O presidente Lula tem percorrido o mundo a anunciar a excelência do álcool da cana, combustível politicamente correto, porque não polui, além de ter um custo abaixo de outros biocombustíveis, como o etanol do milho produzido nos Estados Unidos.
Lula não diz que o álcool brasileiro só tem um preço competitivo no mercado internacional porque os trabalhadores da cana-de-açúcar ganham uma miséria e são submetidos a condições desumanas. Uma vergonha.
Na Folha de hoje, a professora Maria Aparecida de Moraes Silva, da Unesp e Universidade de Paris 1 (França), escreve sobre esses trabalhadores, que sempre foram a escória da escória. Destaco alguns pontos levantados pela professora.
> Eles têm vida útil de 15 anos – menos do que os escravos da época do Brasil colônia.
> São jovens entre 16 e 35 anos.
> Longe de mulher e filhos, ficam confinados em barracos nas fazendas cerca de oito meses por ano.
> No Estado de São Paulo, a maioria de um contingente de 200 mil é constituída por migrantes do Nordeste e do norte de Minas.
> Para não serem suspensos ou demitidos, têm de cortar cerca de dez toneladas de cana por dia. Para cada tonelada, desferem em média mil golpes de facão.
> São vítimas de sudorese em conseqüência das altas temperaturas e do excessivo esforço e de dores causadas por câimbras. Sofrem de desgaste na coluna vertebral, tendinite nos braços e mãos, de doenças nas vias respiratórias por causa da fuligem da cansa, de deformações nos pés em decorrência do uso de “sapatões” e de lesões nas cordas vocais por causa da postura curvada do pescoço na longa jornada de trabalho.
> Entre 2004 a 2007, só na microrregião de Ribeirão Preto, houve 21 mortes de cortadores de cana por um suposto excesso de esforço no trabalho. O Ministério do Trabalho está investigando.
> Ganham R$ 2,5 por tonelada, dinheiro insuficiente para suas despesas.
O presidente já disse que os produtores de cana são uns “heróis”, mas, embora tenha sido um trabalhador metalúrgico, em momento algum foi veemente em cobrar dos empresários do setor condições dignas de trabalho aos cortadores de cana.
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