por Omar Lucas Perrout Fortes de Sales
No domingo (26) São Paulo se tornará palco de mais um episódio da guerra religiosa travada entre os homossexuais e as igrejas. O lema da 15ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, considerada uma das maiores do mundo, já começa a render polêmica. A relação entre religião e preconceito apimenta o tema deste ano: “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia”!
Pela primeira vez, o evento se apropria de uma citação bíblica – e contará com representantes de grupos religiosos desfilando na Avenida Paulista (religiosos das igrejas Anglicana, Católica e Presbiteriana, além do Candomblé, Umbanda e Judaísmo confirmaram presença, segundo a organização). Um dos carros trará como tema: “Nem os santos te protegem”. O carro adornado com releitura de imagens de santos protagonizará crítica efetiva e pertinente ao veto do uso da camisinha, proposto por determinadas igrejas. Durante uma coletiva de lançamento do tema da parada gay desse ano, a carta preparada pela organização do evento explicou a apropriação da citação bíblica, típica do universo cristão: “Respeitosamente nos apropriamos dela para pedir fim à guerra travada entre religião e direitos humanos”, dizia o manifesto.
Recentemente o admirável Congresso Nacional utilizou o veto à distribuição do denominado kit anti-homofobia como moeda de troca para a obtenção de apoio ao digníssimo Antônio Palocci, então ministro-Chefe da Casa Civil. Em nome de preservá-lo da prestação pública de sua contabilidade pessoal, a bancada evangélica contentou-se com a retirada de circulação do referido kit destinado aos alunos e educadores das escolas públicas. Votos de cidadãos que representam o Estado que os elegeu postos a serviço de interesses particulares e preconceituosos. Para esse grupo, vitória das vitórias, sobretudo se se considera o cenário desfavorável anterior, desenhado pelo reconhecimento de direitos dos casais homoafetivos que vivem união estável. Mais um capítulo desse embate crescente ao longo dos últimos anos.
Subjaz a todas essas notícias a crise de referenciais e a confusão dos espíritos que paira sobre a sociedade. Tal crise nutre-se, de um lado, pelo saudosismo da posse da verdade e da palavra última (igrejas e instituições); de outro, pela experiência da liberdade proporcionada pelo enfraquecimento das estruturas estáveis da moralidade de outrora a assegurar a realidade. O conflito hermenêutico em questão traduz no campo da afetividade/sexualidade, crise que perpassa a política, o Estado, as religiões e escoa pelas diversas dimensões da vida social.
A feiticeira de toda essa selva pode ser classificada como a vontade de poder das Instituições a insistir legitimar ordem vigente para todos e violentar as liberdades dos indivíduos. Gustavo Botandini, filósofo italiano, sustenta que a igreja quando minoria, fala de liberdade; quando maioria, advoga a verdade.
A verdade em jogo não quer ser apenas mera normatividade direcionada aos fiéis ad intra. Exercita a vocação violenta ao impor seus próprios princípios aos não fiéis e fiéis de outras denominações ad extra.
Cabe a pergunta: o que há de evangélico em pressionar o Estado a fim de se proibir nacionalmente o casamento gay, a criminalização da homofobia?
A feiticeira revela sua face mais perversa no ataque constante àqueles que já lutam e sofrem cotidianamente exclusão, intolerância e marginalização. Reconhece-se como evangélica a atitude missionária de se anunciar a mensagem cristã a todos os povos e apresentar-lhes horizonte de sentido. Na mesma perspectiva, catequizar e instruir os convertidos.
À luz das reprováveis violências já praticadas ao longo da História, há de imperar a máxima do respeito às diferenças. Modelar e impor padrões comportamentais, por vezes não vividos por parcela significativa dos próprios representantes das igrejas, soa bastante hipócrita e anti-evangélico.
Talvez um dos carros da parada gay do próximo domingo pudesse explorar a metáfora bíblica dos sepulcros caiados. Ironias à parte, a guerra santa sofrida pelas minorias GLBT inspira paradas como as do próximo domingo, comprometidas não com o ataque aos dogmas das Igrejas (problema de seus adeptos), mas com a defesa dos direitos humanos.
Os meios de comunicação manipulam as informações e propagam os germes do acirramento dos ânimos entre as partes. Não possibilitam a existência de uma vida mais autêntica, provida de transparência e propícia à discussão pró-ativa. Antes confundem mediante o simulacro de imagens distorcidas e ruídos desafinados. Festival de luzes, cores e formas a ludibriar os sujeitos sociais.
Os feitiços dos meios de comunicação propagam-se com voracidade: ocultamento e ou distorção de temas primordiais, difusão da racionalidade do consumo, legitimação de egoísmos e individualismos... Na interatividade da leitura, compete ao leitor ampliar essa vasta lista.
A imagem do guarda-roupa apresenta grande ambiguidade. Negativamente, remete ao aprisionamento dos desejos e da identidade, evoca sufocamento e escuridão. Metáfora pejorativa sobre a atitude de se assumir as pulsões sexuais e “sair do armário”. Entretanto, há de se ir além dessa simples representação, já desgastada e carente de sentido, e na acuidade perceber a imagem do guarda-roupa sob ocular positiva.
Enquanto tal, o guarda-roupa expressa apelo à criatividade, abertura às diferenças, possibilidade de conquista da autonomia. Representa, como intuído da obra de C. S. Lewis, o convite a se passar à outra margem. As portas do guarda-roupa pós-moderno conduzem a novos mundos e abrem-se a um sem fim de possibilidades tolhidas anteriormente pelo império arbitrário da verdade objetiva. Traduzem-se no horizonte possível de exercício da relacionalidade e da convivência pacífica. Portas talhadas pela escuta da filosofia hermenêutica e da crítica à interpretação única da realidade, bem como da verdade já dada e esgotada historicamente de uma vez por todas. Guarda-roupa a abrigar diversidade de estilos, modelagens, tendências e muito mais propício à coexistência do múltiplo.
Para alguns críticos, pobre pecador relativista; para outros, via possível de integração das diferenças e convivialidade no respeito ao uso da autonomia e da liberdade pessoal do sujeito.
Para alem da feiticeira e do guarda-roupa, ruge o leão da vitalidade, do dinamismo e do vigor da concretização da instauração de ordem existencial mais humana e fraterna. O desafio de vislumbrar os raios do Sol a incidir sobre a juba do leão permanece tarefa atual e mundo possível. Forte não pela proclamação do unívoco e incontestável, mas pela abertura dialógica e acolhedora das mudanças históricas em curso.
O leão se nos apresenta tanto mais cristão e autêntico, quanto mais liberto do império metafísico da verdade, for capaz de interpelar o sujeito a aventurar-se pelas brechas do guarda-roupa, criticamente se posicionar perante os decretos da feiticeira e se tornar capaz de eleger conscientemente suas opções fundamentais de vida.
Este artigo foi publicado originalmente no IHU Online. O autor é doutorando em Teologia Sistemática na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, Minas.
Igreja pune pastora por ‘conduta imoral’ por ter sido estuprada
março de 2011
Impedida de dançar na escola, filha de Testemunhas de Jeová se mata
junho de 2010
Comentários
E a maior prova de tudo o que é exposto aqui neste post realmente ocorre foi a decisão arbitrária e absurda de um juiz pastor de primeira instância de Goiânia anulando um contrato de união homoafetiva firmado na jurisdição de sua comarca passando por cima de uma decisão colegiada do STF e desacatando a suprema corte em nome de sua crença impondo-a ao um grupo de pessoas que não comungam da fé dele.
homens si beijano com homens, na frente de crianças..como está escrito,
na Blíbia Sagrada, "merecerão em si mesmos a merecida punição pelo seu erro",quer dizer, que pelo castigo da indolatria, é que Deus, os condenou a um sentimento reprovável para fazer coisas que não convêm,...os chamados sodomitas. cujas mortes também dolorosas os surpreendem no final, é a merecida punição pois há caminhos, que ao homem, parecem direitos, mas no final
são caminhos de morte..proverbios 26,15
agora vem os sabichoes de plantao afirmar que religiao nunca trouxe nada de bom,sera que este individou PENSA?Sabemos que hoje em dia a maioria das religioes é comercio,mas nao podemos generalizar,pois ainda existe os honestos no meio religioso.Quanto aos GAYS,nao tenho nada contra eles,porem fazer lei pra beneficiar eles é demais,ja existe uma lei que criminaliza a violencia para qualquer pessoa seja ela hetero ou gay,nao precisamos de mais lei.A lei tem que ser cumprida,se agrediu um homosexual,a pessoa tem que ser presa,julgada,culpada,nunca achar que violencia é normal pra ninguem,seja hetero ou gay
muita hipocrisia. Acho engraçado uma coisa, porque vcs se preocupam tanto se alguem da dando ou comendo. isso é ciúme. e quanto crianças vendo e blablabla só conversa fiada. hoje em dia a internet mostra isso em tudo quanto é lugar, menino de 8 anos sabem mais dos que os adultos, então é hipocrisia mesmo....
Postar um comentário