Título original: Ontologia leviana dos seios
por Luiz Felipe Pondé
para Folha
Hoje acordei um tanto leviano. Em dias assim, falo a sério de filosofia. O niilista respira identificando em toda parte a morte da metafísica. Pra quem não sabe, a metafísica é a "ciência" segundo a qual existiria um mundo de formas eternas e plenas, invisível aos olhos, mas visível ao "espírito".
Engraçado como muita gente combate a artificialização da beleza do corpo em nome de uma beleza "natural". O que essa gente não entende é que se a metafísica morreu, a existência de uma natureza "natural" também morreu, porque tudo neste mundo da matéria é impermanente, vago, impreciso, e, acima de tudo, dolorido.
Com a morte de Deus (símbolo máximo da morte da metafísica), o corpo velho é apenas um corpo feio e decadente. Se Deus não existe, toda beleza artificial é permitida. Logo, viva o silicone.
Mas não quero falar de Deus, quero falar de seios.
A vida pode ser miserável e pequena. Triste constatação. Mas miserável pode ser apenas a constatação de que anatomia é destino, como dizia Freud. O corpo, essa massa mortal que perde a forma com o tempo, é nosso lar, uma casa em que habitamos e que nos abandona, deixando-nos a herança do pó.
"A Pele em que Habito", título do novo e maravilhoso filme de Almodóvar, define nosso destino. Mas não vou falar do filme, pois é aquele tipo de filme de que quanto menos se fala, melhor, porque quando se fala dele, corre-se o risco de falar demais.
O freudiano, agostiniano e dostoievskiano Nelson Rodrigues, o maior filósofo brasileiro, escreveu um livro chamado "Asfalto Selvagem, Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores", no qual a heroína Engraçadinha, segundo ele, seria infeliz porque tinha seios belos demais.
O mundo não perdoa a (a falta de) beleza, seja ela visível ou invisível. Por um seio bonito, mata-se e morre-se. No mínimo paga-se caro.
Acho que o SUS deveria pagar cirurgias plásticas para mulheres pobres colocarem silicone nos seios. Por que não? Travestis gozam de cirurgias de mudança de sexo, por que nossas mulheres não deveriam ter o direito de ficarem mais belas?
Ontologia é a disciplina da filosofia que estuda as essências das coisas e dos seres vivos. A ontologia diz o que você é. A ontologia da mulher passa pelos seios, pelas pernas e pela doçura, assim como a do homem pela potência e pelo dinheiro. O resto é mentira.
Tanta tinta corre no mundo em nome da política e da economia, e, ainda assim, os seios podem decidir a vida e o amor verdadeiro. Diante deles, a alma desfalece em desejo. Como disseram filósofos no passado, se o nariz de Cleópatra fosse diferente, a história do Ocidente teria sido outra.
Fala-se muito que devemos dar valor à alma, ao que se tem "dentro de si", ao que se "é", e não ao que se "tem", mas, o dia a dia, aquele mesmo em que acordamos atordoados pela constante constatação de nossas carências e impotências, parece dizer o contrário. O futuro pode sim ser julgado pela beleza dos seios.
Isso pode ser um indicativo da solidão do mundo no qual só a matéria existe. O niilismo, assim como o Demônio, o maior de todos os humanistas, respeita a angústia das feias.
Este fato, como todo fato obscenamente verdadeiro, pede silêncio de nossa parte. Mas eu, que peco constantemente em nome do vício, confesso: as pessoas quase sempre fazem tudo pelo que podem ter e não pelo que podem ser. E, muitas vezes, o "ser" é decorrente do "ter". E não falo de grana, falo de seios.
Fosse Platão um admirador do sexo frágil, abriria seu diálogo "O Banquete" (sobre o amor) pela ontologia dos seios da mulher.
Sendo assim, a indústria da beleza deveria receber maior atenção da filosofia e não apenas suas pedras de desprezo.
Colocar silicone pode ser um pedido discreto de amor. Uma forma tímida de buscar o olhar negado. Com o tempo, a forma dos seios abandona o mundo, ficando presa no mundo miserável do passado. Não se pode pegar com a mão ou com a boca a lembrança dos seios perdidos, apenas a forma dos seios reconstituídos.
A beleza artificial é uma batalha discreta contra o vazio do corpo e da alma.
Como achar uma mulher gostosa sem pensar nela como objeto?
julho de 2011
Artigos do Pondé.
por Luiz Felipe Pondé
para Folha
Hoje acordei um tanto leviano. Em dias assim, falo a sério de filosofia. O niilista respira identificando em toda parte a morte da metafísica. Pra quem não sabe, a metafísica é a "ciência" segundo a qual existiria um mundo de formas eternas e plenas, invisível aos olhos, mas visível ao "espírito".
Engraçado como muita gente combate a artificialização da beleza do corpo em nome de uma beleza "natural". O que essa gente não entende é que se a metafísica morreu, a existência de uma natureza "natural" também morreu, porque tudo neste mundo da matéria é impermanente, vago, impreciso, e, acima de tudo, dolorido.
Com a morte de Deus (símbolo máximo da morte da metafísica), o corpo velho é apenas um corpo feio e decadente. Se Deus não existe, toda beleza artificial é permitida. Logo, viva o silicone.
Mas não quero falar de Deus, quero falar de seios.
A vida pode ser miserável e pequena. Triste constatação. Mas miserável pode ser apenas a constatação de que anatomia é destino, como dizia Freud. O corpo, essa massa mortal que perde a forma com o tempo, é nosso lar, uma casa em que habitamos e que nos abandona, deixando-nos a herança do pó.
"A Pele em que Habito", título do novo e maravilhoso filme de Almodóvar, define nosso destino. Mas não vou falar do filme, pois é aquele tipo de filme de que quanto menos se fala, melhor, porque quando se fala dele, corre-se o risco de falar demais.
O freudiano, agostiniano e dostoievskiano Nelson Rodrigues, o maior filósofo brasileiro, escreveu um livro chamado "Asfalto Selvagem, Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores", no qual a heroína Engraçadinha, segundo ele, seria infeliz porque tinha seios belos demais.
O mundo não perdoa a (a falta de) beleza, seja ela visível ou invisível. Por um seio bonito, mata-se e morre-se. No mínimo paga-se caro.
Acho que o SUS deveria pagar cirurgias plásticas para mulheres pobres colocarem silicone nos seios. Por que não? Travestis gozam de cirurgias de mudança de sexo, por que nossas mulheres não deveriam ter o direito de ficarem mais belas?
Ontologia é a disciplina da filosofia que estuda as essências das coisas e dos seres vivos. A ontologia diz o que você é. A ontologia da mulher passa pelos seios, pelas pernas e pela doçura, assim como a do homem pela potência e pelo dinheiro. O resto é mentira.
Tanta tinta corre no mundo em nome da política e da economia, e, ainda assim, os seios podem decidir a vida e o amor verdadeiro. Diante deles, a alma desfalece em desejo. Como disseram filósofos no passado, se o nariz de Cleópatra fosse diferente, a história do Ocidente teria sido outra.
Fala-se muito que devemos dar valor à alma, ao que se tem "dentro de si", ao que se "é", e não ao que se "tem", mas, o dia a dia, aquele mesmo em que acordamos atordoados pela constante constatação de nossas carências e impotências, parece dizer o contrário. O futuro pode sim ser julgado pela beleza dos seios.
Isso pode ser um indicativo da solidão do mundo no qual só a matéria existe. O niilismo, assim como o Demônio, o maior de todos os humanistas, respeita a angústia das feias.
Este fato, como todo fato obscenamente verdadeiro, pede silêncio de nossa parte. Mas eu, que peco constantemente em nome do vício, confesso: as pessoas quase sempre fazem tudo pelo que podem ter e não pelo que podem ser. E, muitas vezes, o "ser" é decorrente do "ter". E não falo de grana, falo de seios.
Fosse Platão um admirador do sexo frágil, abriria seu diálogo "O Banquete" (sobre o amor) pela ontologia dos seios da mulher.
Sendo assim, a indústria da beleza deveria receber maior atenção da filosofia e não apenas suas pedras de desprezo.
Colocar silicone pode ser um pedido discreto de amor. Uma forma tímida de buscar o olhar negado. Com o tempo, a forma dos seios abandona o mundo, ficando presa no mundo miserável do passado. Não se pode pegar com a mão ou com a boca a lembrança dos seios perdidos, apenas a forma dos seios reconstituídos.
A beleza artificial é uma batalha discreta contra o vazio do corpo e da alma.
Como achar uma mulher gostosa sem pensar nela como objeto?
julho de 2011
Artigos do Pondé.
Comentários
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Não vejo conexão nessa analogia.
Parece ser um Argumentum non sequitur.
"É tudo culpa dos materialistas, que não acreditam em deus ou espíritos". Qual a conexão lógica disso?
Ele crê como que acreditar na alma e em deus implica em dedicar a vida à algo maior, pessoas que não acreditam ficam presas em sua própria existência.
Bem, eu sou materialista. Não creio na existência da alma. Isso para mim torna minha vida e eu, meu corpo, a coisa mais importante do mundo. É a minha única posse, é a minha única maneira de viver, de interagir com o resto do universo. É a minha fonte de prazer - e ninguém tem coisa alguma a ver com os prazeres que possa sentir - e ao mesmo tempo bem bem mais frágil, necessitando da maior proteção que eu possa conseguir.
Não sou afixionado pela beleza "artificial" do meu corpo ou de quem quer que seja. Acho que quem quiser modificar o próprio corpo, com tatuagem, silicone, plásticas, pircings, que faça, desde que isso o faça se sentir bem.
O corpo do indivíduo é sua única propriedade real.
Não vejo problema em uma mulher colocar silicone nos seios. Se ela se sentir mal com os seios pequenos, hoje há tecnologia (ah, maldita tecnologia!) para deixar seus seios maiores. Mas que faça por ela e PARA ela. Sim, alguns chamam isso de egoísmo, eu chamo de uso legítimo do próprio corpo para benefício e prazer próprio.
Mas se você modifica seu corpo mas ainda sim não se sente bem, acho necessário procurar um especialista. É caso de doença mesmo, e não de falta de deus.
A maneira como Pondé fala dos autores me lembra o Augusto Cury, se auto intitulando já ter sido um "dos maiores ateístas do mundo".
-Desde quando "alma" representa apenas o sentido religioso da "substância" que sobrevive após a morte?Alma é também o espírito humano,suas angústias,duvidas,conquistas,felicidades.Alma é também Arte.
-Pondé parece dizer aqui que dado que a sociedade se tornou materialista,mesmo a Alma(Arte),precisa do corpo,tudo passa por ele,então por mais que sejam "elevados" o seus sentimentos por uma mulher,certamente eles começaram com um "tesão" pelos peitos ou pela bunda da Dama.O que torna inevitável se render a indústria de beleza.Ora,fazer o que,se a mulher pode aumentar a bunda e o peito,porque não?
-Mas ele não tem obrigação de constatar isso alegrinho,ele constata com tristeza.
-Se ele é um niilista de verdade(não sei se ele o é),ele admite a falta de sentido nas coisas,admite que ok,nada errado em por silicone,mas não tem que ficar feliz com isso.
-Porque no fundo,todos buscamos uma certa "metafísica" para nossas vidas(inclusive os materialistas) e quando esta morre de fato,bem surge um vazio tão grande, que textos sanitários e certinhos do tipo Globo Reportér(coloque silicone se isso fazer bem,coma verduras que isso faz bem,não fume,pq faz mal) simplesmente não conseguem preencher.
Se vc fosse um leitor, talvez vc entenderia a analogia citada por vc...
Em os Irmaos Karamasov, de Dostoievski, um autor que o Ponde alude em quase todos os seus textos, existe a maxima: Se Deus não existe, tudo é permitido...
Não que Ponde seja um genio, mas ler Ponde não é para qualquer um...
E como precisamos disso!
Que façam proveito desta dadiva , da maneira que mais lhe convier, para dar e receber amor.
Aconselho a leitura de "Contra um mundo melhor", fica mais fácil entendê-lo.
Se D'us morreu, ele ainda me parece bem vivo no inconsciente brasileiro. Tudo está longe de ser permitido por aqui.
Falar em "ser" sem "ter", é um tanto obsoleto. Coisa de nobreza falida, Homem dos Lobos de Freud, Princesa fulana de Orleans e Bragança (que ainda tem muito). Uma premissa basica da igualdade de direitos, dominação burocrática-legal de Hegel, direitos civís, é que você tem permissão de "ter" para "ser". O seu "ser" pode ser atingido/modificado pelo seu "ter". Triste sinal dos tempos ? Seria melhor na Idade Média quando seu "ser" era definido por nascença ?
Antes, quando fisgava-se o homem pela boca, as mulheres aprendiam a cozinhar. Não seria esta uma artificialidade ? Certamente um artifício.
Hoje, pede-se uma pizza pelo telefone.
A história da maquiagem é tão antiga quanto a Filosofia. A única diferença é que o silicone não sai na água.
Porque os textos de Pondé são postados aqui?
Coloca Olavo de Carvalho e sua astrologia, pelo menos é piada pronta, dá pra dar risada, Pondé é apenas triste de ler.
Tem loucos que são engraçados, tem outros que são tristes, Pondé é o segundo, além de ter um mal-caratismo e hipocrisia enojante.
Se é pra colocar um "intelectual" religioso, coloca Olavo, Olavo pelo menos não é falso e esquivo, nem um misógino altamente recalcado feito esse Pondé.
Olavo escreve na cara, Pondé faz curvas e curvas e mais curvas; assopra, assopra e morde ao escrever suas imbecilidades.
2-A máxima correta é: "Em nome de um deus, tudo é permitido... de massacre civil a guerras sangrentas, de mutilação genital de crianças a limpeza étnica".
Pensei que os crentelhas já se cansaram desse argumento infantiloide mais do que rebatido de "falta de moral dos ateus", mas aí vai:
http://www.youtube.com/watch?v=UaY_8tye8cI
http://www.youtube.com/watch?v=sWnRCnLsqCk
http://bulevoador.haaan.com/2010/11/18851/
3- E realmente Anonimo, ler Ponde não é pra qualquer um, talvez uma lobotomia tornasse mais fácil eu ler tanta merda travestida de "ensaio cristão intelectual e profundo".
o cara que tem pouco dinheiro, em geral, tera que se contentar em apenas sonhar com uma mulher de belos seios em seus bracos (no meu caso, devo consignar que nao valorizo apenas a beleza corporal feminina, mas seu intelecto tambem, o que torna tudo ainda mais dificil, ja que as mais bonitas nao costumam ser as mais inteligentes e vice-versa...)
Portanto, o Diabo é a moda que te afasta do livre arbítrio racional. E a moda, por sua vez, é algo a ser seguido. Mas o que deve ser seguido é a verdade, e a verdade é Deus. Logo, diabo = moda = verdade = Deus.
Como um sujeito que é dono da tese "o importante é ser de várias" se casa e decide ter uma mulher só?
Ele é um fracassado que gosta de dar a idéia de que pegou várias quando podia.
Quem vê parece que ele pegou várias mulheres lindas e inteligentes.
Queria ver a mulher dele pra ver se ele é interessante pra elas.
Já amei Pondé, mas passou. E ele passou do materialismo e niilismo para uma espiritualidade teológica brilhante...no entanto, agora fica nessas banalidades...nem discordo totalmente do que ele diz aí, mas é fraco, fraco, fraco...já quando ele dá as palestras dele, o brilho volta!
É claro que acho toda essa baboseira de academia e cultura do corpo fútil.
E gente "bonita" (sim, beleza é relativa)e imbecil, brocha qualquer ser humano que pensa.
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