por Alfredo Junqueira, do Estadão
O estudante Carlos Matheus Vilhena de Souza (foto) não fala mais como um jovem de 13 anos. A voz de garoto e o sorriso de menino dão eco ao relato assustador de um dos alvos do atirador Wellington Menezes de Oliveira, que matou 12 estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio, na quinta-feira passada.
Carlos Matheus é um dos 12 alunos que saíram feridos do massacre. Ele levou dois tiros no braço esquerdo, que está imobilizado desde o ombro até o pulso. Uma terceira bala ou fragmento de outro disparo deixou cicatrizes no seu peito. Carlos Matheus fingiu-se de morto para não levar mais tiros. Com dor e assustado, ficou quieto.
O menino, que sonha ser advogado e não gosta de futebol, mas adora mexer no computador e ficar na web (nas mídias sociais, em Orkut e Facebook), viu o assassino recarregar o revólver 38 e atirar contra seus colegas. "Naquele momento, eu achei que estava morto", disse o garoto, ontem à tarde, em entrevista ao Estado horas depois de receber alta do Hospital Albert Schweitzer.
Como você está? Tem muita dor?
Por enquanto, está bom. Não está doendo, não. Mas é porque eu tomei anestesia (a mãe corrige e diz que foi um analgésico). Foi uma injeção, mãe. É tudo a mesma coisa.
Essa tala está atrapalhando muito? Você é canhoto ou você é destro?
Não está atrapalhando muito, não. Eu escrevo com a mão direita. Sou destro, né? Sempre me confundo. Mas é isso. Sou destro e estou conseguindo fazer minhas coisas, mexer no meu computador...
E de tudo o que você passou, Carlos. O que você lembra?
Não queria falar muito sobre esse assunto. Achei que ia morrer na hora mesmo. Quando levei os tiros, parei de sentir meu braço. Não sei se saiu muito sangue, mas não tinha pressão. Não sentia nada.
O que se passou dentro da sua sala?
Ele entrou e atirou em todos os que ficaram na sala. Só poupou um menino, com quem ele simpatizou. Não sei por quê.
É aquele que apareceu na televisão? O gordinho?
Isso. Mas o Matheus nunca gostou de ser chamado assim (risos).
O que você conseguiu ver lá dentro? Você viu seus amigos machucados?
Sim. Vi um monte de gente no chão. Muito sangue, muita dor.
Você tentou sair da sala?
Não. Tentei me proteger com o braço e fui atingido. Caí no chão na hora. Fingi de morto para ele não me atingir de novo. O Diego (outro menino ferido) ficou do meu lado. Achei que ia morrer mesmo.
Em qual sala você estava?
Na sala da professora Patrícia. Ela se mandou na hora e deixou a gente sozinho.
Você está chateado com a professora?
Não. Foi uma reação normal. Ela saiu correndo. Se tivesse ficado, talvez também fosse atingida. É assim mesmo. Eu teria feito a mesma coisa. Não adianta ficar chateado.
Você entendeu o que aconteceu?
Nem tentei. Não tem nenhuma explicação.
> 'Ele mirou a arma para mim e apertou o gatilho, mas não tinha bala.'
abril de 2011
> Sobreviventes. > Vítimas. > Caso do atirador de Realengo.
O estudante Carlos Matheus Vilhena de Souza (foto) não fala mais como um jovem de 13 anos. A voz de garoto e o sorriso de menino dão eco ao relato assustador de um dos alvos do atirador Wellington Menezes de Oliveira, que matou 12 estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio, na quinta-feira passada.
Carlos Matheus é um dos 12 alunos que saíram feridos do massacre. Ele levou dois tiros no braço esquerdo, que está imobilizado desde o ombro até o pulso. Uma terceira bala ou fragmento de outro disparo deixou cicatrizes no seu peito. Carlos Matheus fingiu-se de morto para não levar mais tiros. Com dor e assustado, ficou quieto.
O menino, que sonha ser advogado e não gosta de futebol, mas adora mexer no computador e ficar na web (nas mídias sociais, em Orkut e Facebook), viu o assassino recarregar o revólver 38 e atirar contra seus colegas. "Naquele momento, eu achei que estava morto", disse o garoto, ontem à tarde, em entrevista ao Estado horas depois de receber alta do Hospital Albert Schweitzer.
Como você está? Tem muita dor?
Por enquanto, está bom. Não está doendo, não. Mas é porque eu tomei anestesia (a mãe corrige e diz que foi um analgésico). Foi uma injeção, mãe. É tudo a mesma coisa.
Essa tala está atrapalhando muito? Você é canhoto ou você é destro?
Não está atrapalhando muito, não. Eu escrevo com a mão direita. Sou destro, né? Sempre me confundo. Mas é isso. Sou destro e estou conseguindo fazer minhas coisas, mexer no meu computador...
E de tudo o que você passou, Carlos. O que você lembra?
Não queria falar muito sobre esse assunto. Achei que ia morrer na hora mesmo. Quando levei os tiros, parei de sentir meu braço. Não sei se saiu muito sangue, mas não tinha pressão. Não sentia nada.
O que se passou dentro da sua sala?
Ele entrou e atirou em todos os que ficaram na sala. Só poupou um menino, com quem ele simpatizou. Não sei por quê.
É aquele que apareceu na televisão? O gordinho?
Isso. Mas o Matheus nunca gostou de ser chamado assim (risos).
O que você conseguiu ver lá dentro? Você viu seus amigos machucados?
Sim. Vi um monte de gente no chão. Muito sangue, muita dor.
Você tentou sair da sala?
Não. Tentei me proteger com o braço e fui atingido. Caí no chão na hora. Fingi de morto para ele não me atingir de novo. O Diego (outro menino ferido) ficou do meu lado. Achei que ia morrer mesmo.
Em qual sala você estava?
Na sala da professora Patrícia. Ela se mandou na hora e deixou a gente sozinho.
Você está chateado com a professora?
Não. Foi uma reação normal. Ela saiu correndo. Se tivesse ficado, talvez também fosse atingida. É assim mesmo. Eu teria feito a mesma coisa. Não adianta ficar chateado.
Você entendeu o que aconteceu?
Nem tentei. Não tem nenhuma explicação.
> 'Ele mirou a arma para mim e apertou o gatilho, mas não tinha bala.'
abril de 2011
> Sobreviventes. > Vítimas. > Caso do atirador de Realengo.
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