Pular para o conteúdo principal

Igreja vende fé como escova de dentes, afirma marqueteiro

por Nadia-Moulai Henni, da revista Témoignage Chrétien

Jaffrain diz que a
 Igreja Católica faz 
marketing comercial
Éric Jaffrain (foto), consultor de marketing de organizações sem fins lucrativos, tendo criado o conceito de gift economy, a economia do dom, faz uma análise de um negócio como nenhum outro, que combina marketing e religião. Ele é autor de La Guérison de l'économie (Ed. Jouvence), que será publicado em 2012.

Segue entrevista com ele.

Você fala da Igreja como um "produto". O que significa?

Há diversos anos, a Igreja (católica) apresenta a religião como se apresenta um produto de consumo, utilizando a abordagem nascida do marketing comercial. A meu ver, trata-se de um erro estratégico fundamental: a Igreja não deve vender a si mesma, mas sim o seu produto central. Não se vende a fé como uma escova de dentes.

A Igreja seria, portanto, uma empresa...

Absolutamente! Mas que não possui clareza na sua visão, na sua missão e nos seus produtos. A sua estratégia de empresa está muito ligada à sua própria marca, à medida que tenta vendê-la como produto central. Hoje, a Igreja defende mais a sua própria empresa do que Deus, no sentido de que a embalagem (ritos, formas de devoção, atmosfera, hierarquia) se torna o modo de consumo inevitável. Nisso, a instituição substituiu a figura divina: acima de tudo, vocês não são fiéis crentes, mas sim católicos.

Por quê?

Porque o pensamento coletivo vem antes da devoção pessoal. Se um padre, por exemplo, quer se expressar de maneira diferente dos procedimentos estabelecidos, a sua iniciativa será limitada, senão impedida pela hierarquização. Todo dignitário católico depende dos seus "superiores", assim como o membro individual desse movimento. Mas podemos dizer que ela também teve os seus "indignados" desde os anos 1980, com o movimento carismático (le Renouveau), que obrigou a uma maior liberdade, como fizeram os jesuítas ou os dominicanos muitos séculos antes. Os dominicanos, recuperados pela instituição, reforçaram o seu poder administrativo.

Esse marketing muito especial não está na base de uma forma de proselitismo?

Em certo nível, sim. Os números recentes mostram isso. No mundo, o catolicismo mostra uma tendência à diminuição, ao contrário do protestantismo e do Islã. Toda a estratégia de marketing consiste em reconquistar "as quotas de mercado" perdidas, com o apoio de campanhas de comunicação, para dar uma imagem jovem e um new look para a instituição. Daí surge uma verdadeira estratégia de marketing implementada com relação aos indivíduos. Uma religião que quer conservar as suas quotas de mercado adota uma linha de conquista, como as empresas concorrentes.

Portanto, fala-se de modos de consumo e de religião...

Esse é o risco. A Igreja, como qualquer outra religião, que vende a si mesma em vez de tornar a espiritualidade acessível, toma o lugar de Deus. Mesmo que não se fale diretamente de marketing comercial, os métodos são extremamente semelhantes: a religião, para manter a sua liderança, multiplicará os modos de consumo: quase inevitavelmente, chegará a propor produtos apelativos, atraentes, populistas, opressivos, para melhorar a instituição, em detrimento do consumo do produto central, ou seja, a fé.

Mas talvez as coisas estejam mudando e obrigarão as religiões à mudança: o cidadão busca se afastar da instituição para estar mais perto de um Deus que ele reivindica ser o seu, antes de ser o da instituição. O produto exigido não é mais a Igreja, mas sim a fé, Deus, Jesus. A sociedade civil se apropria do religioso, que se torna "ecológico". Não nos esqueçamos que o valor de um produto é dado por aquele que o consome, e não por quem o vende. Um produto é "bom" só se, consumido, melhora a opinião e o bem-estar do consumidor.

O mesmo vale para a religião: não é ela que muda interiormente o ser humano, mas sim o que vem do alto. Se a religião não é um "bom produto do alto", ela só tem legitimidade para si mesma. De fato, ela será rejeitada e, com ela, toda a espiritualidade.

E o Islã em tudo isso?

Embora o Islã não tenha uma hierarquia como a Igreja Católica, certos movimentos muçulmanos ou cultura islâmica de certos países têm a mesma tendência para vender a sua ideologia como elemento central, incontornável, para o cidadão, o que dá a sensação de que o Islã também defende o seu próprio âmbito de influência. E, assim como na França antes de 1905 (data da separação entre Igreja e Estado), parece querer ditar as regras dos cidadãos segundo as suas próprias regras.

Daí derivam as polêmicas que o Islã levanta na França e na Europa. O medo de ver surgir um Estado religioso explica os enrijecimentos contra essa religião. Se uma ideologia política, uma religião ou até uma certa economia tenta se impôr na sociedade civil, criará conflitos ou desconfiança. O religioso ou, mais "ecologicamente", o espiritual é necessário para a sociedade, assim como a laicidade. E mesmo que o vertical e o horizontal não tenham os mesmos fundamentos, eles podem se cruzar.

O marketing religioso está a serviço de interesses não espirituais?

Com efeito, pode estar. É uma das razões pelas quais o meu conceito de marketing está fundamentado no dom, e não no lucro nem na performance. O espiritual, assim como o secular, pode se legitimar a partir do momento em que não contribui com a economia totalitária que temos atualmente. Os industriários impuseram ao grande público um modo de comprar e de consumir.

A obsolescência programada dos produtos é um bom exemplo disso. Tudo é feito para nos empurrar ao consumo: o cidadão, antes de ser um ser humano, deve ser um consumidor e um objeto de recurso para a empresa. Mesmo usando palavras diferentes, a religião pode se comportar da mesma forma: recrutar praticantes para a sua ideologia e não responder à busca de espiritualidade, de liberdade e de felicidade.

A sociedade está em grave crise e está em busca de si mesma. Ela precisa de cura para os seus cidadãos de uma forma holística, ou seja, nos seus quatro componentes: fisiológico, social, emocional e espiritual. E o componente religioso e pode ajudar no trabalho para a reconciliação do homem consigo mesmo, com os outros e com o divino.

Com tradução de Moisés Sbardelotto para IHU Online.





Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano
junho de 2010

Comentários

John Constantine disse…
É isso mesmo o que esta acontecendo hoje em dia no Brasil, com as igrejas evangelicas.

Tudo gira em torno do dinheiro. O deus dos evangelicos chama-se REAL (ou dolar, euro, tanto faz)

E massificou-se a decoreba de jargoes, frases prontas, bordoes, alguns punhados de versiculos-padrao.. nada de profundidade, tudo bem raso e superficial.

Ja conversei com varios evangelicos, e a quase totalidade nao sabia nem conversar direito, nao tinham opiniao propria, limitavam-se a repetir as mesmas frases de sempre. Dá pena de ver como sao tao vazios de si mesmos..

E as igrejas mercantilizam tudo... foi-se o significado de sagrado, silencio, meditacao, ritos, solenidades, significados, etc.

É o caminho mais rapido para a extincao das religioes.
Avelino Bego disse…
O John Constantine foi preciso nos comentários.

Lá fora, acusam a ICAR.

Mas a ICAR é fichinha perto do que acontece aqui no Brasil em relação às Igrejas Evangélicas.

Sob certos aspectos, o aumento das Igrejas Evangélicas no Brasil, seria consequência da falta da presença do Estado na vida da população? Fornecendo melhores escolas, melhores professores, uma melhoria substancial na qualidade da Saúde, segurança...

Notem que sempre que o Estado falha por ANOS e ANOS outros começam a tomar seu lugar como gerador de satisfação...
Acontece que escova de dentes nós usamos, e depois de um tempo, jogamos fora.
Larissa disse…
É como eu sempre digo: antes atéia do que trouxa.
Anônimo disse…
Sempre a mesma ignorancia ateia de comentarios em achar que só porque meia duzia de desonestos aparece nas igrejas evangelicas, para generalizar tudo!
Voces veem meia duzia de "evangelicos" que aparece na midia e não vão nos templos, e não sabem de nada,e ficam alugando suas cabeças e não pesquisam por conta propria,para dizerem sempre as mesmas besteiras.
E vc Larissa é trouxa desde que nasceu,porque vc paga o maior imposto do mundo,que é aqui no Brasil,e fica quietinha batendo palma pros Lulas da vida!
Anônimo disse…
O Brasil está enfadado de tanta arrogância e ignorância!
Sempre alguns generalizando religiões e pessoas... Ateus preconceituosos sempre julgando a igreja, por um único motivo: Falta de ética e respeito!
Vejo que falta conhecimento prático do que é a igreja dentro do Brasil. Obras sociais que mudaram e continuam mudando a vida daqueles, que a sociedade composta por todos nós(sobretudo vocês que viram as costas para as mazelas sociais do nosso país e desabafam suas ideologias na internet)rejeitou.
É tudo tão simples. Se vocês não concordam com a visão da igreja continuem expressando a vossa opinião, entretanto, não sejam injustos anulando todo o apoio social das igrejas no Brasil, devido as suas divergências!
Dica: Criticar o cristianismo com palavras é simples, porém, vivê-lo de forma real é a melhor experiência da vida!
René Vidal disse…
Amigo anônimo, o importante não é viver o cristianismo e se praticar a verdadeira espiritualidade, coisa que a igreja cristã não fez. Veja, 2000 anos de cristianismo e ela não consegue mudar o grande problema humano: visão de mundo ou realidade. Quem determina o que acontece na vida da pessoa e a própria pessoa seja a nível consciente ou inconsciente. A Fé (entendida como uma atitude de certeza), conforme a sua intensidade e frequência determina a realização de um pensamento. Por que as igrejas não falam desta realidade? Tem medo de perder a sua intermediação e consequentemente seu poder econômico?
Andre disse…
isso desde os seus primordios, isso tbm quando ela nao torturava, matava e saqueava o povo

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

Psicóloga defende Feliciano e afirma que monstro é a Xuxa

Marisa Lobo fez referência ao filme de Xuxa com garoto de 12 anos A “psicóloga cristã” Marisa Lobo (foto) gravou um vídeo [ver abaixo] de 2 minutos para defender o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da crítica da Xuxa segundo a qual ele é um “monstro” por propagar que a África é amaldiçoada e a Aids é uma “doença gay”. A apresentadora, em sua página no Facebook, pediu mobilização de seus fãs para que Feliciano seja destituído da presidência da Comissão de Direitos Humanos e das Minorias da Câmara. Lobo disse que “monstro é quem faz filme pornô com criança de 12 anos”. Foi uma referência ao filme “Amor Estranho Amor”, lançado em 1982, no qual Xuxa faz o papel de uma prostituta. Há uma cena em que a personagem, nua, seduz um garoto, filho de outra mulher do bordel. A psicóloga evangélica disse ter ficado “a-pa-vo-ra-da” por ter visto nas redes sociais que Xuxa, uma personalidade, ter incitado ódio contra um pastor. Ela disse que as filhas (adolescentes) do pastor são fãs