Pular para o conteúdo principal

Por que as mulheres ficam embriagadas com menos bebida

DRAUZIO VARELLA

Quando eu era pequeno, botequins eram lugares muito frequentados, mas mal afamados. Meu pai se orgulhava de jamais haver posto os pés num deles, proeza da qual o filho não pode se gabar.

Naquele tempo, o homem de verdade pedia uma pinga no balcão e tomava de um gole só, sem cara feia. A menos que afeitas a gracejos, as mulheres mudavam de calçada para desviar dos bares. Os tempos felizmente são outros: elas entram onde bem entendem, não hesitam em dar o troco ao primeiro insolente e bebem o que lhes dá na cabeça.

Apesar do empenho feminino em busca da igualdade, por um capricho da natureza, o metabolismo do álcool nas mulheres não é, nem jamais será igual ao nosso. Se administrarmos para mulheres e homens a mesma dose, ajustada de acordo com os índices de massa corpórea, elas fatalmente apresentarão níveis sanguíneos mais elevados.

Nelas, a fragilidade aos efeitos embriagadores é justificada pela maior proporção de tecido gorduroso, por variações na absorção do álcool no decorrer do ciclo menstrual e porque a concentração gástrica da desidrogenase alcoólica (enzima essencial para a decomposição do álcool) é mais baixa do que nos homens.

Esses mecanismos explicam porque ficam embriagadas com doses mais baixas e progridem mais rapidamente para o alcoolismo crônico e seu cortejo de complicações.
 
O efeito de uma cerveja no corpo feminino equivale ao de duas tomadas por um homem de mesmo peso.
Para os mesmos níveis de ingestão, o risco de cirrose nas mulheres é três vezes maior. As que tomam de 28 a 41 drinques por semana (1 drinque = 150 ml de vinho = 1 lata de cerveja = 45 ml de bebida destilada) apresentam risco de cirrose 16 vezes maior do que o dos homens abstêmios.

A avaliação dos questionários aplicados durante anos consecutivos em dezenas de milhares de mulheres acompanhadas no célebre "Nurses" Health Study", revelou que tomar dois ou três drinques diários aumenta em 40% o risco de surgir hipertensão arterial, bem como o de derrame cerebral hemorrágico.

Uma análise de seis estudos (metanálise) demonstrou que as mulheres habituadas a ingerir de dois e meio a cinco drinques por dia, apresentam probabilidade 40% maior de desenvolver câncer de mama.

O uso continuado de álcool reduz a densidade da massa óssea em ambos os sexos, mas a probabilidade de provocar osteoporose é maior no feminino. Estudos demonstram que a maior parte das mulheres bebe como forma de livrar-se das angústias associadas aos quadros depressivos. A prevalência de depressão nas que abusam de álcool é de 30 a 40%. Talvez por essa razão, tentem o suicídio quatro vezes mais do que as abstêmias.
 
A bebida pode causar problemas ao feto. A ingestão de álcool durante a gestação eventualmente provoca distúrbios fetais que vão do retardo de desenvolvimento, à chamada síndrome alcoólica fetal.
Não há nenhum estudo que assegure existir na gravidez uma quantidade de álcool segura. É imprevisível: bebês de mães que beberam a gestação inteira podem nascer normais, enquanto os de outras que o fizeram ocasionalmente podem apresentar malformações congênitas.

Na dúvida, recomenda-se que a gestante não beba, afinal são apenas nove meses.
 
Alguns trabalhos sugerem, no entanto, que beber pouco e regularmente é menos grave para o feto do que beber muito de uma só vez: tomar um copo de vinho por dia, durante cinco dias, traz menos riscos do que tomar os cinco numa única ocasião. Ao contrário do que se pensava, os efeitos nocivos do álcool não se fazem sentir apenas no primeiro trimestre, período crucial para o desenvolvimento embrionário. Um estudo norte-americano mostrou que o abuso de bebida durante o segundo trimestre está associado à dificuldade dos filhos para aprender a ler e a escrever.

A complicação mais grave, porém, é a síndrome alcoólica fetal, distúrbio que pode surgir em 50% das gestantes que ingeriram álcool. O diagnóstico é baseado nos seguintes critérios: redução do tamanho do feto (abaixo de 10% do esperado), alterações faciais típicas e distúrbios neurológicos.

Você, leitora que resistiu até aqui, não adianta ficar com ódio de mim. Caso não esteja grávida, a mulher pode beber, mas pouco, talvez um ou dois drinques por vez. Como a carne é frágil, se você exagerar neste sábado, dê um tempo amanhã, depois e mais alguns dias. Contrariar a natureza é guerra perdida.



Comentários

Morena Flor disse…
Xiiiiii...

Malzaê, Drauzio, mas conheço mulher q bebe todas e não cai fácil... E como conheço, hehehehe

Isso é bem relativo, a realidade demonstra isso muito bem... É, a natureza humana sempre desmontando teses, até mesmo algumas das formuladas pelos cientistas.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Estado laico coloca a religião na esfera privada e impede que ela seja usada pelo governo

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Pai de vocalista dos Mamonas processa Feliciano por dizer que morte foi por ordem de Deus

Padre acusa ateus de defenderem com 'beligerância' a teoria da evolução

Malafaia diz ter só R$ 6 milhões e que vai ‘ferrar’ a Forbes

Revista avaliou o patrimônio do pastor em R$ 300 milhões O pastor Silas Malafaia (foto), da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, disse ter um patrimônio avaliado em R$ 6 milhões e que, por isso, vai “ferrar” a revista Forbes por ter publicado que a fortuna dele está avaliada em R$ 300 milhões (US$ 150 milhões). "Vou ferrar esses caras (da Forbes)", disse ele à Folha de S.Paulo, referindo-se a sua intenção de mover uma ação contra a revista americana. "Vivo de renda voluntária, e eles me prejudicaram. [O fiel] vê aquilo e pensa, 'ih, não vou [dar o dízimo], tá me roubando." A revista estimou que Malafaia é o terceiro mais rico pastor do Brasil, ficando abaixo de Edir Macedo (com fortuna de R$ 1,9 bilhão), da Universal, e Valdemiro Santiago (R$ 440 milhões), da Mundial. Em quarto lugar está R.R. Soares (R$ 250 milhões), da Igreja Internacional da Graça, e em quinto, Estevam Hernandes Filho (R$ 130 milhões), da Renascer. Forbes informou que sua estima...

Liminar derruba pai-nosso em escolas de Rio Preto. Vitória do Estado laico

Estudo aponta que homofóbicos são homossexuais enrustidos

O que houve com as entidades de defesa do Estado laico? Evaporou pelo Bule de Russell?

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Cristianismo é a religião que mais perseguiu o conhecimento científico

Cristãos foram os inventores da queima de livros LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião As epidemias e pandemias durante milhares de anos antes do cristianismo tiveram as mais estapafúrdias explicações dos deuses. Algumas mentes brilhantes da antiguidade, tais como Imhotep (2686-2613 a.C.) e Hipócrates (460-377 a.C.) tentaram passar explicações científicas para as massas de fanáticos religiosos, ignorantes, bestas humanas. Com a chegada ao mundo das feras cristãs, mergulhamos numa era de 2000 anos de trevas e ignorância. Os cristãos foram os inventores da queima de livros e bibliotecas. O cristianismo foi a religião que mais perseguiu o conhecimento científico e os cientistas. O Serapeu foi destruído em 342 d.C. por ordem de um bispo cristão de Alexandria, sob a proteção de Teodósio I.  Morte de Hipatia de Alexandrina em ilustração de um livro do século 19 A grande cientista Hipátia de Alexandria (351/370) foi despida em praça pública e dilacerada viva pelas feras e bestas imundas cristãs...