No Observatório da Imprensa, versão radiofônica, o jornalista Alberto Dines defendeu Renato Janine:
Junto com o debate sobre crimes e impunidade iniciado há mais de um mês, em seguida à morte do menino João Hélio, há uma outra discussão, menos perceptível, porém mais profunda e que talvez seja capaz de alterar drasticamente certos comportamentos da elite brasileira.
Trata-se da reação irracional contra o artigo escrito na Folha de S.Paulo pelo filósofo Renato Janine Ribeiro, no domingo de Carnaval. O professor Janine, esteve na terça-feira (27/2) em nosso programa de TV e no domingo (4/3), no mesmo jornal [ver abaixo], continuou a se defender do linchamento moral a que foi submetido. "Pago um preço por ter dito o que, no fundo, muitos sentiram."
Mas o que foi que Janine sentiu e escreveu? Que o assassinato do menino foi um crime contra a humanidade e que diante desta barbaridade ele chegou a desejar a morte dos criminosos. Foi sincero, mas a hipocrisia coletiva abomina os rasgos de sinceridade, prefere os tabus politicamente corretos.
Janine não propôs coisa alguma. Como filósofo, filosofou. Sentiu, sofreu e externou o seu horror. É isso que a sociedade espera de um pensador: que seja capaz de pensar, pensar em público, livremente, sem constrangimentos.
Pensar não faz mal, o que faz mal é repetir automaticamente, de forma impensada, chavões e palavras de ordem. Temos que encarar estas crueldades, perceber a sua terrível dimensão. O assassinato dos três ativistas franceses de direitos humanos por um ex-menino de rua por eles recuperado derruba um monte de doutrinas e nos coloca diante de uma realidade inescapável: alguma coisa está errada no âmago da sociedade brasileira e não será o PAC que poderá consertá-la.
Um recurso mais rápido, menos dispendioso e muito mais humano, pode ser a disposição de pensar. A imprensa foi inventada justamente para fazer pensar e não para calar o pensamento.
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