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Religião está ligada a ritos da fertilidade

por Lukretia Borggia

Creio que esse texto é antigo, mas a afirmação de que os personagens da mitologia bíblica gostam de sexo é mais que óbvia. Aliás, como alguém já falou aqui, nem precisa de hermenêutica, é literal mesmo.

Os protagonistas das lendas bíblicas têm uma verdadeira obsessão pelo sexo, como é peculiar nas outras construções mitológicas.

Já que reivindicaram a hermenêutica, vamos também invocar as outras áreas da ciência literária, como a arqueologia, a paleontologia e demais co-limítrofes da ciência histórica.

O personagem mitológico central dessas lendas propedêuticas à Torá é um sujeito que supostamente tem origem suméria. Ora, tal como a mitologia da Índia e outras do período, não há a repressão sexual como hoje a conhecemos, e o erotismo marca a própria vida do personagem. É polígamo, é adúltero, é incestuoso, é prostituidor da própria irmã... Conforme os costumes do seu povo e época.

Lembremos que ele é uma construção literária, não um personagem real. Pelo menos é o que dele temos, a tradição da literatura a respeito, dos textos e das descrições narrativas que o nomeiam. Não referência histórica usual.

O Deus que esse personagem acredita, supostamente de acordo com a literatura comparada, e a historiografia das religiões o pode atestar, não é monoteísta, é um deus plural: Elohim. E os próprios Elohim são incentivadores do sexo, e do puro sexo animal.

Pureza, decência, matrimônio e outros conceitos aparecem já no período que a tradição oral torna-se escrita. E isso, segundo os historiadores do judaísmo, deu-se no período da monarquia, não dos mitos dos patriarcas.

Na concepção de Eliade, o mito é uma tentativa de organização. E o sexo dos personagens mitológicos bíblicos reflete essa tentativa de uma ordem, a referência pretérita das analogias, é sempre póstuma.

Quando se diz por exemplo (e isso é uma característica de todos os mitos) tal coisa é assim, porque no princípio aconteceu isso...O mais lógico é contar primeiro a coisa, supostamente inaugurando o evento, e POR ISSO É QUE HOJE TAL COISA ASSIM SUCEDE.

No caso das taras, das orgias, das narrativas de coito interrompido, alusões à masturbação, prática de prostituição cultual, estupro de estrangeiros, as descrições são bem ricas. Porque a matéria é bem conhecida para a humanidade, sua vida sexual. E os personagens mitológicos judaicos, tal qual os dos contos gregos de Homero, são muito hiperestesiados sexualmente, não há que se negar.

Como nada diverso dos de hoje. É um tal de fulano olhou para fulano e sua alma se uniu intimamente com a dele; fulana era formosa aos olhos de fulano e ele entrou a ela; fulano conheceu fulana por cima das pernas da outra fulana; fulano cohabitou com sicrana e depois mandou matar o marido de beltrana...

Francamente, negar isso é tapar o sol com a peneira. É querer sacralizar o que tá mais do que claro que é um tema profano como outro qualquer, ou que a religião nunca se desvencilhou, como é possível facilmente se constatar, das origens sexuais de fertilidade e da prostituição sagrada.

Aliás, hoje nada sagrada, é profanada mesmo, mercantilizada pelo deus Mamom.

Ainda há o que desvelar?

Bíblia é tão machista quanto o Corão: ambos mandam a mulher se calar
maio de 2011

Comentários

Fernando disse…
Todos gostam de sexo.

Uns fazem sexo e se destroem.

Outros fazem sexo e glorificam a Deus.

A Bíblia é um livro honesto, haja vista que seus escritores nunca esconderam os pecados cometido por alguns homens de Deus para que as Escrituras parecessem mais santas.

Pelo contrario, estes foram severamente repreendidos, castigados e ficaram como exemplo para nós.
No Name disse…
Graças a Deus o ocidente floresceu da tradição Judaico-Cristã.

Dos 10 mandamentos,
6 estão no código penal e 1 na constituição.

Querer fazer um cavalo de batalha sobre isto, é o mesmo que fazer um juízo de toda uma cidade visitando só a cadeia.
Anônimo disse…
Cristão ,se vocês observam sempre o sexo e a sexualidade como algo pecaminoso,logo,o seu comentário não faz nenhum sentido.
Fernando disse…
Anonimo quem te disse isso? Pecado, sómente o sexo fora do casamento. Os maus frutos dessa prática (sexo fora do casamento) solta aos olhos em nossos dias. Só para ilustrar, quantas adolescentes e até crianças grávidas geram bebes indesejados todos os dias.
Acho que estou começando a me cansar deste blog.
Anônimo disse…
Sim! Há muito mais Lukretia!

"A chama de Jeová"

"Dança sensual"

"Nadabe e Abiú, fogo estranho..."

"Moisés na presença de Jeová..."

"Exposição da nudez"

"Eufemismos sexuais"

"Dagon sendo submisso..."

"O porquê das hemorróidas como praga"
Fernando disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernando disse…
É José Geraldo, essas polemicas não tem fim.

E ainda com "escritoras" como a Lukretia que só discrimina nem se fala.

A propósito, sei que tem filhas. Gostaria de um neto sem "pai" feito pelos cantos escuros? Isto é sexo fora do casamento e sem compromisso.
Abbadon disse…
Pecado é uma invenção teologica da Igreja. Muda sempre ao sabor do vento. O que era pecado ontem, nao é mais hoje. E o que é pecado hoje, nao sera mais amanha.

E casamentos sao uma instituicao criada pela Igreja em meados do ano 1000, para a nobreza. Mas casamentos no sentido atual, so surgiram no seculo XVIII e popularizados pela burguesia no seculo XIX.

Informe-se melhor.
John Constantine disse…
Em muitos de seus comentarios, vc discrimina as pessoas.

Olhe o seu rabo primeiro.
yami karasu disse…
Ao Nosce te ipsum:

Tem mandamentos q são de origem seculares (onde ñ são baseados em religiões de divindades, como o confucionismo), por isso q são "absolutos".

Por exemplo, Jesus tem 6 mandamentos, todos seculares. Um exemplo é o "Respeite o próximo como vc gostaria de ser respeitado", q ironicamente, vem do confucionismo, 400 anos antes da tradição judaica-cristã (ou tradição abraãmica de camuflar ameaças de amor) ¬¬
John Constantine disse…
Ha duas versoes dos 10 Mandamentos. Uma que foi apresentada pelo mito judeu Moises, que acabaram sendo destruidas e substituidas por outros 10 Mandamentos, que eram bem diferentes dos originais.

E tambem, boa parte dos mandamentos foram copiados do Livro dos Mortos, da religiao egipcia. Tiveram tambem influencia do Codigo de Hamurabi.
Anônimo disse…
Eu amaria meus netos sem problema, não sou preconceituoso como os evangélicos.
O texto é superficial e um tanto falacioso, apesar da ilustre referência a Mircea Eliade, estudioso de religiões comparadas. Como a autora não se dignou a desenvolver uma linha de raciocínio, preferindo apenas repetir, de diversos modos, uma mesma ideia, fica difícil comentar a partir de citações dela. Por isso vou preferir partir de outro ponto e tentar chegar àlgum lugar (sic).

Em primeiro lugar, OK, os antigos hebreus transavam. Muita gente realmente acha que não, supondo que talvez se reproduzissem por mitose ou partenogênese, mas eles trepavam sim, como todo mundo.

Em segundo lugar, OK, os antigos hebreus, ou melhor, OS CANANEUS (porque hebreu é um termo posterior usado pelos judeus para diferenciar-se dos seus antepassados pagãos) tinham ritos idólatras de fertilidade. Provas de idolatria a bíblia tem de monte (uma dica: o que foi que Raquel roubou de Labão quando fugiu com Jacó?).

Em terceiro lugar, e último OK, boa parte do AT, pelo menos até o reinado de Roboão em Judá e de Jeroboão em Israel, não passa de mitologia.

Tendo concedido estes três pontos, vamos ao que interessa.

Não podemos resumir "religião" a ritos de fertilidade e prostituição sagrada. Como o próprio Mircea Eliade ensina, há mais de um tipo de religião. Especificamente falando no contexto do AOM, havia os ritos de fertilidade praticados pelos povos agrícolas (como a Mesopotâmia, o Egito e também Canaã/Fenícia) e os ritos dos povos nômades pastores, como os supostos patriarcas, que eram de uma natureza diferente. Havia também ritos de fertilidade, mas não a prostituição sagrada.

A religião dos hebreus/judeus do AT é o resultado da interação entre as religiões dos pastores e as dos agricultores. Digo "religiões" porque, de certa forma, cada deus tinha um culto seu. Uma dica: no livro de Jeremias, a conversa do profeta com os recabitas nos diz muito bem quem eram os 'verdadeiros' crentes em Javé.

Após a catástrofe da conquista, os judeus desenvolveram a ideia de que o deus dos nômades, Javé, havia "se vingado" dos sedentários, os infiéis e depravados. Somente os nômades mantinham os mandamentos, como a família de Jonadabe. Como Jeremias diz, são estes que se tornarão os antepassados do futuro povo de Deus: o judaísmo é a religião dos povos nômades de língua cananeia/hebraica, que sobreviveram à conquista (fugindo, se escondendo ou simplesmente não estando dentro das cidades sitiadas).

Foram eles, juntamente com alguns poucos sacerdotes e membros da elite que haviam sido convertidos, os responsáveis pela construção do "Segundo Templo" e pelo estabelecimento de Israel.

Desta forma, o judaísmo se estabeleceu desde o início como uma religião OPOSTA aos cultos de fertilidade. Reconhecer que houve idolatria (e até prostituição sagrada) entre os antigos hebreus não é descobrir a pólvora (os profetas justamente censuravam isso em seus contemporâneos), mas acusar o judaísmo "estar ligado" a tais coisas é como dizer que a polícia "está ligada" ao crime ou que detergentes "estão ligados" à sujeira. Só se a oposição for esta ligação. Só que a natureza da ligação não é explicitada no texto.

Há que se dizer que boa parte deste problema está no título, que, mais uma vez, foi mal escolhido. A falácia da ligação está no título, não no texto.

Mas o texto implora por este título ao insistir em apontar a sexualidade dos personagens bíblicos, dando a entender que a Bíblia ensinaria isso, quando ela, de fato, apresenta com o intuito de censurar. Ou seja, não é justo fazer este tipo de acusação aos textos bíblicos.
Se você se refere à coluna de fogo que guiava os hebreus no deserto, esta coluna simboliza uma ligação entre a terra e o céu. O fogo é o elemento símbolo de Javé (sarça ardente, lembre-se) tanto quanto a água é o elemento de seu maior inimigo, o Leviatã. Alguns historiadores supõem que o episódio do monte Sinai pode ser lembrança de uma erupção vulcânica, pois algumas montanhas do norte da Arábia Saudita são vulcões extintos que possivelmente estiveram em erupção em tempos históricos.

No caso de Nadabe e Abiú o "fogo estranho" deve ser tomado literalmente, pois o objetivo da história é estabelecer o privilégio do sacerdócio aarônico (aristocrático) sobre o sacerdócio levita (popular). Somente os "filhos de Arão" estavam autorizados a queimar incenso diante do trono. A presença de gente estranha fez o trono queimar os ousados. A história tem por objetivo afastar os levitas do culto. O que é muita coisa, se considerarmos que eles também estavam afastados da propriedade fundiária (ao não receberem terra própria) e do poder político.

Moisés ver Javé de costas, apesar da célebre postagem no "Jesus Me Chicoteia" em que Javé se gaba com os querubins de seu rebolado sedutor, nada mais é do que uma teologização: o homem não pode prever de onde Deus vem, mas pode depois adivinhar onde ele passou.

"Descobrir a nudez" é um eufemismo para o sexo, tal como nós empregamos outros, como "******" (originalmente algo que se fazia em árvores), "*****" (nada envolvendo alimentação), "*****" (que originalmente significava "cavar"), etc.

A submissão de Dagon não é de natureza sexual. Prostrar-se diante da alguém é o que o escravo faz. Ao fazer a estátua de Dagon cair diante da arca, o escritor bíblico quer dizer que Dagon se humilhava diante do deus de Israel.

As hemorróidas são outra história. Entre os povos antigos, as hemorróidas eram consideradas uma condição originária da prática EXCESSIVA de sexo anal. Uma praga de hemorróidas entre os seus inimigos era tudo que você podia querer, pois não apenas os expunha ao ridículo como também os incapacitava para a guerra. Isso não é específico dos judeus.
Nosce te ipsum.

Lamentavelmente não são muitos os versículos bíblicos que servem como exemplo de leis. Os romanos, os tão odiados romanos, conseguiram nos legar uma infinidade de leis e princípio.

Como diz a Wikipédia:

O direito romano é uma disciplina obrigatória para os estudantes de direito nos países que adotam o sistema jurídico romano-germânico. O ensino do Direito Romano figura nos cursos de direito de algumas faculdades de muitos países civilizados, embora suas legislações não apresentem pontos de semelhança com as leis romanas. A razão desse fato consiste em que nenhuma outra legislação se equipara ao Direito Romano, como instrumento de educação jurídica, pois ele é o mais adequado para fazer compreender o fenômeno do direito e para formar hábitos de raciocínio, necessários ao estudo de qualquer parte da ciência jurídica, o que se pode verificar de várias maneiras.

Mas, se não confia na Wikipédia, pergunte a um bom advogado. Eu disse um bom advogado, não um rábula que se formou matando aulas e fazendo trabalhos de recuperação.
Infelizmente, Cristão, nem eu sem Deus e nem você com Deus podemos impedir que nossas filhas, se não tiverem juízo, façam essas coisas. Mas você devia saber disso. "Acontece nas melhores famílias" é uma frase que já virou lugar comum há décadas.
Anônimo disse…
AnônimoJan 13, 2012 11:16 AM.

Amar a criança sem sombra de dúvida.

Gostar e se alegrar de como veio(no caso de infortunio) nem tanto.

Que hipocrisia!
Fernando disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernando disse…
Amar a criança sem sombra de dúvida.

Gostar e se alegrar de como veio(no caso de infortunio) nem tanto.

Que hipocrisia!
Hipocrisia é vocês se incomodarem tanto com a vida sexual alheia.

Sexo depois do casamento é a coisa mais estúpida e mequetrefe que a religião já inventou.

Além de ser muito chato!
Concí Sales disse…
O puritanismo de plantão, de matriz patrulhadora intelectual e com óbvio viés de origem eclesial; acusa a criadora do texto de falácia, e de interpretação tendenciosa. Nada mau para as origens religiosas do chamado ateísmo brando, e tradicional conservantismo da conciliação habitual do intelectualismo de matriz cristã, para com a farsa e a ocultação religiosa. Tenho longa experiência com esses discursos, professora de grego que fui em seminários e casas de formação catequética e pastoral. Em nenhum momento a autora afirma Eliade instaura a religião sobre os ritos sexuais. Aponta para o dizer do romeno para o mito como estrutura ordenadora. Ora, supor essa castidade moralizadora na religião de Israel é mais do que tapar o sol com a peneira, e esta Lukretia está sendo é prudente e recatada. Além dos ritos de fertilidade, e prostituição sagrada, a religião judaica tem nas suas origens um misto de incesto paterno, complexo da filha adulterina e síndrome do marido traído. O mito de Iahweh evoluiu à medida que foi tornando-se sacerdotal e masculino; e exigiu uma parceira-substituta para Ashra, a qual passou a ser sua esposa-prostituta, a própria nação de Israel. O relacionamento de Iahweh com sua mulher-filha adúltera e promíscua, é uma reafirmação constante do incesto paterno, porque Iahweh é também marido e ao mesmo tempo pai. Os profetas estão cheios dessas referências, onde o velho pai e marido traído se diz passado para trás por inúmeros amantes...jovens e bem dotados, cujos membros são como de jumentos e ejaculação de cavalos...(Ezequiel 23,20). A dor de cotovelo (ou seria de pontadas na cabeça?) do marido-pai idoso seria a de ter adotado a sua fêmea ainda menina, e tê-la encontrado coberta de sangue...(Ezequiel 16, 4-6). Sustentou-a, deu-lhe nome de esposa, em outras palavras, pagou pela aquisição; e a ninfeta vai gastar o dinheiro do marido pagando aos amantes...abre as pernas a todos que passam, e mostra despudorada sua nudez, prefere homens de membros grandes, e em vez de agir como uma legitima prostituta e exigir a paga, remunera os enamorados, fazendo-lhes gigolôs. Israel é uma espécie de viciada em sexo, o que por sua vez além de compulsão é uma espécie de maldição hereditária, porque sua mãe (do povo arameu, de onde procedeu Abrahão) era também prostituta(Ezequiel 16,3), e suas irmãs (alusão a Sodoma e Samaria; Ezequiel capítulo 23) não ficaram atrás nas artes da alcova e do menos original dos pecados!Nem em Atenas, no apogeu da pederastia, houve prostitutos masculinos como nos templos e palácios dos reis de Israel. Nenhum outro povo teve a preocupação de criar códigos e sanções tão explícitas para a homossexualidade cultual e ritual...Por que as criariam os judeus se não houvesse quem muito praticasse tais ritos? Esta estratégia de dizer que tudo que a Bíblia refere é como censura, sim, é que é mais do que decantada falácia.

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