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Cardeal revela os temas da igreja no diálogo com os ateus

por Marco Politi, do jornal italiano Il Fatto Quotidiano

Católicos e ateus, crentes e agnósticos: face a face na Paris dos Iluministas para uma cúpula inédita promovida pelo cardeal Gianfranco Ravasi, ministro da Cultura do Vaticano. Parceiros do diálogo que ocorrerá entre os dias 24 e 25 de março são a Unesco, a Sorbonne, o Institut de France, o "parlamento dos sábios" que reúne as cinco grandes academias francesas. É uma nova página na história da Igreja, a tentativa de enfrentar o terceiro milênio deixando de considerar ateus e agnósticos como inimigos ou deficientes espirituais.

"Anticlericalismo e Clericalismo" devem ser superados, é a opinião do purpurado. Porque "fechar-se em seu próprio recinto é uma doença tanto para as religiões quanto para o mundo laico e para uma ciência que pretenda dar as respostas a todas as perguntas".

A iniciativa surgiu por impulso de Bento 16, que, em 2009, afirmou em Praga que deveria ser estimulado o encontro com os não crentes e indicou no Átrio dos Gentios do antigo Templo de Jerusalém o espaço onde os aderentes a outras religiões podiam se aproximar do Deus Desconhecido.

Entrevista

Cardeal Ravasi, vocês começam na França, o Anticristo das Luzes.

Sim, quis escolher Paris justamente porque é um estandarte de laicidade, mas devo dizer logo que encontrei um mundo laico interessado em um confronto verdadeiro sobre grandes temas.

Vontade de se converter?

Não é esse o objetivo. Não falamos de evangelização. O objetivo é o diálogo. O confronto entre dois Logoi, entre visões do mundo que se medem nas questões altas da existência. Quando me encontro diante de um ateu como Nietzsche ou o discurso marxista ou científico, eu escuto, respeito, avalio. As religiões e os sistemas ideológicos são leituras do real e do cosmos e é bom que se confrontem.

Superando a atitude clássica segundo a qual o não crente é um "pato manco"?

O crente e o ateu são, cada um, portadores de uma mensagem, que é "performativa", já que envolve a existência. Estou contente por ter como interlocutores em Paris personalidades como Julia Kristeva, semióloga e psicanalista agnóstica, ou o geneticista Axel Kahn.

Sobre o que pensarão?

Na Unesco, se discutirá entre crentes e laicos sobre o papel da cultura, mas também sobre as mulheres na sociedade moderna, sobre o empenho pela paz e a busca de sentido em um mundo que é ao mesmo tempo secularizado e religioso. Na Sorbonne, o tema é emblemático: Iluminismo, religiões, razão comum. No Institut de France, o debate será sobre economia, direito, arte.

Esperando encontrar pontos de encontro?

Não interessam encontros ou desencontros genéricos, nem entrar em acordo sobre uma vaga espiritualidade. E não se trata nem de um asséptico encontro de matemática. O que conta é colocar em confronto visões de vida alternativas, pensando, em última instância, sobre algumas questões capitais.

O senhor disse recentemente que a igreja deve aprender a derrubar seus próprios muros.

Muitas vezes, temos uma linguagem excessivamente conotada e excludente. Devemos reconhecer que existem visões diferentes da realidade e que, do mundo laico, nos são dirigidas questões profundas com relação às quais não podemos ser evasivos.

Quais questões o senhor considera como capitais?

As perguntas sobre o sentido da existência, sobre o além-vida, sobre a morte. E ainda a questão sobre a categoria de verdade.

Há algum tema sobre o qual se deveria refletir mais na civilização contemporânea?

O poder do mal. É preciso ser consciente dele. As atitudes subsequentes podem ser diferentes. Para Albert Camus, na ausência de Deus, a resposta final é o suicídio. Para George Bernanos, além de todas as dificuldades e fragilidades, a presença divina não abandona jamais o humano.

A Igreja está pronta para fazer as contas com a descristianização em curso no continente europeu?

As categorias estatísticas são insuficientes para medir o real. É preciso um método qualitativo para medir de dentro os comportamentos sociais e pessoais. Harvey Cox, que havia escrito A Cidade Secular, agora defende que estava equivocado. Assistimos a um retorno do sagrado e a uma nostalgia do religioso que, porém, não encontra uma resposta nas instituições religiosas. Isso se manifesta em várias expressões: movimentos, New Age, devocionalismo, espiritualismo.

Qual saída o senhor propõe?

O cristianismo deve voltar às suas grandes respostas, para curar o paladar da sociedade, deformado por uma secularização que busca espiritualidade de baixo perfil.

O senhor não acha que ainda há na Igreja muito medo da modernidade?

Eu alimento um respeito pela modernidade, mas reivindico a legitimidade de criticar uma modernidade superficial, inodora, incolor, nem imoral, mas, sim, amoral. Como diz Goethe no Fausto: esquecemo-nos do Grande Maligno, ficaram os Pequenos Sem-Vergonhas.

Comentários

Anônimo disse…
A ICAR nunca desejou dialogar com ninguém e sim impor sua vontade.
Eli Vieira disse…
Que tédio. E ainda chama uma baita pseudocientista, Julia Kristeva, pra falar por nós. Estamos perdidos.

Pra quem não sabe, Julia Kristeva é citada no livro "Imposturas Intelectuais" de Alan Sokal e Jean Bricmont, como uma das mais anticientíficas personalidades pós-modernas. Ela diz que a mecânica de sólidos avançou mais em relação a mecânica de fluidos porque a física é falocêntrica, sendo o sólido a representação do rijo membro masculino, e o fluido a representação da feminilidade.

Pois é.
Marcelo Idiarte disse…
Essa notícia parece aquela propaganda infame do canal Futura: "E se a Ciência fizesse as pazes com a religião?"... Desde quando é possível uma Ciência (Ciência de fato, conforme convencionado) "dialogar" com uma coisa absolutamente desprovida de métodos científicos?

Esse Joseph Alois Ratzinger é esperto. Quer colocar a Igreja Católica no campo do "diálogo", como se todo mundo já não soubesse o desfecho deste diálogo. Ou alguém pensa que a Igreja vai recuar nas suas crenças e nos seus dogmas para aceitar a lógica e o bom senso?
Apaxe disse…
Isso já é reflexo da competição acirrada que enfrentam com organizações concorrentes mais agressivas, o que já está gerando uma escassez de mercado. Devem estar tentando colher informações para lançar novos "produtos"....tática que felizmente também vai falhar...
Apaxe disse…
Eu não disse, olha no link abaixo um resultado do uso de Business Inteligence deles...
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/03/igreja-lanca-gibi-em-estilo-manga-sobre-papa-bento-xvi.html
Esses religiosos querem impor sua visão de mundo para todos. Mas esses ateuzinhos também são mais dogmáticos do que muitas religiões. Da mesma forma que a religião propõe e se enquadra em paradgmas a ciência está sujeita ao paradigma vigente em sua época, como afirma Thomas S. Kuhn. Creio que o problema do mundo seja a burrice, religiosa ou ateia, e ela que detona o mundo. Bem que podia cair uma bomba nesse encontro... Não perderíamos grande coisa.
peron1935 disse…
vc faz apologia à religião que está provado que não deu e nem dará certo;dis que ateísmo segue dógmas e ainda deseja que caia uma bomba?foi o comentário mais inútil que li até o momento que é isso rapaz ;preste atenção no que a religião tem feito no decorer da historia só trouxe sofrimento mortes pedofilia queimou gente em fogueira galileu só escapou por ter negado suas idéias que estávam sertas enfim esse catolicísmo cego só atrapalhou o desenvolvimento humano e social no mundo.
Anônimo disse…
Qualquer um que tenha dois neurônios percebe que a igreja é contra a liberdade, democracia, justiça.
Eles se referem ao laicismo como sendo algo ruim, e eles abertamente dizem que tem a intenção de combatê-lo. Ou são muito escrupulosos ou muito estúpidos.
Viver num país que não é laico é o mesmo que viver numa ditadura, a diferença é que são impostas obrigações que dizem ser em nome de um amigo imaginário, o resto é o mesmo absurdo, quem discordar é morto, só muda o motivo. Na verdade, uma ditadura é melhor, já que não necessariamente é comandada por doentes mentais.
Anônimo disse…
"Para Albert Camus, na ausência de Deus, a resposta final é o suicídio."

Que o diga Oscar Niemeyer...
Paulo Lopes disse…
Não me lembro de o Camus ter dito isso. Poderia me dar a fonte? Como se sabe, Camus era ateu e morreu em um acidente de carro.

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