de concentração, os anos difíceis que seguem a liberação, quando Wanda, profundamente marcada por aquela experiência, estuda medicina e psiquiatria tentando entender como é possível que um homem chegue a estes ápices de desumanidade. Um dia, em uma igreja, vê entrar um jovem sacerdote e vai se confessar com ele: “Me entendia, lembro daquela sensação de incrível alívio pelo fato de que existia alguém que finalmente me entendia”.Dom Karol se tornou o seu diretor espiritual e daquele dia em diante todas as manhãs ele dava a Wanda um trecho das Escrituras lidas durante a missa para que meditasse sobre eles.
Ele a chama por um apelido, “minha caríssima Dusia”, ela o chama “irmão”. O futuro Papa se torna um grande amigo de Wanda, do marido Andrzej, e das filhas do casal. A sua família se torna a família dele. Uma amizade verdadeira, profunda, pura, que suscitou algumas preocupações nos últimos meses – depois prontamente sumiu – naqueles que temiam que a publicação das cartas e do diário pudessem danificar a causa da beatificação do Pontífice polonês.
O marido de Wanda Poltawska, na introdução do livro, escreve: “Foi o encontro de duas fortes personalidades, que tinham entre si, mesmo na diferença substancial, muito em comum; foi o encontro de um homem muito viril, no sentido mais profundo da palavra, com uma mulher muito feminina, no melhor sentido da palavra: sensível, com uma rica dinâmica de sentimentos, capaz de trabalhar com extrema doação aos outros”. Pedimos à protagonista para falar desta relação, relembrando como a história da Igreja está cheia de exemplos de fortes ligações espirituais como aquela que emerge das páginas do livro. “Também hoje – explica – é possível viver uma amizade pura entre um homem e uma mulher. Jesus disse: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Se pode e se deve amar todas as pessoas como irmãos e irmãs, indo além do amor pelo próprio marido e mulher, com a qual há uma ligação especial abençoada por Deus que os torna uma só carne”.
«O Papa – conta doutora Poltawska – convidava sempre os jovens e crianças a serem disciplinados, a manterem os olhos da alma abertos e não os do corpo. E eu me deparei com tantos sacerdotes santos, não somente Wojtyla, que fiéis ao celibato sabiam cultivar relações de amizade puras e fraternais com mulheres. A Igreja católica precisa de testemunhos, que façam ver como é possível o amor casto. Não é complicado, basta converter-se...”
Quando perguntada quais as recordações que tem de Karol Wojtyla, Wanda responde com um sorriso: “Não me lembro dele, estou em contato com ele. Uma vez, falando de um lugar em especial, em um bosque no sul da Polônia, de onde se tinha uma vista belíssima e por onde passamos mais de uma vez durante as excursões guiadas por ele, me disse que toda vez que voltasse ali, nunca estaria sozinha, ele estaria lá.
Também agora estou certa de que ele está aqui, atrás de mim. Com os santos se pode falar, se pode estar em contato com eles”. Wanda contou da colaboração de Wojtyla, antes sacerdote, depois professor, bispo, cardeal e Papa.
Uma colaboração que tinha como terreno comum exatamente a família, a sua salvaguarda, a tutela da vida humana nascente. “Encorajou-me a fundar um instituto para a família, uma casa para acolher jovens mães. Deixou-me à disposição uma sala do seu apartamento para usar como consultório onde ajudar a casais em crise que quisessem se separar. Queria educar os jovens ao amor responsável”. Tem tanto sobre João Paulo II nas páginas de Wanda Poltawska. Um pouco antes que o Papa morresse, em janeiro de 2005, a amiga pediu se deveria queimar as cartas e suas anotações. Wojtylarespondeu: “Seria um pecado”.
Com tradução de Alessandra Gusatto para IHU Online.
janeiro de 2011
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