por Drauzio Varella
Em 1990, foi descrito o efeito Flynn, segundo o qual ocorrem aumentos significantes das médias do quociente de inteligência (QI) em curtos intervalos de tempo, à medida que as nações se desenvolvem.
Em 2001, Lynn e Vanhanen fizeram a primeira tentativa de relacionar inteligência com desenvolvimento econômico, ao publicar um estudo sobre o QI médio dos habitantes de 81 países.
Em 2005, N. Broder levantou a hipótese de que a inteligência, assim como outros traços psicológicos, é altamente plástica, portanto adaptável ao ambiente. Como consequência, tende a crescer com a escolaridade e com os desafios cognitivos impostos pelo meio, como os que surgem na migração do campo para a cidade.
Baseado no fato de que os níveis nacionais de QI são menores nos países com mortalidade infantil elevada e naqueles em que os bebês nascem com baixo peso, Broder concluiu que saúde e nutrição podem afetar a inteligência.
O que os estudos não esclarecem, no entanto, é se existe relação de causa e efeito entre essas variáveis, isto é, se a instrução ativa a inteligência ou se indivíduos mais inteligentes estudam mais. O mesmo vale para os que abandonam a agricultura para tentar a sorte na cidade.
Duas conclusões retiradas de vários estudos dão ideia da complexidade dessas interações:
1) O QI de uma população é menor nos países em que as temperaturas permanecem mais altas durante o inverno. Tem certa lógica: frio e neve exigem maior criatividade para sobreviver.
2) Como regra, quanto mais distante da Etiópia estiver o país, mais alto o QI de seus habitantes. Tem a mesma lógica: quanto mais se afastou da terra natal, mais desafios adaptativos o homem foi obrigado a vencer.
A você, leitor que resistiu com bravura à introdução, está reservada a cereja do bolo.
Cristopher Eppig e colaboradores escreveram um artigo na prestigiosa Proceedings of The Royal Society, propondo uma explicação unificadora, daquelas que nos deixa a sensação do por que não pensei nisso antes.
Segundo eles, as causas apresentadas estão por trás de uma variável bem mais relevante: as infecções parasitárias.
Do ponto de vista energético, o cérebro é o órgão do corpo humano que mais consome energia: 87% no recém-nascido, 44% aos cinco anos; 34% aos dez; 23% nos homens e 27% nas mulheres adultas.
As infecções parasitárias interferem com o equilíbrio energético: 1) alguns microrganismos se alimentam de tecidos humanos que precisam ser reparados. 2) outros vivem nos intestinos e prejudicam a absorção de nutrientes. 3) para multiplicar-se, os vírus dependem da maquinaria de reprodução da célula, processo que exige energia. 4) o hospedeiro infectado precisa investir energia para ativar o sistema imunológico; por longos períodos, nas infecções crônicas.
As diarreias na infância têm custo energético especialmente elevado. Primeiro, por causa da alta prevalência -estão entre as duas principais causas de óbitos em menores de cinco anos. Além disso, porque elas dificultam o aproveitamento de nutrientes.
Quadros diarréicos de repetição durante os primeiros cinco anos de vida podem privar o cérebro das calorias necessárias para o desenvolvimento pleno e comprometer a inteligência para sempre.
Diversos trabalhos demonstraram que infecções parasitárias e QI trilham caminhos opostos. Um deles, realizado no Brasil pelo grupo de Jardim-Botelho, mostrou que crianças escolares com ascaridíase apresentam performance mais medíocre nos testes de capacidade cognitiva. E, mais, naquelas parasitadas por mais de um verme intestinal os resultados são piores ainda.
A hipótese de que infecções parasitárias prejudicariam o desenvolvimento da inteligência explica porque a média do QI aumenta rapidamente quando um país se desenvolve (efeito Flynn), porque o QI é mais alto nas regiões em que o inverno é mais frio (menos parasitoses) e porque nos países pobres os valores médios do QI são mais baixos.
No Brasil, existem 38 milhões de residências sem esgoto.
Estudioso explica por que ateus são mais inteligentes que religiosos.
agosto de 2011
Se medir a inteligência de alguém já é tarefa inglória, imagine estimar seus valores médios em populações inteiras. Talvez não exista na biologia campo mais sujeito a interpretações contraditórias, preconceituosas e apaixonadas.
Em 1990, foi descrito o efeito Flynn, segundo o qual ocorrem aumentos significantes das médias do quociente de inteligência (QI) em curtos intervalos de tempo, à medida que as nações se desenvolvem.
Em 2001, Lynn e Vanhanen fizeram a primeira tentativa de relacionar inteligência com desenvolvimento econômico, ao publicar um estudo sobre o QI médio dos habitantes de 81 países.
Em 2005, N. Broder levantou a hipótese de que a inteligência, assim como outros traços psicológicos, é altamente plástica, portanto adaptável ao ambiente. Como consequência, tende a crescer com a escolaridade e com os desafios cognitivos impostos pelo meio, como os que surgem na migração do campo para a cidade.
Baseado no fato de que os níveis nacionais de QI são menores nos países com mortalidade infantil elevada e naqueles em que os bebês nascem com baixo peso, Broder concluiu que saúde e nutrição podem afetar a inteligência.
O que os estudos não esclarecem, no entanto, é se existe relação de causa e efeito entre essas variáveis, isto é, se a instrução ativa a inteligência ou se indivíduos mais inteligentes estudam mais. O mesmo vale para os que abandonam a agricultura para tentar a sorte na cidade.
Duas conclusões retiradas de vários estudos dão ideia da complexidade dessas interações:
1) O QI de uma população é menor nos países em que as temperaturas permanecem mais altas durante o inverno. Tem certa lógica: frio e neve exigem maior criatividade para sobreviver.
2) Como regra, quanto mais distante da Etiópia estiver o país, mais alto o QI de seus habitantes. Tem a mesma lógica: quanto mais se afastou da terra natal, mais desafios adaptativos o homem foi obrigado a vencer.
A você, leitor que resistiu com bravura à introdução, está reservada a cereja do bolo.
Cristopher Eppig e colaboradores escreveram um artigo na prestigiosa Proceedings of The Royal Society, propondo uma explicação unificadora, daquelas que nos deixa a sensação do por que não pensei nisso antes.
Segundo eles, as causas apresentadas estão por trás de uma variável bem mais relevante: as infecções parasitárias.
Do ponto de vista energético, o cérebro é o órgão do corpo humano que mais consome energia: 87% no recém-nascido, 44% aos cinco anos; 34% aos dez; 23% nos homens e 27% nas mulheres adultas.
As infecções parasitárias interferem com o equilíbrio energético: 1) alguns microrganismos se alimentam de tecidos humanos que precisam ser reparados. 2) outros vivem nos intestinos e prejudicam a absorção de nutrientes. 3) para multiplicar-se, os vírus dependem da maquinaria de reprodução da célula, processo que exige energia. 4) o hospedeiro infectado precisa investir energia para ativar o sistema imunológico; por longos períodos, nas infecções crônicas.
As diarreias na infância têm custo energético especialmente elevado. Primeiro, por causa da alta prevalência -estão entre as duas principais causas de óbitos em menores de cinco anos. Além disso, porque elas dificultam o aproveitamento de nutrientes.
Quadros diarréicos de repetição durante os primeiros cinco anos de vida podem privar o cérebro das calorias necessárias para o desenvolvimento pleno e comprometer a inteligência para sempre.
Diversos trabalhos demonstraram que infecções parasitárias e QI trilham caminhos opostos. Um deles, realizado no Brasil pelo grupo de Jardim-Botelho, mostrou que crianças escolares com ascaridíase apresentam performance mais medíocre nos testes de capacidade cognitiva. E, mais, naquelas parasitadas por mais de um verme intestinal os resultados são piores ainda.
A hipótese de que infecções parasitárias prejudicariam o desenvolvimento da inteligência explica porque a média do QI aumenta rapidamente quando um país se desenvolve (efeito Flynn), porque o QI é mais alto nas regiões em que o inverno é mais frio (menos parasitoses) e porque nos países pobres os valores médios do QI são mais baixos.
No Brasil, existem 38 milhões de residências sem esgoto.
Estudioso explica por que ateus são mais inteligentes que religiosos.
agosto de 2011
Comentários
Por esse raciocínio, então os sul-americanos são o povo mais inteligente da Terra. (O que não confere com a realidade, são os judeus.) E os patagonianos mais ainda. No entanto, quando os espanhóis chegaram lá, nem roupa eles tinham, apesar do frio.
Aliás, de tão estúpidos, eles sequer relacionavam os estampidos das armas de fogo com as feridas que "espontaneamente" se formavam no corpo deles.
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