Pular para o conteúdo principal

Vítimas de padres criticam papa por não se desculpar pelo abuso

por David Gibson
para Religion News Service

Francisco falou sobre empenho da Igreja
contra pedófilos, mas não puniu ninguém 
O Vaticano está tentando reassegurar os católicos e o público de que o papa Francisco leva a sério a crise dos abusos sexuais na esteira dos comentários defensivos feitos por ele esta semana, o primeiro grave tropeço de um papa que se aproxima do primeiro aniversário de sua eleição com índices de aprovação altíssimos.

Em entrevista publicada na quarta-feira (5) num jornal italiano, perguntou-se ao pontífice sobre o escândalo que tem abalado a fé de muitos católicos, especialmente nos Estados Unidos, e o porquê de ele não ter reagido contra as críticas sobre o histórico da Igreja.

Francisco começou reconhecendo que “os casos de abuso são terríveis porque eles deixam feridas muito profundas”, em seguida passando a elogiar as políticas sobre abusos instituídas por seu predecessor, Bento XVI, e ao mesmo tempo afirmando que a Igreja Católica “avançou bastante, talvez mais do que qualquer outra” na batalha conta o abuso sexual de crianças.

“A Igreja Católica talvez seja a única instituição pública que se movimenta com transparência e responsabilidade”, continuou o papa, argumentando que a maioria dos abusos ocorre em ambientes familiares ou na vizinhança. “Ninguém tem feito mais. No entanto, a Igreja é a única a ser atacada”.

Isso provocou uma enxurrada de críticas por parte dos defensores das vítimas e outros que fizeram notar que Francisco não se desculpou pelos abusos, não disciplinou bispos que encobriram abusadores e ainda não se encontrou com nenhuma das vítimas nem nomeou quaisquer membros para uma comissão que ele prometeu há três meses criar.

“Os comentários dele refletem uma mentalidade arcaica, defensiva”, disse Barbara Dorris da Rede de Sobreviventes dos Abusados por Sacerdotes (SNAP, na sigla em inglês).

“Ele é triunfalista sobre o abuso infantil por parte do clero mudo quanto à cumplicidade dos bispos”, afirmou Terence McKiernan, presidente da organização americana Bishop Accountability.

“Ouvir o papa usar a desculpa de que abusos ocorrem em outros lugares é realmente desanimador”, disse o grupo pró-reforma com sede nos EUA Voice of the Faithful [A voz dos fiéis], ecoando o senso de frustração entre muitos católicos que esperavam que as promessas e ações para reformar a Igreja, nos variados níveis, incluiriam um exame de consciência sobre o abuso praticado por sacerdotes.

Um estudo conduzido pelo centro de pesquisas Pew, envolvendo católicos americanos no ano passado, mostrou que 70% achavam que abordar a questão dos abusos deveria estar no topo das prioridades do novo papa, mas num relatório publicado esta semana somente 54% deu notas altas para Francisco quanto a este aspecto.

Autoridades vaticanas parecem estar conscientes do perigo que a crise representa para o papa. O porta-voz do líder religioso, reverendo Federico Lombardi, enviou um email para a agência noticiosa Associated Press dizendo que se está demorando para estabelecer a comissão sobre abusos em parte porque o pontífice está ocupado com outras reformas. Mas disse que especialistas foram contatados para verificarem quanto à disponibilidade e que este assunto permanece uma prioridade.

“Estou esperando pela [comissão]”, escreveu Lombardi. “Eu espero que ela também seja capaz de propor ao papa iniciativas adaptadas para dar um impulso verdadeiro na Igreja visando a proteção dos menores”.

Referindo-se aparentemente ao relatório da ONU publicado no mês passado, e que foi duramente crítico sobre o histórico do Vaticano quanto aos abusos sexuais – mas que em si foi muito amplamente criticado por afirmações exageradas e por ultrapassar seu escopo –, Lombardi disse que o papa estava querendo dizer os esforços do Vaticano “não foram reconhecidos objetivamente”.

“Ao mesmo tempo”, acrescentou o porta-voz, “é claro que ainda há uma tarefa imensa a se fazer quanto ao passado, ao presente e ao futuro. O papa sabe muito bem disso”.

Alguns críticos mantêm a esperança de que o Papa Francisco venha a agir logo e que o período penitencial da Quaresma possa servir de estímulo.

Na quinta-feira (06-03-2014) os editores do National Catholic Reporter escreveram uma carta aberta ao papa lembrando que ele cativou o público logo após sua eleição, quando quebrou com a tradição ao ir a um centro de detenção de jovens para um ritual de Quinta-Feira Santa antes da Páscoa, na qual lavou os pés de uma dúzia de jovens, incluindo mulheres e um muçulmano.

“Nós lhe imploramos que traga a atenção do mundo, nesta Quinta-Feira Santa, para as vítimas de abusos sexuais cometidos por sacerdotes. Ouça suas histórias. Lave seus pés”.

Com tradução de Isaque Gomes Correa.





Papas praticavam pedofilia desde o Renascimento, diz livro
agosto de 2012

Casos de padre pedófilo


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Líder religioso confirma que atirador foi da Testemunhas de Jeová

O superintendente do Circuito Rio de Janeiro-07 da Testemunhas de Jeová, Antônio Marcos Oliveira, confirmou ao UOL que Wellington Menezes de Oliveira, o atirador do Realengo, frequentou um templo da religião na Zona Oeste da cidade. Casa do atirador tinha publicações da TJs O líder religioso procurou minimizar esse fato ao ressaltar que Wellington foi seguidor da crença apenas no início de sua adolescência. Ele não disse até que ano Wellington foi um devoto. Na casa do atirador, a polícia encontrou várias publicações editadas pela religião. (foto) Essa foi a primeira manifestação da TJs desde que Wellington invadiu no dia 7 de abril uma escola e matou 12 estudantes e ferindo outros. Oliveira fez as declarações em resposta a um ex-TJ (e suposto amigo do atirador) ouvido pelo UOL. Segundo esse ex-fiel, Wellington se manteve na religião até 2008. Por essa versão, Wellington, que estava com 23 anos, permaneceu na crença até os 20 anos. Ou seja, já era adulto, e não um pré-ad

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Jornalista defende liberdade de expressão de clérigo e skinhead

Título original: Uma questão de hombridade por Hélio Schwartsman para Folha "Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos"  Disputas eleitorais parecem roubar a hombridade dos candidatos. Se Fernando Haddad e José Serra fossem um pouco mais destemidos e não tivessem transformado a busca por munição contra o adversário em prioridade absoluta de suas campanhas, estariam ambos defendendo a necessidade do kit anti-homofobia, como aliás fizeram quando estavam longe dos holofotes sufragísticos, desempenhando funções executivas. Não é preciso ter o dom de ler pensamentos para concluir que, nessa matéria, ambos os candidatos e seus respectivos partidos têm posições muito mais próximas um do outro do que da do pastor Silas Malafaia ou qualquer outra liderança religiosa. Não digo isso por ter aderido à onda do politicamente correto. Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos. Acredito que clérigos e skinheads devem ser l

Valdemiro pede 10% do salário que os fiéis gostariam de ter

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Maioria jamais será ateia nem fiel da Iurd, diz padre Marcelo

Para Rossi, Deus não reconhece casal de gays como família O jornal Correio da Manhã, de Portugal, perguntou ao padre Marcelo Rossi (foto): - O que o assustaria mais: um Brasil que deixasse de crer em Deus ou um Brasil crente em que a Iurd fosse maioritária? A resposta foi enfática: - Não acredito que isso possa acontecer. Nunca. O Brasil não vai deixar que isso aconteça. Rossi foi evasivo ao responder se está ou não preocupado com o avanço no Brasil dos evangélicos protestantes. “Há igrejas e igrejas”, disse. “Uma coisa são as igrejas tradicionais evangélicas e outra são as seitas.” O padre foi entrevistado por Leonardo Ralha a propósito do lançamento em Portugal do seu livro 'Ágape'. Ele disse ter ficado surpreso com das vendas do livro no Brasil – mais de sete milhões de exemplares, contra a expectativa dele de um milhão. Atribuiu o sucesso do livro à sua tentativa de mostrar às pessoas um resumo dos dez mandamentos: “amar a Deus sobre todas as