Agnosticismo com dúvida é melhor que o ateísmo radical |
por Marcelo Gleiser
para Folha de S.Paulo
Por exemplo, o mito da supremacia ariana propagado por Hitler teve consequências trágicas para milhões de judeus, ciganos e outros. O mito que funciona tem alto poder de sedução, apelando para medos e fraquezas, oferecendo soluções, prometendo desenlaces alternativos aos dramas que nos afligem diariamente.
A fé num determinado mito reflete a paixão com que a pessoa se apega a ele. No Rio, quem acredita em Nossa Senhora de Fátima sobe ajoelhado centenas de degraus em direção à igreja da santa e chega ao topo com os joelhos sangrando, mas com um sorriso estampado no rosto.
As peregrinações religiosas movimentam bilhões de pessoas por todo o mundo. É tolo desprezar essa força com o sarcasmo do cético. Querendo trazer a ciência para um número maior de pessoas, eu me questiono muito sobre isso.
Como escrevi antes neste espaço, os que creem veem o avanço científico com uma ambiguidade surpreendente: de um lado, condenam a ciência como sendo materialista, cética e destruidora da fé das pessoas. "Ah, esses cientistas são uns chatos, não acreditam em Deus, duendes, ETs, nada!"
De outro, tomam antibióticos, voam em aviões, usam seus celulares e GPSs e assistem às suas TVs digitais. Existe uma descontinuidade gritante entre os usos da ciência e de suas aplicações tecnológicas e a percepção de suas implicações culturais e mesmo religiosas. Como resolver esse dilema?
A solução não é simples. Decretar guerra à fé, como andam fazendo alguns ateus mais radicais, como Richard Dawkins, não me parece uma estratégia viável. Pelo contrário, vejo essa polarização como um péssimo instrumento diplomático.
Como Dawkins corretamente afirmou, os extremistas religiosos nunca mudarão de opinião, enquanto um cientista, diante de evidência convincente, é forçado eticamente a fazê-lo. Talvez essa seja a distinção mais essencial entre ciência e religião: o ver para crer da ciência versus o crer para ver da religião.
Aplicando esse critério à existência de entidades sobrenaturais, fica claro que o ateísmo é radical demais; melhor optar pelo agnosticismo, que dúvida, mas não nega categoricamente o que não sabe.
Carl Sagan famosamente disse que a ausência de evidência não é evidência de ausência. Mesmo que estivesse se referindo à existência de ETs inteligentes, podemos usar o mesmo raciocínio para a existência de divindades: não vejo evidência delas, mas não posso descartar sua existência por completo, por mais que duvide dela. Essa coexistência do existir e do não-existir é incômoda tanto para os céticos quanto para os crentes. Mas talvez seja inevitável.
A ciência caminha por meio do acúmulo de observações e provas concretas, replicáveis por grupos diferentes. A experiência religiosa é individual e subjetiva, mesmo que, às vezes, seja induzida em rituais públicos.
Como escreveu o psicólogo americano William James, a verdadeira experiência religiosa é espiritual e não depende de dogmas. Apesar de o natural e o sobrenatural serem irreconciliáveis, é possível ser uma pessoa espiritualizada e cética.
Einstein dizia que a busca pelo conhecimento científico é, em essência, religiosa. Essa religião é bem diferente da dos ortodoxos, mas nos remete ao mesmo lugar, o cosmo de onde viemos, seja lá qual o nome que lhe damos.
Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "Criação Imperfeita"
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Comentários
Ateu = A (negação) + teu (deus). O ateu não acredita em Deus. O que acredita em Deus mas não acredita em religião pode ser agnóstico ou espiritualista (não tem anda a ver com espírita). Além do mais existem muitos cientistas que chegaram num ponto da pesquisa e passaram a acreditar em Deus, mas não necessariamente em alguma religião. A pesquisa deles, para eles, é prova suficiente de que existe algo maior que eles. Problema é que muita gente desacredita de deus por não acreditar em religiões (que estão deturpadas demais hoje em dia em relação com suas raízes).
Na minha opinião, todos acreditamos em algo maior e esse algo maior é o que pode ser chamado de Deus. Seja as leis da natureza, seja o Antônio Fagundes, seja o barbudão no trono, seja a aleatoriedade e a coincidência ou seja lá o que for. Se você acredita que a aleatoriedade foi daonde saiu tudo, isso é a entidade maior, é Deus. Claro, você não vai sair rezando pedindo coisas pra ela (Deus garçom) ou agradecendo nem nada, apenas reconhecer isso já é de grande valia na vida.
Também acredito que o universo e as leis naturais (física, química etc) são expressões de Deus, seja lá como ele for. Não gosto de definir ele mesmo, pois nossa mente é muito limitada para querer definir algo tão grande, qualquer definição o limitaria. Então prefiro definir apenas as expressões dele (que já coisa pra caramba, tudo).
Enfim, o pior é a intolerância, cada tem o direito de ser o que quiser. Isso só vai mudar a nossa vida, não vai mudar nada da verdade, seja ela qual for. Como Sócrates disse "Só sei que nada sei.", seria muita petulância da minha parte querer forçar minhas idéias na cabeça de qualquer um, posso expô-las, cabe cada um bota-las na balança e decidir em que acreditar.
E lembrem-se, um ateu fanático pode ser tão chato e desrespeitoso ou mais quanto um religioso fanático.
Além disso, sem evidência, sem crença. Não, eu não vou considerar a hipótese de um deus até que apareça uma evidência convincente a favor de tal hipótese.
Se ser agnóstico é o melhor caminho, então devemos ser agnósticos ao Bule de Chá de Russel, ou seja, temos que admitir que talvez, quem sabe, ele exista, mas não é possível afirmar tal coisa. Isso é lógico, Gleiser? Não, acho que não...
O problema, creio eu, é que agnosticismo significa, para muita gente, "ficar em cima do muro". E pouquíssimas pessoas são capazes de viver assim. A maioria precisa de certezas para seguir em frente, sejam quais forem.
"(...)a verdadeira experiência religiosa (religar o quê ou quem com quem ou com o quê?) é espiritual (redundante!) e não depende de dogmas"
"Apesar de o natural e o sobrenatural serem irreconciliáveis (descobriu o Brasil!), é possível ser uma pessoa espiritualizada e cética" (!!!???)
É possível ser crente e descrente?
O sobrenatural, para mim, é o natural ainda inexplicado. Ou então, é simplesmente pura mentira e ilusão (não existe de fato).
Mas o que ele quer dizer com pessoa "espiritualizada"?
Bacana? Boazinha? Sábia? Espertinha? Caridosa? Solidária? Antenada? Ligada? Sensível? Empática? Trabalhadora? Empenhada? Tranqüila? Ponderada? Amiga? Presente? Religiosa?!
A sugestão do autor para o ateu "ser" agnóstico é opção retórica, não de fé. Ser agnóstico ou ser ateu é acreditar em coisas diferentes. Cada um no seu quadrado!
Concordo que o ateu extremista (ou ignorante) pode atrapalhar o diálogo tanto quanto o seu oposto religioso.
Também creio que seja imprescindível a tolerância mútua, de parte a parte, sem a qual não há diálogo honesto.
Como alguém já comentou, nossa crença (teísta ou ateísta) não muda nada o curso da vida.
Vamos continuar a nos reproduzirmos, a crescermos e vivermos do mesmo jeito, grosso-modo falando (não vou entrar no mérito de comparar a qualidade de vida entre os grupos com predominância de ateus e a dos que tem predominância de teístas).
A educação formal e o refinamento cultural podem ajudar a diminuir a altura desse muro.
Eu penso da seguinte forma: analiso a religião, o "DEUS", e se encontrar uma contradição se quer, ele deixa de ser o todo poderoso, onisciente e onipotente, perdendo seu valor pra mim não tem valor algum. Um exemplo é a questao das incorporações de espírito no candomblé (as entidades), no dia que Exu tomer conta do meu corpo, mim converto ao candoblé e passo a fazer todos os rituais.
Até hoje nenhuma religião conseguiu passar por esse controle de qualidade, por isso sou Ateu e não vejo sentido em ser agnóstico. Pra mim o agnóstico tem preguiça de refletir e prefere se esquivar da questão religiosa.
Sou contra fanatismo de qualquer tipo.
Apesar de ser batizada como disse antes, não falo de ter religião, já que não acredito em nada disso apenas na existencia do proprio ser humano e na sua capacidade como existente.
Também não digo que não acredito em algum ser superior.
Apenas não acredito no que os religiosos afirmam com tanta convicção.
Já que não se tem provas suficientes da existenci ou não de algum ser supremo.
E na minha outra opiniao ser Ateu pode ser melhor já que não fingem estar em dúvida sobre algum que não podemos afirmam na certeza.
E também não afirmo que o que eu disse acima pode ser verdade ou não já que todos sabem que na internet todos podemos mentir no livre arbitrio.
Um cientista de verdade nao 'opta', simplesmente cre ou nao baseado em evidencias.
Prefiro usar as definições que vi no livro Ateísmo e Liberdade, de André Cancian:
Pode haver ateísmo implícito, que pode ser natural (aqueles que nunca ouviram ou são incapazes de se posicionar a respeito de deuses) ou prático (aqueles que conhecem a ideia de deuses mas não se preocupam em negá-la por achar que é inútil tentar provar);
E pode haver o ateísmo explícito, que pode ser negativo ou cético (não aceita a idéia pela ausência de evidências) ou positivo ou crítico (a negação absoluta da idéia).
Então o que aqui se está denominando "ateu" na verdade é a vertente Explícita Crítica da idéia, e o Gleiser estaria na categoria de Ateu Implícito Prático, onde ficam os que se denominam agnósticos. Mas certamente ele pensou e pensa a respeito do assunto, então eu diria que se enquadraria melhor como Ateu Explícito Cético, que por acaso é onde me coloco também.
{}Fatbear
Acontece que Gödel já provou que existem verdades não prováveis.
Para mim não dá pra ficar em cima do muro felicidade/infelicidade, verdade/mentira, realidade/ilusão.
Crente radical = quer que todos acreditem no que ele acredita, e que os opositores sejam eliminados.
O ateísmo negativo ou cético é a descrença na existência de deus(es) devido à ausência de evidências em seu favor.
O ateísmo positivo ou crítico é a variedade mais difícil de ser defendida, pois é uma descrença que envolve a negação da possibilidade de existência de um deus.
Além disso, provar negações universais, por motivos lógicos, é algo extremamente difícil, e alegremente certos teístas usam isso para afirmar que ninguém é capaz de provar a inexistência de Deus. À primeira vista, isso parece razoável, e seria suficiente para empatar os placares. Mas, com um pouco de pensamento crítico, logo se percebe a incoerência: não podemos provar a inexistência de praticamente qualquer coisa. Para deixar a ideia clara, só precisamos de algum tempo livre para dar asas à nossa imaginação. Por exemplo, formulemos algumas hipóteses bizarras:
1) Nosso universo, na verdade, é um aquário espacial feito por alienígenas que estão brincando de cultivar seres humanos.
2) Existem cogumelos imateriais que vivem numa dimensão paralela, os quais estão nos vigiando constantemente, apesar de não podermos detectá-los.
3) A verdadeira divindade, que criou o mundo e os homens, é Zeus, com a ajuda de Apolo e Dionísio. Eles e inumeráveis outros deuses estão todos no Olimpo nos observando.
4) O planeta em que vivemos é um elétron; o Sol é um conjunto de prótons e nêutrons; nosso sistema planetário como um todo é um átomo de flúor gigantesco. Os físicos modernos discordam de tal afirmação, mas isso acontece porque o homem ainda não possui tecnologia suficiente para observar e analisar a realidade de modo preciso.
5) O universo só parece mecânico e impessoal; na verdade, o mundo em que vivemos é autoconsciente.
6) Há uma civilização pacífica que habita o núcleo do Sol; ela se protege do calor através de um sistema hipertecnológico que nos é inconcebível; nela vivem milhões de unicórnios, centauros e minotauros em um grau de desenvolvimento muito superior ao nosso.
7) Há um grande dragão alado vermelho cuspidor de fogo em meu quarto; contudo, toda vez que alguém tenta observar ou confirmar sua existência, este desaparece imediatamente de modo misterioso.
Então perguntemos: como alguém seria capaz de refutar tais hipóteses? Não temos qualquer motivo para julgá-las verdadeiras, mas, mesmo assim, não temos como provar que são definitivamente falsas. É esse o problema das negações universais.
Por exemplo, no caso da sexta hipótese, o único modo de provar que tais seres não existem seria ir até o núcleo do Sol e olhar se estão lá ou não, mas isso não é realmente uma boa ideia, pois frequentar locais que estão a milhões de graus Celsius é relativamente perigoso. Isso significa que não podemos provar a inexistência dessa tal civilização helionuclear. Entretanto, faz algum sentido declarar que essa impossibilidade serve como uma evidência de sua existência? Definitivamente, não. Ademais, o fato de alguém acreditar piamente em tal hipótese é irrelevante à sua veracidade.
Vale a pena fazermos, aqui, um breve comentário sobre a posição denominada agnosticismo. Equivocadamente, costuma-se pensar que esta jaz no limiar da dúvida entre o teísmo e o ateísmo; na verdade, o agnosticismo é independente da questão da crença/descrença em um deus. Tal visão diz respeito somente à impossibilidade de a mente humana conceber, compreender ou julgar alguns tipos de questões, afirmando que tais assuntos estão além do escopo da racionalidade humana, sendo, portanto, impossível formular sobre eles qualquer juízo seguro.
TECNICAMENTE, nada pode se AFIRMAR.
Entretanto, seria tão irrelevante possibilitarmos à existência de coisas inverficáveis, assim como; deus, duendes, monstro do lago ness etc...
Dentro da lógica informal, afirmo que toda humanidade compartilha de um agnosticismo, onde que não há evidências racionais contra e nem à favor que comprova a ALEGAÇÃO do suposto deus. Porém, os ateus existem pelo POSICIONAMENTO LEGÍTIMO em contestar que DEUS NÃO PASSOU de uma idéia inverificável.
Se deus está além do físico (metafísico), quem nos garante que os defensores dessa idéia, estão apenas precipitando uma idéia imaginária pela falta de dados suficientes?
Ateismo não é poesia, não é filosofia, não é ideologia, nem teoria e muito menos tecnologia, rs. É apenas a constatação do óbvio.
Ateísmo é a opção daqueles que demandam boas razões para acreditar e que ainda não recebeu nenhuma razão satisfatíria. Agnosticismo, como sendo a dúvida sobre a existência de um criador, me parece irracional, uma vez que deus não produziu nenhum bom argumento pela qual mereça nossa dúvida.
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