Título original: A coisa que engatinha pela casa
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Na Escandinávia casal resolveu manter em segredo o sexo de seu filho (a) |
Na realidade, o marxismo está durando uns cinco minutos a mais, agora na sua versão "anões bolivarianos e suas mulheres barbadas", que tem na figura do presidente hondurenho Zelaya a última tentativa de ampliar a trupe. Vale salientar que golpe de Estado (que tirou Zelaya do poder) é coisa feia (as oligarquias latino-americanas não são fáceis de engolir mesmo), mas ficar no poder pra sempre fazendo uso da versão tirânica da democracia ("el deseo del pueblo") é tão feio quanto.
Por falar em "circo", imagino o que os outros anões bolivarianos devem estar pensando agora, depois da vitória do Lugo (presidente do Paraguai) em cima do Brasil: "Pode ir pra cima do Brasil porque ele é um gigante frouxo".
O besteirol dos anos 60 pra cá aumentou muito, e agora muita gente acha que a verdadeira revolução está na posição sexual que você gosta na hora de transar. Claro, quase esqueci que a revolução também passa pelo tipo de animal que lhe apetece na cama. Não pensem que eu teria qualquer preconceito contra os seres humanos que "amam cães".
Ouvi dizer que, na Escandinávia (como sempre digo, desconfie de países onde a vida deu certo), um casal (ou algo parecido com o que se costumava chamar "homem e mulher") resolveu manter em segredo a identidade sexual da pequena coisa que engatinha pela casa (antes chamado de "filha ou filho") para que esta pequena coisa que engatinha pela casa possa "escolher seu gênero" quando crescer. Aliás, "gênero", na sua versão mais radical, significa que a humanidade não está divida na "díade macho-fêmea", mas sim que esta díade é construção ideológica.
Tal díade seria uma invenção, é claro, a serviço da opressão patriarcal por parte dos homens heterossexuais -acho que, nesse caso, as sacerdotisas de gênero incluem os negros e os índios heterossexuais como "bad guys". Há uma versão razoável dessa coisa de gênero que é iluminar os fatores culturais que compõem as identidades sexuais, mas estamos muito além do razoável aqui.
Imagine se o Estado desses países onde a vida deu certo resolver transformar a ideia idiota deste casal em lei e proibir aquilo que se chamava "pai e mãe" de dar carrinhos ou bonecas para aquilo que se chamava "filhos e filhas"? Já ouço os gritos das fascistas de gênero: cem chicotadas pra quem chamar aquilo que se chamava "filha" de "minha princesa"! Duzentas pra quem vibrar quando aquilo que se chamava "filho" transar pela primeira vez com aquilo que se chamava "mulher"! Já vejo a assistente social (ou seria "o assistente social"? Meu Deus, em qual letra deste texto estará escondida minha monstruosa limitação ideológica?) entrar nas casas investigando "os aspectos ideológicos" escondidos na cor da parede do quarto daquilo que se chamava de "filho ou filha" ou nos termos carinhosos utilizados por aquilo que se chamava "pai e mãe" para com sua pequena coisa que engatinha pela casa. É claro que os especialistas na "liberdade de gênero" produzirão alguma cartilha que será distribuída pelo Estado do país onde a vida deu certo.
O que viria nestas cartilhas? Sei lá, coisas brilhantes como quais brinquedos são ideologicamente seguros para serem dados para essas pequenas coisas que engatinham pela casa, quais palavras são "limpas" em termos de "liberdade de gênero" para serem usadas no café da manhã, quais historinhas seriam corretas para serem contadas na hora de dormir (neste caso específico, alguma onde aquilo que se chamava "mulher" engravida aquilo que se chamava "homem") ou quais sonhos seriam saudáveis de se ter na primeira infância.
Tudo bem, caras irmãs, alguns preconceitos são mesmo abomináveis. A teoria de gênero não é um absurdo em si, mas seu surgimento está misturado com o combate feminista, e sua militância é tão "científica" quanto a defesa de milagres pela igreja. Devemos, sim, combater a discriminação. Mas um besteirol como este de que a sexualidade seja "construída" pela ideologia, sem o aporte biológico, é tão idiota quanto achar que, se um dia um cometa bater na Terra, será por preconceito ideológico do universo contra nós.
novembro de 2010
novembro de 2010
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