Título original: Conversa sobre o nada
por Marcelo Gleiser
para Folha
O nada, por incrível que pareça,vem ocupando a imaginação de filósofos e cientistas há milênios. Coisa simples, não é? Imaginar a ausência de tudo, o vazio absoluto, não deve ser tão complicado. Grande engano. Se a ideia do nada como a ausência total de matéria é trivial, quando pensamos um pouco mais sobre o assunto, a coisa complica.
Aristóteles, um século mais tarde, descartou a ideia. Para ele,o espaço vazio era uma impossibilidade. Existe sempre algo preenchendo o vazio, que ele chamou de "éter". Caso contrário, ponderou, objetos poderiam atingir velocidades infinitas, algo que não parecia possível.
As ideias sobre o vazio de Aristóteles, mesmo que transformadas, retomaram força com o francês René Descartes no século 18. Para ele, o vazio também não existia. Uma forma de matéria fluida preenchia o espaço.
Para explicar as órbitas dos planetas em torno do Sol ou da Lua em torno da Terra, descartes supôs que esse fluido, ao girar, criava uma espécie de redemoinho que levava os planetas em suas órbitas.
Newton, um pouco mais tarde, demonstrou matematicamente que o espaço não pode ser preenchido por um fluido: sua viscosidade faria com que os planetas espiralassem sobre o Sol. O nada voltou a existir.
Quando, no século 19, foi descoberto que a luz é uma onda eletromagnética, a questão do meio material em que essa onda se propagava veio à tona. Afinal, ondas de água se propagam na água, ondas de som no ar. Qual o meio em que as ondas de luz viajavam? Foi sugerido que o espaço, afinal, não era vazio; existia uma espécie de fluido que permitia a propagação das ondas de luz. Em 1887, porém, um experimento que visava confirmar a existência do éter falhou. A luz e a sua propagação se tornaram um grande mistério, que só foi resolvido em 1905, quando Einstein propôs que a luz não precisava de meio algum para se propagar. O nada voltou, triunfante. Mas não por muito tempo.
Na década de 1920, com a mecânica quântica, a física que estuda os átomos e partículas, ficou claro que conceitos do nosso dia a dia precisavam ser revisados radicalmente. Entre eles, a noção de que objetos podem ficar parados.
No mundo dos átomos, tudo vibra incessantemente. Com isso, sempre existe uma energia residual, cujo valor flutua aleatoriamente. Juntando isso ao fato de que a energia e a matéria estão intimamente relacionadas, flutuações de energia são convertidas em partículas de matéria.
Dadas as flutuações de energia,partículas de matéria podem surgir do nada. A física quântica leva à conclusão de que o nada, no sentido de ausência de tudo, não existe.
Em1998, essa história ganhou um novo capítulo. Foi descoberto que o Universo está em expansão acelerada.
Entre as explicações sugeridas para isso, a mais plausível é que o efeito seja gerado pela energia do vazio, as tais flutuações quânticas.
Nesse o caso, o nada, ou sua versão quântica, é responsável pelo destino do nosso Universo.
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Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "Criação Imperfeita".
por Marcelo Gleiser
para Folha
Ideias sobre o vazio vieram de Aristóteles |
Foram os atomistas Leucipo e Demócrito, na Grécia do século 5 a.C., que tiveram uma grande sacada: e se o cosmo contivesse duas coisas, os átomos que constituem a matéria e o vazio onde se movem? Com isso, na ausência de um átomo, existe apenas o espaço vazio.
Aristóteles, um século mais tarde, descartou a ideia. Para ele,o espaço vazio era uma impossibilidade. Existe sempre algo preenchendo o vazio, que ele chamou de "éter". Caso contrário, ponderou, objetos poderiam atingir velocidades infinitas, algo que não parecia possível.
As ideias sobre o vazio de Aristóteles, mesmo que transformadas, retomaram força com o francês René Descartes no século 18. Para ele, o vazio também não existia. Uma forma de matéria fluida preenchia o espaço.
Para explicar as órbitas dos planetas em torno do Sol ou da Lua em torno da Terra, descartes supôs que esse fluido, ao girar, criava uma espécie de redemoinho que levava os planetas em suas órbitas.
Newton, um pouco mais tarde, demonstrou matematicamente que o espaço não pode ser preenchido por um fluido: sua viscosidade faria com que os planetas espiralassem sobre o Sol. O nada voltou a existir.
Quando, no século 19, foi descoberto que a luz é uma onda eletromagnética, a questão do meio material em que essa onda se propagava veio à tona. Afinal, ondas de água se propagam na água, ondas de som no ar. Qual o meio em que as ondas de luz viajavam? Foi sugerido que o espaço, afinal, não era vazio; existia uma espécie de fluido que permitia a propagação das ondas de luz. Em 1887, porém, um experimento que visava confirmar a existência do éter falhou. A luz e a sua propagação se tornaram um grande mistério, que só foi resolvido em 1905, quando Einstein propôs que a luz não precisava de meio algum para se propagar. O nada voltou, triunfante. Mas não por muito tempo.
Na década de 1920, com a mecânica quântica, a física que estuda os átomos e partículas, ficou claro que conceitos do nosso dia a dia precisavam ser revisados radicalmente. Entre eles, a noção de que objetos podem ficar parados.
No mundo dos átomos, tudo vibra incessantemente. Com isso, sempre existe uma energia residual, cujo valor flutua aleatoriamente. Juntando isso ao fato de que a energia e a matéria estão intimamente relacionadas, flutuações de energia são convertidas em partículas de matéria.
Dadas as flutuações de energia,partículas de matéria podem surgir do nada. A física quântica leva à conclusão de que o nada, no sentido de ausência de tudo, não existe.
Em1998, essa história ganhou um novo capítulo. Foi descoberto que o Universo está em expansão acelerada.
Entre as explicações sugeridas para isso, a mais plausível é que o efeito seja gerado pela energia do vazio, as tais flutuações quânticas.
Nesse o caso, o nada, ou sua versão quântica, é responsável pelo destino do nosso Universo.
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Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "Criação Imperfeita".
junho de 2010
Comentários
Princípio de Incerteza de Heisenberg:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_incerteza_de_Heisenberg
Vácuo quântico:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_qu%C3%A2ntica_de_campos
http://grabois.org.br/beta/cdm/revista.int.php?id_sessao=50&id_publicacao=106&id_indice=298
Quanto aos comentarios acima, acho que os dois deveriam ter a mente mais aberta para tentar entender e respeitar a opinião um do outro. Só conhecendo os dois lados da história poderemos ter uma opinião concreta sobre algo.
Todos falam demais sobre tolerancia e respeito mas poucos são os que o praticam.
O "tudo" existe tanto quanto o "nada"...
Mas isso pouco importa... indagar sobre o nada é tão inútil quanto indagar sobre o tudo. Afinal, como dizia Fernando Pessoa, em uma de suas frases para a qual dou plena, máxima razão: "Pouco me importa. Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa..."
O que importa é que tudo seja reduzido a nada, ao zero absoluto.
De fato, existe algo no "nada": linguagem, códigos, números, 0s e 1s...
Há uma ordem matemática para tudo: a simples ordem equacional de redução de restos, resíduos e acúmulos... RESTO ZERO, isto é, redução de tudo à equivalência... ausência de discrepâncias e desigualdades em toda a dimensão espaço-temporal. Após reduzir-se a nada, o que antes era passa a não ser, e o que antes não era passa a o ser plenamente.
there is only Death... and Death is everything: there's not Life without Death!
O ser humano só conseguirá realmente aprender alguma coisa quando aprender a reduzir-se a zero; reduzir o valor ao desvalor, a razão à desrazão, o sentido ao nonsense... auto-analisar-se, reduzir suas vaidades, julgar a si próprio, e reduzir-se à sua própria insignificância.
ps:
pronto! vejamos agora! quem vai me refutar?!
já posso prever... rs!
Tem dois tipos de crentes aqueles que aceitam o pacote religioso de determinada religião e aqueles que inventam sua própria religião o primeiro é o Cristão o segundo é o Nathan.
Nathan espero que sua abordagem da redução humana a insignificância seja metafórica e poética. A melhor forma de reconhecer a nossa insignificância é por meio da ciência. Humildade existe no texto de Carl Sagan: Um polido ponto azul. Sou incapaz de ver qualquer humildade em um universo que tenha um Deus zeloso preocupado com uma espécie dentre outras bilhões em um ponto tão insignificante quanto um grão de areia em uma praia.
Cristão, tenha algum senso de ridículo, por favor! Deus não existe, não tem evidências de existir, nenhum deles, nem o seu, nem os dos outros..:-)
Ter um amigo imaginário e um livro sagrado com textos sem muito sentido (escritos na idade do bronze), não são argumentos.
É triste um adulto que acredita em contos de fada, muito triste.
Cognite Tute
Sabemos perfeitamente disso, cristão, o problema é que essa posição é tola, infantil, e sem base. É totalmente sem sentido ou evidência, e idêntica a todas as superstições do passado, todos os mitos de criação, todas as bobagens criadas em tempos em que nada se sabia sobre as coisas, sobre "a vida, o universo e tudo o mais". E nem que a resposta era "42"..:-)
Sua tentativa de proselitismo, com trechos da biblia, é constrangedora. Você cita um versículo, eu trago um trecho o Livro de Receitas de Dona Benta, e da no mesmo..:-)
Minha sugestão, sincera é: passe a frequentar sites crentes, e postar essas maluquices lá. Sempre encontrará quem ache "o máximo", e o elogie.
Aqui, é só triste, e você passa por tolo e infantil.
Cognite Tute
Favor apagar os comentários do Cristão, por não terem absolutamente nada a ver com o artigo em questão.
Ha também sutis ameaças e ofensas do Cristão contra os demais participantes. É muito infantil esse comportamento da parte dele.
Sim, exato, muito perceptivo você..:-)
Cristão: "O teu pensamento tolo não condiz com a verdade."
Prove. Você sabe, aquele negócio todo de lógica, pensamento racional, argumentos e evidências..:-)
Cristão: "Um dia, não longe, tu verás quem é infantil, eu te garanto."
Desculpe não confiar em sua "garantia", mas precisa entender, gente como você não é muito confiável..:-) Preciso de mais evidência disso, você "garantir" e nada é a mesma coisa..:-)
Cognite Tute
Você quer atenção. Quer aparecer. Faz uma espécie de cômica versão da transmutação de todos os valores de Nietzsche misturada com uma espécie de "Death Cult". Um figurado niilismo. Um ilógico medo do vazio existencialista das "máquinas" e da "ciência", bem como de suas constantes alterações e incógnitas quanto a certos pontos. Por isso, você tenta aliar (e de maneira cômica à lógica) os ateus a crentes.
O temor de certos niilistas reside no fato do homem ser um animal de suas ações efêmeras quanto ao indivíduo. Isso para niilistas é um absurdo, perturbador. O acidente de muitos niilistas é esse: negar a realidade para se adequar às incógnitas daquilo que o homem não pode provar - aproximando-se de crença - em seu caso, algo que se assemelha a falácia de "teoria irrefutável". Significa ater-se às ilusões ad libitum das livres mentes e pensares beirando a ebriedade (como você propõe, o "não me importo") e não a sobriedade. O temor é logicamente irracional.
Enquanto você pensa, a realidade acontece. O mundo gira. O animal humano age e interage-se com os outros e com o meio em que vive. As mudanças, erros humanos, transformações, alterações - tanto pelo homem como pelos animais e no meio, habitats - ocorrem a todo o tempo.
Matematicamente, as hipóteses para se explicar a realidade são infinitesimais. As mais coesas para se exemplificar os fatos prevalecem ao escopo do método científico. As menos coesas, são descartadas. É o caso das religiões, crenças e superstições, que com o passar dos tempos já encontram-se em posição de equívoco há muito tempo.
O vazio da humildade niilista ainda é intrínseco à lógica científica. Ao escopo do método científico e suas ferramentas lógicas. Em simples palavras, não se pode ir além do que não se pode provar. Aquilo que não se conhece pelo conhecimento lógico, deve permanecer em pendência. Isso também implica a existência de deuses e divindades: aceitar cegamente que existem ou não existem ou que o "nada" explica, é adquirir perspectivas ad ignorantiam. A consciência, como exaraste, é natural das mentes questionadoras. Isso promove a mudança de idéias e perspectivas.
Portanto, ajas consciente. E não como um inconsciente. Pense naquilo que você mesmo está propondo.
Conscia mens famae mendacia risit. Ad sumus.
Deus existe? Não sei, não acredito que o Universo, do jeito que é, com todas as suas regras (matemáticas, físicas e químicas) tenha nascido sem planejamento, é perfeito demais desde o começo pra isso, MAS se por acaso Ele existe, acredito sim que utilizou meios (entenda-se anjos, espíritos de luz, qq que seja sua crença) para iluminar a cabeça de alguns humanos propícios a 2000 anos atrás para passar uma mensagem para a humanidade.
Acontece que alguns levaram essa msg a se´rio, enquanto outros fizeram um uso errado e criaram a Igreja!
Vejam bem, em momento algum Cristo disse que deveriam instituir um religião! Segundo a Bíblia supostamente ele abominava templos, pois acreditava que estes não levavam ao caminho da perfeição, e sim o amor para com o próximo!
Simplesmente aceitar o que está escrito na Bíblia como verdade absoluta é sinal de ignorância, devemos sempre procurar a verdade sob a luz da ciência e da fé ao mesmo tempo, com as duas andando de mãos dadas! Do que adianta conhecimento teórico sem moral elevada? Ciência sem limites, sem escrúpulos? Não, devemos respeitar a possibilidade Dele existir, mesmo que não exista, a menos que queiramos ser meros "macacos" inteligentes. No final acredito que não valerá a pena seguir por este caminho absolutamente científico.
Concordo, Ciência é fundamental, mas Ciência pura e simplesmente é cegueira.
Segun do a Bíblia Cristo abominava templos pq acreditava que o caminho que todos devemos trilhar para atingir a perfeição é praticando o amor. Acho que a msg anterior ficou um pouco confusa .
O fato de ser ateu não quer dizer que a ideia proposta por este não seja verdadeira.
É muito fácil falar "Deus fala comigo...". Sério? Eu aceitaria melhor se a pessoa falasse "Hj eu tive sonho onde uma entidade bondosa me instruisse com bons conselhos e mensagens, acredito que foi um emissário Dele..."
Acredito sim que possam existir pessoas capacitadas para receber tais mensagens, mas o que é dificil de engolir e um monte de pastores falando que Deus fala com eles. Ora bolas, se fala provavelmente a primeira msg que falou seria "Parem de se aproveitar do próximo, começando com os dízimos!"
Só pq alguém tem uma ideía diferente da sua não quer dizer que ela esteja errada. Nem certa.
O que devemos fazer é debater pacificamente as informações trocadas e chegar a um censo em comum, sem conflitos. Aquilo que for cientifica e moralmente correto para nós aceitamos, e resto descartamos.
Excelente casamento de Deus e ciência.
A bem da verdade, Deus não precisa disso, nós é que nos preocupamos com a reputação Dele.
Ele existe e muitos se preocupam ou tentam em provar que não é verdade. Sem sucesso. Morrerão loucos como tantos outros já extintos!
Bobagem, claro, mais uma..:-) Ninguém tenta "provar que deus não existe", da mesma forma que ninguém tenta "provar que Papai Noel não existe".
Não se provam inexistências. Apenas reconhecemos, ateus, que na falta de evidências dessa existência, não é razoável acreditar na mesma.
Um pouquinho de estudo de lógica ajudaria a evitar esse tipo de vexame Yo'el. Ajudaria muito..:-)
Quem afirma deve provar. É o chamado "ônus da prova". Mas só é valido para afirmações de existência ou em negativas de existência restritas. Não vale para negativas de existência genéricas.
Procure por logica e negativas de existência na rede, vai achar muito interessante, e vai ajudar a entender a besteira que escreveu (se quiser saber, claro, se prefere apenas "acreditar" é seu direito).
Cognite Tute
Argumentum ad ignorantiam. O fator "Deus" ao escopo do método científico está em aberto. Isso também inclui os diversos deuses de outras religiões. Não se pode afirmar que eles existem, bem como afirmar que eles não existem. Assumindo-se a um dos lados, é adquirir uma perspectiva ad ignorantiam. É ser ignorante. Negação da realidade (denial of reality). É o seu caso.
"Morrerão loucos como tantos outros já extintos!"
Argumentum ad metum. Esse argumento é um ilógico absurdo. Pois, a seu ver, tens o estudo da ciência como algo temerário, efêmero, inconstante e irrelevante. Assim, usas o fator "morte" como um pretexto para causar um fator emocional que visa fazer os demais a ficarem com medo. O sentimento não tem validade lógica. Pois é uma maneira de se desviar atenções.
Considerando-se o sóbrio comentário de Cognite Tute, afimando que sua crença é um direito, resguardado pelo oxímoro do livre arbítrio, posso dizer que, em seu caso, por força do excesso dele, adquiriste uma ignóbil posição imutável. Se queres realmente compreender ciência, não achas que está em tempo de navalhar hipóteses menos prováveis?
Dimidium facti qui coepit habet: sapere aude, incipe!
http://www.youtube.com/watch?v=8xidS64Ck9Q
Livros com 'Nada' de verdade levam milhões à morte; muitos dão tudo o que tem; há quem mate, chicoteie, odeie...tudo isso por 'Nada'.
Ao procurar argumentos que sustentam a fé, normalmente encontramos fundamentos que exigem fé e que não fornecem qualquer segurança lógica.
O 'Nada' Quântico é igualmente poderoso, com sua composição de 'energias' que, em certas condições geram ou 'bang', resultando em partículas e desencadeando processos físicos.
Acho que com mais 10 anos de Física Quântica teremos uma nova religião. Será uma crença de cultivo do 'Nada'.
Vamos pensar e ajudar a esclarecer e trazer soluções á hipóteses ainda não explicada a esta tese científica.
Não é uma revelação filosófica (apesar que Ciências é filosofia, mas nem toda filosofia é Ciências).
Isto é o que sabemos.
O que não sabemos, devemos pesquisar, nunca usar a falta de conhecimento como certeza de algo.
Argumentos ate agora nada
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