Michael Shermer explica a diferencia entre ciência e pseudociência e faz inventário das falácias mais frequentes
HÉLIO SCHWARTSMAN | Folha
jornalista
Há um bocado de gente que nada tem de anormal e, no entanto, participa de crenças muitas vezes absurdas. Compreender as razões do paradoxo não é tarefa pequena. E Shermer, que é também psicólogo e ciclista, se sai muito bem ao explicá-las.
Ele começa com um competente apanhado geral do método científico, explica a diferença entre ciência e pseudociências e traz um inventário das falácias que mais frequentemente nos induzem a erro.
É em seguida que vem a parte mais divertida, quando Shermer se põe a desmontar algumas das "confusões de nossos tempos". As barafundas escolhidas pelo autor são: experiências de quase morte, abduções por alienígenas, o resgate de memórias de abuso infantil, o criacionismo, a negação do holocausto nazista, entre outros.
O texto original é de 1997, e algumas das superstições não envelheceram bem. A história de recuperar memórias reprimidas de maus-tratos e estupros durante a infância foi febre nos EUA nos anos 90, mas não foi tão importante no Brasil.
Já outros temas permanecem assustadoramente presentes. A onda neocriacionista, por exemplo, chegou até nós com um certo atraso em relação aos EUA, mas segue provocando estragos.
Shermer tem uma vantagem comparativa em relação a outros céticos modernos. Ele em nenhum momento debocha das crenças descritas, mesmo as mais exóticas. Diz que tirou essa máxima do filósofo holandês do século 17 Spinoza, que escreveu: "Tenho me esforçado sempre para não ridicularizar, não deplorar, não desprezar as ações humanas, mas tentar compreendê-las".
O autor conquista a confiança e a simpatia do leitor declarando-se ele próprio um ex-praticante de várias das terapias alternativas que critica no livro.
Mesmo no capítulo dedicado ao criacionismo, cujo tema de fundo é a religião, Shermer "pega leve", evitando a propaganda ateia. Ele próprio admite nutrir alguma simpatia para com a religião, reminiscências dos tempos em que era um cristão renascido e graduou-se em teologia antes de migrar para a psicologia.
O ponto alto do livro, porém, é quando ele explica a psicologia da crença e mostra por que, muitas vezes, são as pessoas mais inteligentes que se envolvem com as mais alucinadas esquisitices.
"Pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas porque têm capacidade para defender crenças às quais chegaram por razão não inteligentes", escreve ele.
• Se dependesse só da crença, não haveria civilização, diz Shermer
• Professor diz a menino canhoto que ele usa a mão de Satanás
• Livro 'Que bobagem!' é gota de racionalidade em oceano de pseudociências
"Por que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas" [384 págs, ISBN 978-85-85985-30-1]. A pergunta, que dá título ao primeiro livro do cético Michael Shermer editado no Brasil, não poderia ser mais apropriada.
Há um bocado de gente que nada tem de anormal e, no entanto, participa de crenças muitas vezes absurdas. Compreender as razões do paradoxo não é tarefa pequena. E Shermer, que é também psicólogo e ciclista, se sai muito bem ao explicá-las.
Ele começa com um competente apanhado geral do método científico, explica a diferença entre ciência e pseudociências e traz um inventário das falácias que mais frequentemente nos induzem a erro.
É em seguida que vem a parte mais divertida, quando Shermer se põe a desmontar algumas das "confusões de nossos tempos". As barafundas escolhidas pelo autor são: experiências de quase morte, abduções por alienígenas, o resgate de memórias de abuso infantil, o criacionismo, a negação do holocausto nazista, entre outros.
O texto original é de 1997, e algumas das superstições não envelheceram bem. A história de recuperar memórias reprimidas de maus-tratos e estupros durante a infância foi febre nos EUA nos anos 90, mas não foi tão importante no Brasil.
Já outros temas permanecem assustadoramente presentes. A onda neocriacionista, por exemplo, chegou até nós com um certo atraso em relação aos EUA, mas segue provocando estragos.
Ex-praticamente de terapias alternativas, autor aborda as pseudociências mais populares |
Shermer tem uma vantagem comparativa em relação a outros céticos modernos. Ele em nenhum momento debocha das crenças descritas, mesmo as mais exóticas. Diz que tirou essa máxima do filósofo holandês do século 17 Spinoza, que escreveu: "Tenho me esforçado sempre para não ridicularizar, não deplorar, não desprezar as ações humanas, mas tentar compreendê-las".
O autor conquista a confiança e a simpatia do leitor declarando-se ele próprio um ex-praticante de várias das terapias alternativas que critica no livro.
Mesmo no capítulo dedicado ao criacionismo, cujo tema de fundo é a religião, Shermer "pega leve", evitando a propaganda ateia. Ele próprio admite nutrir alguma simpatia para com a religião, reminiscências dos tempos em que era um cristão renascido e graduou-se em teologia antes de migrar para a psicologia.
O ponto alto do livro, porém, é quando ele explica a psicologia da crença e mostra por que, muitas vezes, são as pessoas mais inteligentes que se envolvem com as mais alucinadas esquisitices.
"Pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas porque têm capacidade para defender crenças às quais chegaram por razão não inteligentes", escreve ele.
• Se dependesse só da crença, não haveria civilização, diz Shermer
• Professor diz a menino canhoto que ele usa a mão de Satanás
• Livro 'Que bobagem!' é gota de racionalidade em oceano de pseudociências