Título original: A África de Naipaul
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Quer conhecer um pouco sobre a África? Leia V. S. Naipaul. Recomendo. Aliás, o Nobel recomenda. Mas Nobel não basta. Saramago foi Nobel e sempre o achei um chato. Seu livro sobre Caim é um desfile de bobagens e desinformações sobre a Bíblia. Qualquer um que conheça um pouco desse clássico da literatura hebraica antiga perceberá que Saramago não entendia nada sobre o assunto.
Leia "A Máscara da África - Vislumbres das Crenças Africanas", publicado no Brasil pela Companhia das Letras. O livro traz a narrativa da recente visita de Naipaul a alguns países da África. O resultado é um jornalismo sofisticado em detalhes e reflexivo tanto na forma quanto no conteúdo.
O intrigante, hoje em dia, é que muito "inteligentinho" acha que combater o preconceito é inventar mitos de bondade e pureza sobre o "outro". Naipaul é um antídoto contra essa doença infantil.
Aliás, algo que surpreende Naipaul com relação à África é o fato de que muitos povos de lá não tinham alcançado a escrita antes de entrar em contato com muçulmanos e cristãos (ou seja, "ontem"), quase todo seu passado é mito e quase nada é história. É mais ou menos como viver em delírio constante quanto ao seu passado, sem saber o que de fato foi real e o que foi apenas devaneio.
É comum tratar Naipaul como "eurocêntrico", o que, por si só, já é uma boa recomendação, pois significa que a moçada politicamente correta, que exerce essa censura sem caráter, não gosta dele.
Não há nada no livro que nos remeta a "preconceitos", mas há, sim, muita coisa que revela a tristeza que ainda assola a África e que sempre existiu, mesmo antes dos absurdos que os brancos fizeram por lá. A grande mentira sobre a África é que os brancos tornaram-na violenta, pobre e infeliz. Não, ela é assim há muito tempo. Mas os europeus tampouco ajudaram.
Hoje em dia, é comum obrigar alunos a estudar a história da África. Pergunto-me como isso é feito. Temo que a África seja compreendida como um doce de coco que só não é melhor por culpa dos malvados brancos.
Não, todos os homens são maus, pouco importam cor, sexo, raça ou crença. Alguns poucos se destacam pelo bem. É verdade que esgotos, estradas e a recusa embutida nos sacrifícios humanos ajudem um pouco a você deixar de ser um bárbaro.
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Quer conhecer um pouco sobre a África? Leia V. S. Naipaul. Recomendo. Aliás, o Nobel recomenda. Mas Nobel não basta. Saramago foi Nobel e sempre o achei um chato. Seu livro sobre Caim é um desfile de bobagens e desinformações sobre a Bíblia. Qualquer um que conheça um pouco desse clássico da literatura hebraica antiga perceberá que Saramago não entendia nada sobre o assunto.
Leia "A Máscara da África - Vislumbres das Crenças Africanas", publicado no Brasil pela Companhia das Letras. O livro traz a narrativa da recente visita de Naipaul a alguns países da África. O resultado é um jornalismo sofisticado em detalhes e reflexivo tanto na forma quanto no conteúdo.
O intrigante, hoje em dia, é que muito "inteligentinho" acha que combater o preconceito é inventar mitos de bondade e pureza sobre o "outro". Naipaul é um antídoto contra essa doença infantil.
Aliás, algo que surpreende Naipaul com relação à África é o fato de que muitos povos de lá não tinham alcançado a escrita antes de entrar em contato com muçulmanos e cristãos (ou seja, "ontem"), quase todo seu passado é mito e quase nada é história. É mais ou menos como viver em delírio constante quanto ao seu passado, sem saber o que de fato foi real e o que foi apenas devaneio.
É comum tratar Naipaul como "eurocêntrico", o que, por si só, já é uma boa recomendação, pois significa que a moçada politicamente correta, que exerce essa censura sem caráter, não gosta dele.
Não há nada no livro que nos remeta a "preconceitos", mas há, sim, muita coisa que revela a tristeza que ainda assola a África e que sempre existiu, mesmo antes dos absurdos que os brancos fizeram por lá. A grande mentira sobre a África é que os brancos tornaram-na violenta, pobre e infeliz. Não, ela é assim há muito tempo. Mas os europeus tampouco ajudaram.
Hoje em dia, é comum obrigar alunos a estudar a história da África. Pergunto-me como isso é feito. Temo que a África seja compreendida como um doce de coco que só não é melhor por culpa dos malvados brancos.
Não, todos os homens são maus, pouco importam cor, sexo, raça ou crença. Alguns poucos se destacam pelo bem. É verdade que esgotos, estradas e a recusa embutida nos sacrifícios humanos ajudem um pouco a você deixar de ser um bárbaro.
O livro de Naipaul dá atenção especial às crenças africanas. A catequese cristã e a islâmica destruíram o tecido das crenças ancestrais de muitos africanos, os deixando nem lá nem cá.
Por exemplo, queimar pessoas vivas foi um hábito dos povos africanos até "ontem". Ou melhor dizendo, até "hoje".
Matar, despedaçar, cortar órgãos e queimar pessoas por razões religiosas (e outras) sempre foi uma prática comum entre povos de Uganda, por exemplo. Em grandes quantidades.
Sim, eu sei que europeus também fizeram isso. Lembra o que eu disse acima sobre os homens serem maus? Mas a questão aqui não é essa, mas, sim, combater o "preconceito" de que a miséria material e moral africanas tenham sido criadas pelos europeus.
O encontro de culturas que não conheciam a roda até "ontem" (é isso aí...) com os colonizadores europeus (que nunca tiveram nada de bonzinhos) criou países à deriva.
Exemplos de tragédias cotidianas entre populações pobres numa mesma edição de um jornal ugandense:
1 - "Homem queima dez pessoas numa cabana". Um homem briga com sua mulher, joga gasolina e toca fogo. Entre as dez pessoas, sete eram crianças.
2 - "Meu marido foi cortado em pedaços com um machado na minha frente". Além de matar o marido, o assassino cortou uma mão da mulher; enquanto despedaçava a vítima, acusava-a de poligamia, daí a suspeita de que algo de cristianismo x "paganismo" estava em jogo na "disputa".
3 - "Acusada de queimar filho vivo". Esse parece ser um gosto da "cultura ugandense" mais "primitiva": queimar gente viva; o filho de 18 meses estava num saco com as pernas atadas.
Fora as manchetes, a bruxaria é comum até hoje. Diretores de escolas podem ser mortos por serem acusados de bruxaria e irmãos podem matar sua tia de 42 anos, além de arrancar sua mandíbula e sua língua com o intuito de fazer mágica. Até hoje, a bruxaria é "oficial" em muitos lugares da África.
Puro neolítico?
Pessoas sendo queimadas em vídeo não são cristãs, dizem salesianos.
abril de 2011
Artigos de Luiz Felipe Pondé.
Por exemplo, queimar pessoas vivas foi um hábito dos povos africanos até "ontem". Ou melhor dizendo, até "hoje".
Matar, despedaçar, cortar órgãos e queimar pessoas por razões religiosas (e outras) sempre foi uma prática comum entre povos de Uganda, por exemplo. Em grandes quantidades.
Sim, eu sei que europeus também fizeram isso. Lembra o que eu disse acima sobre os homens serem maus? Mas a questão aqui não é essa, mas, sim, combater o "preconceito" de que a miséria material e moral africanas tenham sido criadas pelos europeus.
O encontro de culturas que não conheciam a roda até "ontem" (é isso aí...) com os colonizadores europeus (que nunca tiveram nada de bonzinhos) criou países à deriva.
Exemplos de tragédias cotidianas entre populações pobres numa mesma edição de um jornal ugandense:
1 - "Homem queima dez pessoas numa cabana". Um homem briga com sua mulher, joga gasolina e toca fogo. Entre as dez pessoas, sete eram crianças.
2 - "Meu marido foi cortado em pedaços com um machado na minha frente". Além de matar o marido, o assassino cortou uma mão da mulher; enquanto despedaçava a vítima, acusava-a de poligamia, daí a suspeita de que algo de cristianismo x "paganismo" estava em jogo na "disputa".
3 - "Acusada de queimar filho vivo". Esse parece ser um gosto da "cultura ugandense" mais "primitiva": queimar gente viva; o filho de 18 meses estava num saco com as pernas atadas.
Fora as manchetes, a bruxaria é comum até hoje. Diretores de escolas podem ser mortos por serem acusados de bruxaria e irmãos podem matar sua tia de 42 anos, além de arrancar sua mandíbula e sua língua com o intuito de fazer mágica. Até hoje, a bruxaria é "oficial" em muitos lugares da África.
Puro neolítico?
Pessoas sendo queimadas em vídeo não são cristãs, dizem salesianos.
abril de 2011
Artigos de Luiz Felipe Pondé.
Comentários
acho que o POndé recebe ´´um por fora´´ da ICAR.....pra combater o ateismo...
Usando a metáfora do futebol, Pondé parece aquele zagueiro que perde o tempo da bola e acaba atingindo o adversário, ou chutando a canela 'prá não perder a viagem', não entendi o que Saramago tem a ver com isso...
Aliás, tem um ranço de cristianismo nessa ideia de que há um "pecado original" cometido gerações atrás e do qual já nascemos culpados.
Isso é bem dito pela poesia, se se forem bem lidos os chamados clássicos, que os teóricos vivem criando mil teorias para dizer porque aquilo deve ser lido, e ignorando o que está no livro de fato: que a vida nunca foi, e nunca será, fácil. Sempre a vida nos colocará pedras e pedras em nosso caminho.
No entanto, Pondé assume uma posição deveras superficial e conservadora, e, pelo que me dizem algumas boas línguas, até financiada pela Opus Dei.
Abraços a todos.
a) ele comete a falácia do apelo irrelevante à autoridade ao citar V. S. Naipaul para embasar sua crítica fétida à África (esse lugar de onde vêm os demônios que os cristãos tanto combatem).
b) o texto não tem uma tese clara, parece apenas destinado a aplaudir Naipaul devido ao fato de o escritor estar afagando os preconceitos do articulista.
Digo, afirmo e desafio quem queira discutir, que o apelo de Pondé a Naipaul é uma falácia de APELO IRRELEVANTE À AUTORIDADE. É uma falácia bem chulé, diga-se de passagem, uma do tipo que revolta a inteligência.
V. S. Naipaul é um prêmio Nobel de LITERATURA. Isso pode fazer dele um grande ficcionista, mas não lhe dá uma capacidade extraordinária para entender e explicar a cultura africana. Aliás, conhecendo o pouco que conheço do autor, duvido que nesse livro ele faça isso. A obra que Pondé comenta é apenas literatura de viagem, com o olhar exótico do estrangeiro que passa uns tempos por um lugar. Somente mentalidades colonizadas conseguem valorizar de uma maneira tão forte o olhar do estrangeiro, do brazilianist, do antropólogo europeu em férias.
Mas tanto o brazilianist quanto o antropólogo tem o mérito de serem especialistas. Naipaul não é. Por isso sua obra tem o mesmo valor, literário, de qualquer outra literatura de viagem. Não é um ensaio autoritativo sobre a África, tanto quanto "Caim" (um romance) não é um ensaio autoritativo sobre crítica bíblica.
É nisso que consiste o APELO IRRELEVANTE À AUTORIDADE: evocar o nome de alguém famoso para validar sua posição, não sendo a pessoa evocada especialista no assunto:
- esse remédio deve ser bom porque a Regina Duarte recomenda.
- vou comprar esse carro porque a Hortência disse que tem um e gosta.
- a África é assim ou assado porque o V. S. Naipaul escreveu isso.
Tenho dito.
Aliás,essa falácia é o que menos importa no texto,já que o estilo do autor é mais informal, e é algo que ele faz quando fala de Dostoievsky.Óbvio,que num texto mais rigoroso,acadêmico e/ou não polemista isso não seria verdade,e a falácia deveria ser condenada.
Mas enfim,discutindo o texto em si e tendo aceitado o seu "espirito" estilístico,penso que:
1)Realmente os homens são maus em sua maioria e não,os africanos não são santos.E não,dizer isso não significa que ser preconceituoso.E os africanos praticavam atos hediondos muito antes do homem branco chegar.Há gente boa lá,mas também há gente muito ruim.Realmente é muito ridículo quem acha que a àfrica é composta apenas de gente legal vitimizada pelo capitalismo(ou-sei-lá-o que) opressor.
2)No entanto discordo do Pondé,ou melhor da aparente tentativa do Pondé,de chamar apenas a atenção para "o homem negro também é mau".Pq sim,isso é verdade como eu disse em 1),mas isso não isenta o homem branco europeu das suas atrocidades cometidas na África,do horror da escravidão e do descaso atual com o continente africano.Clichê ou não isso é também verdade,e não pode deixar de ser lembrado.Os crimes dos homens negros devem ser apontados mas os crimes dos homens brancos não podem ser esquecidos.
Realmente, Pondé é um fenômeno. Um cérebro descomunal. Nota-se pela afirmação.
Só um gênio, o maior de todos, poderia falar em nome de 6 bilhões de pessoas com toda essa propriedade.
Deveriam nomeá-lo para um prêmio intergaláctico dos séculos ad infinitum. Ele já definiu e classificou a natureza humana.
Realmente um fenômeno!!!
Concordaria apenas que grande parte da humanidade tem uma natureza fortemente inclinada à violência (má), pouco importam sexo, raça ou crença.
Dizer que todos são assim , parece-me um tanto exagerado. Mas, ainda admito, possível.
Sempre encontro mais razões para concordar com o Pondé, do que para criticá-lo. Não o considero (e tampouco a mim mesmo ou quem gosta do pensamento pondeniano), conservador. Considero fanáticos e paranóicos os que enxergam tanto conservadorismo no Pondé.
Ele apenas tenta inventigar, filosofica e imparcialmente, a essência da natureza humana.(dentro , evidentemente, daquilo que é possível fazer, nos limites de um coluna de jornal) e procurando não se situar em nenhum pólo ou extremidade do debate (que quase sempre tendem a ter leituras mais infantis e superficiais - não dialéticas - das coisas). Ele apenas procura ser um pensador centrado e com isso, é suficiente, para provocar a ira dos extremistas radicias. Incrível.O que é a paixão fanática, não é?
Quem escravizou no passado e quem foi escravizado(negros e brancos) estão mortos e enterrados.Faria um bem enorme a toda a humanidade usar os malfeitos antigos como aprendizado e não esse eterno apontar de dedos que não acaba nunca e cujos grandes vilões são sempre os malvados brancos europeus!
Por acaso alguém já se deu conta de que esses vilões horrendos já fizeram (e fazem) grandes contribuições à humanidade? Claro que não ,só conseguem se lembrar que os europeus(assim como africanos) também achavam normal escravizar seus semelhantes.
Cadê a novidade? Gente é assim...
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