Quem vai à igreja é o turista |
da BBC
Vinte anos após o colapso da União Soviética, a Estônia, uma das antigas repúblicas do regime comunista, mantém praticamente intacto um traço marcante dos anos em que era dirigida por Moscou - o desinteresse pela religião.
Uma pesquisa do Instituto Gallup, de 2009, indica que os estonianos são o povo menos religioso do mundo, pelo menos estatisticamente. Apenas 16% da população considera que a religião desempenha um papel importante em suas vidas (contra 99% dos habitantes de Bangladesh, os mais religiosos).
O repórter Tom Esslemont, da BBC, foi ao país báltico conhecer a espiritualidade dos seus habitantes. Segue seu relato:
A princípio, as ruas da cidade litorânea da capital estoniana Tallinn podem até dar ao visitante uma sensação distinta: cúpulas fazem parte da paisagem, sinos tocam aos domingos e hinos religiosos são ouvidos nas catedrais.
Uma olhada mais atenta, no entanto, revela a realidade da espiritualidade estoniana. Cerca de 70 dos fiéis que participavam do culto dominical da Igreja Luterana de Tallinn eram turistas holandeses. Apenas 15 eram estonianos.
O pastor Arho Tuhkru não vê a baixa frequência como um problema: "As pessoas creem, mas não querem se ligar a uma igreja. Por aqui não temos a tradição de uma família inteira vir à igreja", disse
Embora a Igreja Luterana seja a maior denominação religiosa da Estônia, ela representa apenas 13% da população do país.
A falta de interesse pela religião começa já nas escolas, onde os alunos aprendem que o cristianismo foi imposto no país pelos invasores germânicos e dinamarqueses.
Ringo Ringvee, especialista em religião, diz que a Estônia "é uma sociedade secular onde a identidade religiosa e nacional não se cruzam".
A língua também cumpriu um papel determinante na rejeição de muitos estonianos à religião, segundo Ringvee.
"Os luteranos falavam alemão. Os russos ortodoxos chegaram no século 19 e até o século 20 continuavam falando russo", disse.
Com a fundação da Igreja Ordoxa Estoniana, em 1920, o culto passou a ser na língua local (com o ramo estoniano fiel ao patriarca de Constantinopla, e não ao de Moscou).
Nos anos 1940, a União Soviética anexou o país báltico. Até o fim do regime comunista, em 1991, a religião foi desincentivada pelo Estado.
Diferente de outros países, que experimentaram um reavivamento religioso após a desintegração soviética, a Estônia continuou pouco crente. Mas o desapego às igrejas tradicionais não significa que os estonianos não acreditem em nada.
A 300 km de Tallinn, no meio da floresta, um grupo de fiéis cultuam as forças da natureza.
"Somos pagãos", diz Aigar Piho. "Nosso deus é a natureza. Você deve parar, sentar e ouvir".
Como muitos estonianos, Piho se considera um espiritualista. Ele também é membro da comunidade Maausk, um culto pagão que venera a terra e as árvores, sem rituais pré-estabelecidos.
Durante um festival religioso, os seguidores cantam e dançam ao redor de uma grande fogueira.
Tradições como essa estão arraigadas na sociedade local, onde mais de 50% dos estonianos dizem acreditam em alguma força espiritual, mesmo que não consigam definí-la.
Para alguns pesquisadores, no entanto, as tradições não são tão antigas quanto parecem.
"Elas são geralmente baseada no folclore do século 19 e 20", segundo o arqueólogo Tonno Jonuk, especialista em religião pré-histórica.
"É algo que eles acreditam e seguem. Mas não é nada medieval ou anterior ao Cristianismo", diz.
A concepção de Jonuk não é, no entanto, compartilhada pelo grupo Maavalla Koda. A organização com 400 integrantes diz ser baseada no antigo calendário rúnico (baseado em runas).
Entre os seguidores estão Andres Heinapuu e seu filho Ott. Para ambos, espiritualidade é uma experiência intensamente pessoal.
"A árvore não tem ouvido. Eu penso na questão em frente à árvore. Então, sinto que recebo a resposta", diz. Para o estoniano, "a árvore é um sujeito, não um objeto".
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outubro de 2010
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Comentários
O Blog é massa. Parabéns!
nao vejo nenhuma vantagem nessa estatistica.
e eles ja ensinam ateismo no colegio? isso que é liberdade de pensamento em?
Charles
Concordo com o Yuri, o cristianismo foi imposto, tanto lá quanto aqui, gerando brasileiros (com algumas exceções) que infelizmente não dão mínima para a cultura indígena e para os índios que aqui estavam.
Não sou contra o cristianismo, mas sim contra o fato (histórico goste o cristão ou não) da imposição religiosa ocorrida, que em muitas vezes foi violenta, e no dano que esta imposição causou aos diversos povos e a pluralidade da cultura humana.
Parabéns pelo ao autor do blog pelo post.
Como se eu pudesse ir pra lá T.T
wishful thinking.
Estônia não é atéia, mas pagã.
Eu até apostaria que o Paganismo está mais presenre nos "países ricos" do que o ateísmo.
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