por Antonio Carlos Ribeiro para ALC
Teólogos do Círculo do Rio lançam o livro "Fé cristã e pensamento evolucionista" [R$ 38,50, Paulinas], organizado pelos professores doutores Alfonso Garcia Rubio e Joel Portella Amado, do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O grupo é composto por ex-orientandos de Rubio, padre diocesano espanhol, radicado no Brasil desde 1959.
A obra traz capítulos de teólogos e teólogas católicos e evangélicos, trabalhando temas dos diálogos da teologia da criação com o evolucionismo, defrontando-se com perspectiva fundamentalista, com destaque para a obra de Pierre Teilhard de Chardin e temas como a onipotência de Deus, que sempre provocou vivos debates teológicos.
Segundo Rubio, a proposta é um esforço para superar a tensão entre a teologia da criação e a perspectiva evolucionista, demonstrando como as duas têm proximidades. Ela leva em consideração os postulados e lida com rejeições a priori, possibilitando perceber as angústias que perpassam cientistas e teólogos.
Os autores buscam mostrar porque a perspectiva teológica fundamentalista rejeita o evolucionismo, teme aceitar a evolução e com isso perde ricas possibilidades de aprofundar a fé.
A obra revisa conceitos, retoma dados dos relatos da criação e estabelece proximidades, estabelecendo a legitimidade das perspectivas e ajuda a superar conflitos entre as visões da ciência e da fé, propondo um pluralismo epistemológico para os teólogos e o empirismo como parâmetro último.
A perspectiva pastoral guia essa proposta teológica, explica Rubio, preocupado com o empobrecimento e as limitações da radicalização que as duas perspectivas geram para uma antropologia adequada. Rejeita a setorização e integra visões que resgata percepções mais enriquecidas da condição humana.
Um risco que os cientistas ainda sofrem é o de confundir a fé em Deus tomando por base apenas uma expressão cultural, como a cultura greco-romana medieval. Quando se avança dessa perspectiva, é possível visualizar a riqueza de compromissos que esses saberes têm com o humano.
O debate sobre estética e ética na ciência e na teologia mostra que elas não devem, necessariamente, estar contrapostas, como acontece entre cientistas e teólogos, especialmente na cultura inglesa, observa o teólogo que se dedicou a estudar antropologia. Não há contradição, explica, havendo caminhos para demonstrar os fundamentos.
Ele recomenda prudência a cientistas e teólogos para se abrirem à busca e enriquecimento da outra dimensão da natureza humana e buscar ver o que esta tem a oferecer.
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Jovens acreditam mais na evolução do que em Gênesis, mostra pesquisa
abril de 2012
Evolução e criacionismo. Ciência versus religião.
Comentários
Os autores se esquecem que antes disso, os religiosos precisam lidar com a tensão existente entre as próprias religiões. Pois hás várias religiões com deuses e "revelações" conflitantes.
Em pleno século 21, escrever um livro com a pretensão de "conciliar" a fé cristã com a ciência, mostra a milenar arrogância do Cristianismo de simplesmente IGNORAR que há muitos outros credos, livros sagrados, messias, profetas, santos, milagres etc... a religião Cristão (católica-evangélica) não é a única nem a mais importante no mundo. Ela, assim como as outras religiões, só tem uma coisa a oferecer: fé. Nisso, os cristãos se esquecem, são iguais a todos os outros credos.
A explicação descrita pelos religiosos e mais fantastica que o fenomeno em si.
Quanto confrontados com a realidade os crentes se desesperam como ja disse o primeiro comentarista, Sr Gustavo.
Quais serão as "angústias que perpassam cientistas" na discussão sobre evolução? Não conheço ninguém angustiado sobre o assunto.
Muito bem dito. Ótimo.
Quando o primeiro fanático escutou essa frase, deu “Tilt“ na cabeça dele, e ele começou a achar que The Flintstones era um documentário científico. :)
Vejam esse vídeo.
http://www.youtube.com/watch?v=rTrWHjBmtlU
Rodrigo*
E, de todo modo, essa afirmação não encontra confirmação em todos os teólogos cristãos que se debruçam sobre o assunto. Basta ler o que caras como Peter Enns, por exemplo, tem a dizer. Também há muitos textos sobre o assunto disponíveis no site da fundação BioLogos, presidida pelo Francis Collins. Muitos desses caras estão perfeitamente conscientes das proximidades temáticas entre os textos de origem hebraicos e os mesopotâmicos, por exemplo. Teólogos que procuram pensar na questão seriamente não IGNORAM outras perspectivas. Simplesmente estão comprometidos com a sua própria, e não haveria como ser diferente.
Não é o primeiro livro com essa temática lançado, nem será o último. A meu ver, ele tem por objetivo propor uma discussão muito mais "intramuros", no interior da teologia cristã, do que qualquer outra coisa. Claro que, como já falei, por ser um conjunto de textos de autores diferentes, os enfoques e propostas podem mudar (daí talvez entrem as tais "angústias que perpassam cientistas", segundo eles; sei lá o que quiseram dizer com isso, e acho que nem deveria tê-lo dito).
E não, certamente a ciência não vê conflito nenhum. Essa ideia de conflito parte muito mais de dentro do cristianismo, que não é um bloco monopolítico, mas, de modo geral, apresenta como padrão a noção de que a narrativa de criação deve ser crida literalmente e etc. A questão é que existem muitos cristãos que não creem dessa forma e simplesmente querem explicar suas razões para tal. Daí livros como esse.
Por outro lado, é inegável que, da parte de muitos ateus (basta passar os olhos pelos comentários desse post), existe um esforço contínuo para, com base no evolucionismo, tentar invalidar tudo que o cristianismo se propõe a dizer (sobre origens e sobre todo o resto), como se provar que a Terra não tem 6000 anos e que espécies inteiras não apareceram em um dia de 24 horas simplesmente destruísse toda a base da fé cristã. Esse movimento parece advir da ideia de que os cristãos devem interpretar seus textos apenas de forma literal. Sim, é o que a maioria faz, ao menos com textos de criação; mas aqui está um grupo de teólogos que faz diferença. Talvez, NESSE SENTIDO, de expor propostas diferentes e não muito conhecidas tanto por cristãos quanto por ateus, o livro tenha sua importância.
(E não me parece que é dito que o livro tente encontrar fundamentação científica para a religião.)
Talvez alguém diga que foi uma linguagem que "Deus" usou pra passar uma mensagem para o homem , mais eu digo que foi uma linguagem que o homem usou pra tentar compreender aquilo que eles não fazia a menor idéia do que quer que seja sobre a vida a não ser a idéia que havia um Deus e que este um Deus fez o mundo. Portanto dai nasceu o mito da criação que até hoje muitos adultos levam isto ao pé da letra e ainda acredita ser a mensagem de um Deus que vive ocultamente perturbando a humanidade com suas idiotices e manias estranhas.
Tentar misturá-las é o mesmo que tentar misturar óleo com água.
"Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante." (I Cor. 15 - no mesmo capítulo, Pulo descreve a ressurreição e aparições físicas de Cristo)
"Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão." (I Tim. 2)
"No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir." (Rom.)
O cristianismo está, assim, intrinsecamente ligado ao mito judaico da criação (e não há como deixar de afirmar: que estranho de Deus, ter escolhido os judeus). Reconhecer o Gênesis como metafórico torna ainda mais problemática a literalidade da ressurreição e de toda a narrativa do Novo Testamento.
De que maneira escrever um livro que busca conciliar (ou, talvez, já que se trata de uma coletânea de textos de diferentes autores - e pode haver perspectivas diferentes - repensar) a visão cristã das origens com a perspectiva científica se enquadra como arrogância para com outras religiões?
Deixe-me expor minha modesta opinião. Temos de um lado uma teoria científica e do outro um conjunto de crenças religiosas. De início já é possível observar a natureza distinta desses dois elementos. O processo de formação de teorias científicas não se confunde com o processo de formação de crenças religiosas. Creio que não seja necessário explicar o porquê.
O Cristianismo é, apenas, só mais uma religião. Possui o seu Deus específico e suas crenças específicas. Mas, não é verdade que existem outras religiões com outros Deuses e outras crenças, também, específicas? Ora, levando-se em consideração a multiplicidade de Deuses e crenças religiosas diferentes por que o Cristianismo seria a religião “verdadeira”?
Parece-me arrogante que uma religião específica se apresente como detentora do Deus e das crenças “certas” relegando as outras religiões à condição de mitologia, fantasia, besteira, como se ela mesma não o fosse. Essa nítida tendência do Cristianismo de declarar-se especial perante os outros credos é algo que podemos chamar, sem sombra de dúvida, de arrogância. Mas, há mais.
Tentar conciliar o Criacionismo com a Teoria da Evolução é tarefa impossível. Talvez, eu conjecturo, o objetivo não seja essa conciliação e, sim, criar uma "Nova Ciência".
Uma vez apresentada como a única religião “verdadeira” do mundo, o Cristianismo atual passa a querer ser científico! E para isso envenena o meio científico para que a “Velha Ciência” morra e uma “Nova Ciência” surja. Uma Ciência que continue a ser útil para a humanidade, criando novas tecnologias, criando remédios e vacinas, descobrindo a curas de doenças, etc, mas que, ao mesmo tempo, confirme as suas crenças religiosas. Uma "Ciência" que descubra a cura do câncer e confirme que o homem coexistiu com os dinossauros.
Tentar atingir esse objetivo denota arrogância e desrespeito.
Comeu merda? Fumou maconha? Cheirou cocaína?
E isso vai vender... Essa ideia vai ser plantada, e a religião vai sobreviver a mais uma explosão da razão, como já sobreviveu a outros (iluminismo, rev. industrial etc). Isso aí, vamos ter que carregar essa maldição pra sempre...
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