por Qantar A. Ahmed para The Christian Science Monitor
A proibição de véus islâmicos na França revela a ignorância que cerca o Islã, tanto por parte dos muçulmanos como dos não muçulmanos. A pressão exercida pelo presidente Nicolas Sarkozy para a proibição choca as elites ocidentais. Uma lei sobre a maneira de apresentar-se em público tem seguramente mais a ver com Estados draconianos, como Irã e Arábia Saudita, do que com os franceses seculares.
Será que Sarkozy está tão errado? Vi, pela primeira vez, uma mulher velada quando tinha 6 anos. Fascinada e assustada, porque nunca tinha visto nada igual, olhei para meu pai, que me explicou que aquela era uma mulher da Arábia Saudita. Era muçulmana, ele me disse, como nós.
Anos mais tarde, as mulheres veladas não chamam mais a atenção das famílias muçulmanas pluralistas. Ao contrário, numa extraordinária distorção dos costumes sociais, percebo que agora elas simbolizam todos nós, até as mulheres muçulmanas heterodoxas, assimiladas, como eu.
A proibição do niqab na França, em lugares públicos, é lógica e muitos muçulmanos, entre os quais eu me incluo, a aprovam. Por quê? As sociedades seculares, que não apenas toleram, como celebram a diversidade multicultural, foram atingidas pela neo-ortodoxia islâmica.
O dilema é mais complexo do que a ingerência do Estado. No início do período islâmico, o termo "khimar" (véu), não conotava necessariamente algo que cobrisse o rosto. No Alcorão, a referência ao khimar lembra as muçulmanas da necessidade de puxá-lo sobre o peito, como característica integrante da modéstia feminina.
Posteriormente, a cultura teológica passou a indicar tradições que afirmam que o uso do khimar, especificamente significando niqab, pode ter sido inventado. Os registros mostram que uma das mulheres de Maomé descreveu cores e tecidos dos khimars da sua época, mas não existe qualquer registro quanto à maneira de usá-los.
O vazio conveniente permitiu introduzir a própria interpretação do uso do véu, por motivos específicos, inclusive impondo a segregação do gênero, o que é estranho, considerando a ênfase do Islã na igualdade entre homens e mulheres e no profundo respeito pela justiça acima de todos os valores.
A obediência atual à interpretação literal, em grande parte entre os muçulmanos que desconhecem a própria religião, deriva da misoginia cultural, que declara, falsamente, basear-se no divino. Portanto, com a proibição, a França não fere a liberdade religiosa nem costumes culturais.
O véu moderno simboliza a divisão, articula o fosso escancarado entre Ocidente e Oriente. No passado, ele dividiu a sociedade em gêneros. Hoje, divide em termos políticos. Ele ainda oculta ideais que vão além da vestimenta ou do gênero, diminuindo uma rica filosofia ao mero tecido.
As ações dos muçulmanos reprimem o progresso e a aceitação de todos os islâmicos, qualquer que seja o alcance dos símbolos externos do Islã. Estes fiéis contribuem para uma profunda fragmentação da sociedade adotiva, influenciando a insurreição. A destruição da sociedade anfitriã é profundamente contrária aos ideais islâmicos, que exigem coesão e colaboração no mais amplo nível societário, independentemente da natureza da liderança da sociedade.
Qantar A. Ahmed é professora de medicina na New York Sate University.
A proibição de véus islâmicos na França revela a ignorância que cerca o Islã, tanto por parte dos muçulmanos como dos não muçulmanos. A pressão exercida pelo presidente Nicolas Sarkozy para a proibição choca as elites ocidentais. Uma lei sobre a maneira de apresentar-se em público tem seguramente mais a ver com Estados draconianos, como Irã e Arábia Saudita, do que com os franceses seculares.
A proibição do véu causo polêmica na França |
Anos mais tarde, as mulheres veladas não chamam mais a atenção das famílias muçulmanas pluralistas. Ao contrário, numa extraordinária distorção dos costumes sociais, percebo que agora elas simbolizam todos nós, até as mulheres muçulmanas heterodoxas, assimiladas, como eu.
A proibição do niqab na França, em lugares públicos, é lógica e muitos muçulmanos, entre os quais eu me incluo, a aprovam. Por quê? As sociedades seculares, que não apenas toleram, como celebram a diversidade multicultural, foram atingidas pela neo-ortodoxia islâmica.
O dilema é mais complexo do que a ingerência do Estado. No início do período islâmico, o termo "khimar" (véu), não conotava necessariamente algo que cobrisse o rosto. No Alcorão, a referência ao khimar lembra as muçulmanas da necessidade de puxá-lo sobre o peito, como característica integrante da modéstia feminina.
Posteriormente, a cultura teológica passou a indicar tradições que afirmam que o uso do khimar, especificamente significando niqab, pode ter sido inventado. Os registros mostram que uma das mulheres de Maomé descreveu cores e tecidos dos khimars da sua época, mas não existe qualquer registro quanto à maneira de usá-los.
O vazio conveniente permitiu introduzir a própria interpretação do uso do véu, por motivos específicos, inclusive impondo a segregação do gênero, o que é estranho, considerando a ênfase do Islã na igualdade entre homens e mulheres e no profundo respeito pela justiça acima de todos os valores.
A obediência atual à interpretação literal, em grande parte entre os muçulmanos que desconhecem a própria religião, deriva da misoginia cultural, que declara, falsamente, basear-se no divino. Portanto, com a proibição, a França não fere a liberdade religiosa nem costumes culturais.
O véu moderno simboliza a divisão, articula o fosso escancarado entre Ocidente e Oriente. No passado, ele dividiu a sociedade em gêneros. Hoje, divide em termos políticos. Ele ainda oculta ideais que vão além da vestimenta ou do gênero, diminuindo uma rica filosofia ao mero tecido.
As ações dos muçulmanos reprimem o progresso e a aceitação de todos os islâmicos, qualquer que seja o alcance dos símbolos externos do Islã. Estes fiéis contribuem para uma profunda fragmentação da sociedade adotiva, influenciando a insurreição. A destruição da sociedade anfitriã é profundamente contrária aos ideais islâmicos, que exigem coesão e colaboração no mais amplo nível societário, independentemente da natureza da liderança da sociedade.
Qantar A. Ahmed é professora de medicina na New York Sate University.
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