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Anúncio de cigarro em ponto de venda tem de acabar, diz Varella

Título original: Propaganda descarada


por Drauzio Varella para a Folha

É extensa a folha corrida dos fabricantes de cigarro. Nenhum dos crimes cometidos pelo capitalismo mundial, incluindo a escravidão, é comparável ao das estratégias engendradas por eles para convencer crianças a começar a fumar.

A história mostra do que foram capazes esses senhores: usaram atrizes e atores de cinema, compraram médicos, esconderam enquanto puderam as pesquisas que associavam o fumo ao câncer, ataques cardíacos e outras enfermidades de gravidade semelhante, investiram fortunas em comerciais dirigidos ao público infantojuvenil, corromperam a imprensa, financiaram políticos e contrataram lobistas para pressionar os reticentes.

O objetivo dessas ações era mais do que explícito: viciar meninas e meninos para torná-los usuários de nicotina até a morte.

No Brasil, a publicidade do cigarro nos meios de comunicação de massa foi proibida apenas no ano 2000. Os fabricantes não se abalaram, competentíssimos na arte de angariar novos dependentes químicos, espalharam pontos de vendas coloridos e sedutores junto aos locais frequentados por crianças e adolescentes.

Meses atrás, em entrevista à revista "Exame", um alto executivo da Souza Cruz afirmou com a desfaçatez habitual: "Temos de inundar o varejo com nossos maços de forma que o consumidor ache o produto em qualquer lugar do Brasil. Os cigarros que saem das duas fábricas, em Uberlândia (MG) e em Cachoeirinha (RS) abastecem 260 mil pontos de venda em todo o Brasil".

Pesquisa Datafolha/Aliança de Controle do Tabagismo conduzida em maio deste ano em São Paulo dá sentido às palavras do tal executivo: "A grande maioria dos estabelecimentos de São Paulo que comercializa cigarros possui nas proximidades, num raio de até um quilômetro, alguma escola de nível fundamental ou médio; mais de um terço têm uma faculdade na vizinhança".

Proibido o acesso à TV e aos jornais, os fabricantes investiram pesado na divulgação de material publicitário (displays, cartazes, luminosos etc.) para promover as vendas em locais como padarias, lanchonetes, bancas de jornal e lojas de conveniência. Cerca de 70% desses pontos de venda expõem cartazes promocionais coloridos, desenhados com a finalidade precípua de atrair os mais jovens.

Em 83% dos estabelecimentos visitados, os cigarros estavam expostos junto às balas, chocolates ou doces. Nas padarias, esse número chega perto da totalidade.

Segundo a publicitária especializada em merchandising, Regina Blessa: "O ponto de venda é a única mídia que reúne os três elementos essenciais para uma compra: consumidor, dinheiro e produto. No Brasil, 85% das compras são decididas nesses pontos comerciais, não são planejadas anteriormente".

De acordo com ela, como nossos olhos "escaneam" a 100 km/h a publicidade e as mercadorias presentes nesses locais, não é de estranhar que os fabricantes de cigarro invistam cada vez mais nos espaços em que a decisão de comprar acontece.

Até quando nós, brasileiros, conviveremos com esse crime continuado? Para proteger nossos filhos, proibimos propaganda de cigarro na TV, rádio, jornais e revistas, mas fazemos vistas grossas ao aliciamento da criança que entra na padaria para comprar um chocolate. Tem lógica, leitor?

Se a venda de cigarro em padaria, lanchonete ou banca de jornal é uma aberração há muito banida dos países mais desenvolvidos, permitir nesses locais a exibição de material publicitário que visa criar imagens benevolentes de um tipo de dependência química que provoca sofrimento e leva à morte precoce, é descaso com a saúde de nossos filhos ou falta de coragem para enfrentar o lobby da indústria. Irresponsabilidade ou covardia, não há outra explicação.

A sociedade admitiria a presença de cartazes que apregoassem a venda de maconha junto aos doces e aos pães que a mãe pede para o filho comprar na venda da esquina?

Essa publicidade acintosa nos pontos de venda precisa ser terminantemente proibida. É absurdo não fazê-lo. Os maços de cigarro não podem ficar expostos aos olhares curiosos das crianças. Por que razão não criamos leis que obrigam os comerciantes a guardá-los em gavetas ou estantes fechadas?

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Comentários

Anônimo disse…
PORQUE O CIGARRO é combatido te forma tão forte e poderosa , e o ALCOOL que é de longe a DROGA mais poderosa e desgraçada do planeta ? não é combatida ??? INBEV é uma das empresas mais ricas do mundo e gasta milhões em propaganda e faz bilhões de dependentes no mundo........?

ALCOOL mata por overdose , cigarro não....alcool provoca 70% dos acidentes de transito e brigas familiares e episodios de violencia....a capacidade do alcool de provocar dependencia é fortissima...
dia desses morreu uma criança que ingeriu VODKA....CIGARRO ninguem morre de overdose ? nem se quer a pessoa sai de si qdo usa....É UMA HIPOCRISIA DANADA inclusive do DRAUZIO por combater de forma tao forte o cigarro e deixar o alcool de lado....
Pedro Lobo disse…
Só uma diferença, meu caro, e para mim já basta.

O álcool mata seus dependentes e o cigarros os seus viciados e quem estiver por perto.

Se você quiser beber até que tenha uma overdose, o problema é seu. Mas, por favor, não fume perto de mim.

Ninguém deve sofrer as consequências do vício alheio.
Anônimo disse…
Para o anônimo das 12:28: o Drauzio combate com contundência o tabaco porque ele é médico que cuida de pacientes com câncer, inclusive terminais, que contraíram a doença fumando.

Fazer discurso como você faz é fácil. Mas já encarar o dia-a-dia do sofrimento causado pelo câncer é outra coisa.

Será que você consegue compreender isso?
Anônimo disse…
a gente, fala sério, esse médico tem cara de doente...
Anônimo disse…
O álcool mata, o cigarro mata, e o dinheiro enterra todos. O dinheiro é o coveiro, o agente funerário e o grande aliciador de menores, crianças e adolescentes. É o desejo de lucro, portanto de mais dinheiro fácil, obtido com mais-valia e mão-de-obra fácil e barata; que induz estas mentes assassinas a industrializar e comercializar venenos e outras substâncias que alteram a mente e o humor, além de provocarem acidentes, e comprovadamente causarem câncer. O dinheiro é o nosferatu oculto, que vampiriza os contaminadores sociais e os dependentes químicos sempre renovados, numa relação simbiótica e parasitária, possivel somente pela inconsciência fetichizada, pela sacralidade absoluta com que se transformou no deus único e universal, porém morto em si mesmo, e executor de mortalidade letal.
Anônimo disse…
Drauzio combate mais o cigarro que o alcool,porque teve um irmão que faleceu de cancer de pulmão atribuído ao tabagismo.Não defendo o cigarro,não sou fumante,mas sejamos então,justos.Alcool também causa diversos tipos de cancer.
Destrói lares,com agressões,acidentes de transito,inclusive atropelamentos,perda de emprego e até homicídios.
E as propagandas estão por toda parte,em toda a mídia,mostrando gente feliz e mulheres seminuas vendendo "status".
Cada dia mais jovens bebem,jovens de todas as classes sociais,incluindo garotas em baladas.
Que se fechem as cortinas para a dependência,seja lá qual for.
Anônimo disse…
E OS ANUNCIOS DE CARROS TAMBEM DEVIA TER A FOTO DOS CORPOS DESPEDACADOS E MUITO SANGUE - EFEITO COLATERAM DE USAR UM CARRO

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