Título original: O adeus do ateu Hitchens
por Antonio Gonçalves Filho, do Estadão
Morto na quinta-feira à noite, aos 62 anos nos Estados Unidos, de pneumonia, consequência de um câncer no esôfago, o escritor e jornalista britânico Christopher Hitchens já não incomoda seus opositores. Deixou um testamento na última edição da revista Vanity Fair que vai dar argumentos a eles, por promover uma revisão em seus credos. Não que Hitchens, autoclassificado antiteísta - note, antiteísta, não ateísta - tenha se convertido no leito de morte, apesar de acompanhado nos últimos dias por um pastor evangélico, Francis Colllins, que tem cuidado de pacientes terminais mapeando seus genomas.
Hitchens, autor de Deus não É Grande (Ediouro), entre outros livros, passou a vida toda repetindo uma frase de Nietzsche que lhe parecia bastante apropriada para um homem como ele, atacado por todos os lados, pela esquerda e direita. Traduzida livremente, a frase (Was mich nicht umbringt macht mich stärker) toma o seguinte sentido: o que não me mata, me faz mais forte. No leito de morte, ela lhe pareceu ridícula. Hitchens, então, escolheu outra epígrafe, a do poeta Kingsley Amis. Ela, afinal, faz mais sentido para uma vida como a sua. Amis diz no poema que a morte não precisa de ninguém para explicá-la, que ela vem a todos para nos libertar dessa obrigação. E foi com essa epígrafe que ele se despediu dos leitores na Vanity Fair, agregando a ela um verso de It's Alright, Ma, de Bob Dylan, para provar que era mesmo um pensador pop.
Hitchens foi um dos mais badalados polemistas na segunda metade do século, seguindo a tradição de George Orwell, sobre o qual, aliás, escreveu o brilhante A Vitória de Orwell (Companhia das Letras), roteiro crítico das ideias do autor da distopia 1984, em que desmonta teses consagradas sobre o seu compromisso ideológico - ele, que condena no livro uma sociedade totalitária. A exemplo de Orwell, Hitchens teve um namorico com a classe trabalhadora inglesa (em 1965) décadas antes de dar seu apoio à Guerra do Iraque e aos neoconservadores americanos, adotando os EUA como segunda pátria. Socialista na juventude, militou contra a Guerra no Vietnã, até proclamar há dez anos que o capitalismo havia se tornado o sistema econômico mais revolucionário e saudar a globalização como "inovadora e internacionalista".
Em 2001, logo após os ataques de 11 de Setembro, Hitchens cunhou a expressão "fascismo com face islâmica" para atacar os fundamentalistas muçulmanos e defender uma política intervencionista no Iraque. Ao mesmo tempo, vociferava contra figuras do mundo católico como Madre Teresa de Calcutá, argumentando que ela era uma espécie de porta-voz do que havia de mais reacionário na Igreja Católica. A fé em Deus ou em qualquer entidade suprema, segundo Hitchens, não passaria de uma crença totalitária que destruiria as liberdades individuais. Deus não criou o homem à sua imagem, evidentemente foi o contrário, dizia. Essa era a certeza moral de Hitchens. Suas objeções à fé religiosa diziam também respeito ao fato de que ela representa de forma equivocada a origem do homem e do cosmos, reprime sexualmente as criaturas e desconsidera outras formas de pensar (inclusive a sua, herdada dos iluministas franceses). Sua crítica à religião foi devastadora e, de certo modo, tirou o foco de outros temas abordados de forma menos passional por Hitchens.
Saudado por Gore Vidal como seu herdeiro intelectual, o polêmico Hitchens não se comoveu com o elogio e atacou o autor americano num artigo para a Vanity Fair, Vidal Loco, em que condenou sua adesão às teses conspiratórias do 11 de Setembro. Hitchens defendeu a política intervencionista de Bush, embora tenha criticado a ação das tropas americanas e condenado os abusos e torturas em Abu Ghraib. Antes disso houve Kissinger nos EUA, o embrião desse "imbróglio" em que a América se meteria, defende em seu livro O Julgamento de Kissinger (Boitempo Editorial), explosivo libelo contra o secretário de Estado da era Nixon. Esse mesmo Hitchens enviou à ministra Margaret Thatcher um telegrama (em 1982) apoiando a Guerra das Malvinas, por supor que ela combatia a ditadura de Leopoldo Galtieri (1926-2003).
As contradições de Hitchens não o impediram de manter as velhas amizades conquistadas na Inglaterra - Martins Amis, Ian McEwan e Salman Rushdie, entre outros. Sobre o último, Hitchens defendeu o autor de Versos Satânicos da sentença de morte (fatwa) decretada pelos fundamentalistas islâmicos. Rushdie despediu-se dele comovido: "Adeus, meu amigo querido. Uma grande voz cai silente. Um grande coração para".
Há exatamente um ano, a Editora Nova Fronteira lançou a obra fundamental para entender o pensamento desse que será lembrado no futuro como um ensaísta corajoso e independente como Aldous Huxley. Hitch-22, seu livro de memórias, é de uma franqueza desconcertante. Nele, Hitchens conta sua infância em Portsmouth, cidade portuária do Sul da Inglaterra, sua formação católica, a descoberta das origens judaicas de sua família, as primeiras aventuras homossexuais no internato e o pacto de suicídio da mãe com o amante na Grécia, onde viria a conhecer sua primeira mulher, Eleni Meleagrou, uma cipriota grega com quem teve dois filhos, Alexander e Sofia. Hitchens casou-se ainda uma segunda vez com a escritora californiana Carol Blue, com quem teve uma filha, Antonia. Dependente de álcool e fumante, Hitchens conclui sua autobiografia dizendo que a defesa da ciência e da razão é o grande imperativo de nossa época.
Hitchens defendia o combate à nefasta influência de Deus na sociedade.
por Luiz Felipe Pondé em dezembro de 2011
Mais sobre Hitchens. Ateísmo
por Antonio Gonçalves Filho, do Estadão
Hitchens desistiu da citação
'o que não me mata me fortalece'
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Hitchens, autor de Deus não É Grande (Ediouro), entre outros livros, passou a vida toda repetindo uma frase de Nietzsche que lhe parecia bastante apropriada para um homem como ele, atacado por todos os lados, pela esquerda e direita. Traduzida livremente, a frase (Was mich nicht umbringt macht mich stärker) toma o seguinte sentido: o que não me mata, me faz mais forte. No leito de morte, ela lhe pareceu ridícula. Hitchens, então, escolheu outra epígrafe, a do poeta Kingsley Amis. Ela, afinal, faz mais sentido para uma vida como a sua. Amis diz no poema que a morte não precisa de ninguém para explicá-la, que ela vem a todos para nos libertar dessa obrigação. E foi com essa epígrafe que ele se despediu dos leitores na Vanity Fair, agregando a ela um verso de It's Alright, Ma, de Bob Dylan, para provar que era mesmo um pensador pop.
Hitchens foi um dos mais badalados polemistas na segunda metade do século, seguindo a tradição de George Orwell, sobre o qual, aliás, escreveu o brilhante A Vitória de Orwell (Companhia das Letras), roteiro crítico das ideias do autor da distopia 1984, em que desmonta teses consagradas sobre o seu compromisso ideológico - ele, que condena no livro uma sociedade totalitária. A exemplo de Orwell, Hitchens teve um namorico com a classe trabalhadora inglesa (em 1965) décadas antes de dar seu apoio à Guerra do Iraque e aos neoconservadores americanos, adotando os EUA como segunda pátria. Socialista na juventude, militou contra a Guerra no Vietnã, até proclamar há dez anos que o capitalismo havia se tornado o sistema econômico mais revolucionário e saudar a globalização como "inovadora e internacionalista".
Em 2001, logo após os ataques de 11 de Setembro, Hitchens cunhou a expressão "fascismo com face islâmica" para atacar os fundamentalistas muçulmanos e defender uma política intervencionista no Iraque. Ao mesmo tempo, vociferava contra figuras do mundo católico como Madre Teresa de Calcutá, argumentando que ela era uma espécie de porta-voz do que havia de mais reacionário na Igreja Católica. A fé em Deus ou em qualquer entidade suprema, segundo Hitchens, não passaria de uma crença totalitária que destruiria as liberdades individuais. Deus não criou o homem à sua imagem, evidentemente foi o contrário, dizia. Essa era a certeza moral de Hitchens. Suas objeções à fé religiosa diziam também respeito ao fato de que ela representa de forma equivocada a origem do homem e do cosmos, reprime sexualmente as criaturas e desconsidera outras formas de pensar (inclusive a sua, herdada dos iluministas franceses). Sua crítica à religião foi devastadora e, de certo modo, tirou o foco de outros temas abordados de forma menos passional por Hitchens.
Saudado por Gore Vidal como seu herdeiro intelectual, o polêmico Hitchens não se comoveu com o elogio e atacou o autor americano num artigo para a Vanity Fair, Vidal Loco, em que condenou sua adesão às teses conspiratórias do 11 de Setembro. Hitchens defendeu a política intervencionista de Bush, embora tenha criticado a ação das tropas americanas e condenado os abusos e torturas em Abu Ghraib. Antes disso houve Kissinger nos EUA, o embrião desse "imbróglio" em que a América se meteria, defende em seu livro O Julgamento de Kissinger (Boitempo Editorial), explosivo libelo contra o secretário de Estado da era Nixon. Esse mesmo Hitchens enviou à ministra Margaret Thatcher um telegrama (em 1982) apoiando a Guerra das Malvinas, por supor que ela combatia a ditadura de Leopoldo Galtieri (1926-2003).
As contradições de Hitchens não o impediram de manter as velhas amizades conquistadas na Inglaterra - Martins Amis, Ian McEwan e Salman Rushdie, entre outros. Sobre o último, Hitchens defendeu o autor de Versos Satânicos da sentença de morte (fatwa) decretada pelos fundamentalistas islâmicos. Rushdie despediu-se dele comovido: "Adeus, meu amigo querido. Uma grande voz cai silente. Um grande coração para".
Há exatamente um ano, a Editora Nova Fronteira lançou a obra fundamental para entender o pensamento desse que será lembrado no futuro como um ensaísta corajoso e independente como Aldous Huxley. Hitch-22, seu livro de memórias, é de uma franqueza desconcertante. Nele, Hitchens conta sua infância em Portsmouth, cidade portuária do Sul da Inglaterra, sua formação católica, a descoberta das origens judaicas de sua família, as primeiras aventuras homossexuais no internato e o pacto de suicídio da mãe com o amante na Grécia, onde viria a conhecer sua primeira mulher, Eleni Meleagrou, uma cipriota grega com quem teve dois filhos, Alexander e Sofia. Hitchens casou-se ainda uma segunda vez com a escritora californiana Carol Blue, com quem teve uma filha, Antonia. Dependente de álcool e fumante, Hitchens conclui sua autobiografia dizendo que a defesa da ciência e da razão é o grande imperativo de nossa época.
Hitchens defendia o combate à nefasta influência de Deus na sociedade.
por Luiz Felipe Pondé em dezembro de 2011
Mais sobre Hitchens. Ateísmo
Comentários
Deus existe, a prova disto é o amor e a familia.
a ciencia e fama jamais daria esta riqueza ao ser humano.
O Pai de Hitchens morreu com câncer no esôfago, também. Ou seja, Christopher (que significa PORTADOR DE CRISTO) já tinha um histórico familiar que o apontava como possível canceroso. Por prazer, ou quem sabe pelo desejo de auto-destruiçao ele se entupia de bebida alcoólica e fumava um cigarro atrás do outro.
A hipótese de auto-extermínio, acima, é apoiada no pacto de suicídio da mãe dele com o amante grego. Ou seja, o exemplo materno e uma possível predisposição genética a distúrbios mentais o levaram, possivelmente, à auto-agressão.
Também fica claro em sua "franca?" biografia um desejo incontido de consumir-se: homossexualismo precoce, dois casamentos...
O abandono do catolicismo se explica pela descoberta de suas origens judaicas. E tais origens explicam sua campanha a favor da Guerra EUA x Iraque.
Com uma obra tão vasta, ele deveria ser capaz de cunhar uma frase para si mesmo. Não o fez porque suas idéias são apenas críticas desonestas a obras de outros escritores e pensadores.
No entanto, é possível que a Morte o fortaleça e seja a explicação para novas visões entre ateus e agnósticos.
Outras religiões q ñ tem deus, tbm prega o amor e à família......Senta lá, Cláudia
à Senhora Crente:
Todos nós somos responsáveis pelos problemas q poderemos ter, afinal, é um reflexo do modo de vida de cada um. Todos nós sabemos os malefícios do cigarro e álcool. Se vc quiser usar, isso é de total responsabilidade sua (e ñ é baseado em auto-destruição, mas responsabilidade de arcar com as consequências).
Seu argumento do nome é ridículo, afinal, Samael significa "O veneno de deus". E aí? Michael significa "Aquele q se parece com deus", então todo Michael é jus ao nome? ¬¬
Eu ñ concordava com o antiteísmo dele, mas concordava em escancarar, enfrentar e aniquilar os abusos, tabus e preconceitos q a religião prega e muitos ñ notam (como vc).
Não tome seus pensamentos e disposições presentes como medida para todo mundo. Há, sim, pessoas que optam por se destruir. Muitos não querem usar meio traumáticos, usam o que há de comum e menos criticável. Afundar-se no álcool e no cigarro; dedicar todo seu tempo ao trabalho, ignorando a família e o mundo lá de fora; largar tudo e sair andando pelo mundo...
Esse comportamento resulta de angústias "irresolvíveis" pelo indivíduo que, acovardado pela dor de uma morte violenta, opta pelos venenos da nossa sociedade.
Quanto ao nome, fiz apenas uma observação, sem tentar provar nada.
"Tá lendo aqui? Tá lendo o que a mamãe escreveu sobre esse ateu 'satânico'?
Isso é o que vai acontecer com você se não acredita no nosso 'deus do amor'."
Religião me dá náuseas.
Ou seja nada...
ficar falando que vai pro céu ou inferno é hipocrisia, como se um livro fosse dizer o que tem depois da morte.
- Você tá de sacanagem, né?
Tomara que se converteu desta cegueira chamada; ateismo.
Deus existe, a prova disto é o amor e a familia.
a ciencia e fama jamais daria esta riqueza ao ser humano.
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Incrível como crédulos nas lendas do deus de Abraão repetem essas besterias ad infinitum.
Eles adoram tragédias pessoais pra justificar as lendas nas quais eles acreditam.
Tomara que se converteu desta cegueira chamada; ateismo.
Deus existe, a prova disto é o amor e a familia.
a ciencia e fama jamais daria esta riqueza ao ser humano.
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Argumentum ad ignorantiam.
Aham.. aquele que considerar outras formas de pensar que sejam contrárias às suas que atire a primeira pedra. Porque ele não foi capaz de ser diferente de quem criticava.
Aff.. tô cansando de fanáticos religiosos criticando outros fanáticos religiosos. Disso o mundo tá cheio! E tem gente que ainda acha que ser religioso é exclusivamente crer em um Deus monoteísta.
Quando alguém com ideias que sejam de verdade uma alternativa a essa briguinha Deus/não Deus morrer, me digam. Porque esse aí tá mais pra um "Lado B" de um mundo que tem um "Lado A" também alienado. Mas não deixa de compor o mesmo disco.
Thor existe se não de onde vem os trovões.
As guerras provam que Ares existe.
O vinho prova que Baco existe.
Uma lampada prova que Heimdall o Deus nórdico da Luz existe.
A poesia e a eloquência provam que o deus Bragi(outro deus nórdico) existe.
Agora sabe.
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