Título original: Os ateus se organizam
por Rodrigo Cardoso, da Istoé
Os ateus brasileiros têm no universo virtual uma espécie de igreja online. É ali onde o conglomerado de pessoas que negam a existência de Deus se sente à vontade para professar o desapego às religiões, manifestar os porquês de não seguir nenhuma delas e trocar ideias com outras pessoas na mesma condição.
Apesar de contraditório, os brasileiros estarão seguindo à risca, com essa movimentação, a cartilha do britânico Richard Dawkins, espécie de guru dos ateus, autor de “Deus, um Delírio”. Zoólogo, ele exorta seus pares, historicamente estigmatizados, a se assumir e encampar publicamente um debate intelectual.
Leonardo Boff escreve que Twitter não é lugar para discutir ateísmo
fevereiro de 2012
por Rodrigo Cardoso, da Istoé
Os ateus brasileiros têm no universo virtual uma espécie de igreja online. É ali onde o conglomerado de pessoas que negam a existência de Deus se sente à vontade para professar o desapego às religiões, manifestar os porquês de não seguir nenhuma delas e trocar ideias com outras pessoas na mesma condição.
Minoria em uma sociedade crente como a nossa – os ateus fazem parte do grupo demográfico definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como sem religião, do qual fazem parte também agnósticos e crentes sem religião, e representam 6,7% da população brasileira –, eles preferem esse canal de comunicação uma vez que, em público, ainda estão sujeitos a críticas. Duas ações, uma no Brasil e outra em Londres – onde um templo ateu deverá ser erguido até o ano que vem – pretendem pôr fim à solidão físico-intelectual desse grupo.
No domingo 12, está marcado o 1º Encontro Nacional de Ateus. Cerca de três mil pessoas estarão reunidas simultaneamente em 21 Estados e no Distrito Federal. “Precisamos sair do armário, mostrar que somos bons filhos, pais, que a moralidade independe de uma crença”, diz a estudante gaúcha Stíphanie da Silva, citando uma expressão utilizada na luta pelos direitos civis dos homossexuais. Aos 22 anos, ela é membro da Sociedade Racionalista, que organiza a ação. “O intuito principal do evento é conhecer uns aos outros e organizar a nossa força.”
No domingo 12, está marcado o 1º Encontro Nacional de Ateus. Cerca de três mil pessoas estarão reunidas simultaneamente em 21 Estados e no Distrito Federal. “Precisamos sair do armário, mostrar que somos bons filhos, pais, que a moralidade independe de uma crença”, diz a estudante gaúcha Stíphanie da Silva, citando uma expressão utilizada na luta pelos direitos civis dos homossexuais. Aos 22 anos, ela é membro da Sociedade Racionalista, que organiza a ação. “O intuito principal do evento é conhecer uns aos outros e organizar a nossa força.”
Soa paradoxal, porém, ateus militantes se reunirem para defender um ceticismo contra fé, religião e deuses. Agindo dessa forma, argumenta o professor Edin Abumansur, do departamento de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o ateísmo se torna uma opção de crença, a da negação, à disposição dos que procuram coisas para acreditar, no caso, que Deus não existe.
Apesar de contraditório, os brasileiros estarão seguindo à risca, com essa movimentação, a cartilha do britânico Richard Dawkins, espécie de guru dos ateus, autor de “Deus, um Delírio”. Zoólogo, ele exorta seus pares, historicamente estigmatizados, a se assumir e encampar publicamente um debate intelectual.
No século XIX, porém, a fé na ciência e na razão já pautava as discussões nas igrejas positivistas, principalmente na França, terra natal de Auguste Comte (1798-1857). Um dos pais da sociologia, ele propunha uma nova religião baseada não em uma crença, mas na capacidade humana. “Crer no homem e na sua racionalidade justifica uma militância ateísta”, afirma o professor Pedro Paulo Funari, do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Fora do Brasil, no entanto, ateus famosos parecem não falar a mesma língua. Dawkins criticou publicamente o filósofo suíço Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus”, que anunciou a construção de um templo ateu no centro financeiro de Londres. “Ateus não precisam de templos, é um desperdício de dinheiro”, afirmou o zoólogo.
Fora do Brasil, no entanto, ateus famosos parecem não falar a mesma língua. Dawkins criticou publicamente o filósofo suíço Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus”, que anunciou a construção de um templo ateu no centro financeiro de Londres. “Ateus não precisam de templos, é um desperdício de dinheiro”, afirmou o zoólogo.
O projeto do espaço, que terá 46 metros de altura, foi encomendado por Botton ao arquiteto Tom Greenall. Segundo o arquiteto, o templo representará a história da vida na Terra. “Cada centímetro equivale a um milhão de anos de vida”, diz Greenall.
O filósofo – que pretende começar a levantar a construção no ano que vem, após a autorização da prefeitura – defende em seu livro que os ateus não devem fechar os olhos para as religiões, mas aprender com aquilo que elas têm de bom.
O filósofo – que pretende começar a levantar a construção no ano que vem, após a autorização da prefeitura – defende em seu livro que os ateus não devem fechar os olhos para as religiões, mas aprender com aquilo que elas têm de bom.
“Isso (a construção) poderia significar um templo ao amor, amizade, tranquilidade e perspectiva”, diz Botton. “O ateísmo de Richard Dawkins ficou conhecido como uma força destrutiva, mas há pessoas que não acreditam (em Deus) e não são agressivas contra outras religiões.”
Não é o que ocorre no Brasil. A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), por meio de uma pesquisa com seus cerca de 3,5 mil membros, descobriu que 90% deles consideram a religião um mal. Um claro efeito rebote da hostilidade crescente patrocinada por alguns religiosos.
Presidente da Atea, o engenheiro civil Daniel Sottomaior, 40 anos, faz troça da proposta de Botton, a quem se refere como um agente duplo infiltrado no movimento. E apoia com ressalvas as reuniões de ateus no Brasil. Para ele, à medida que eles conseguirem se colocar na sociedade sem medo, a necessidade de se encontrarem cairá drasticamente. “Afinal, não temos nada em comum: há gays, heteros, gente de esquerda, de direita”, diz Sottomaior.
Presidente da Atea, o engenheiro civil Daniel Sottomaior, 40 anos, faz troça da proposta de Botton, a quem se refere como um agente duplo infiltrado no movimento. E apoia com ressalvas as reuniões de ateus no Brasil. Para ele, à medida que eles conseguirem se colocar na sociedade sem medo, a necessidade de se encontrarem cairá drasticamente. “Afinal, não temos nada em comum: há gays, heteros, gente de esquerda, de direita”, diz Sottomaior.
O engenheiro explica que, nos países nórdicos, com altas taxas de ateus, eles não se organizam, porque não precisam. “Por que pessoas que não acreditam em saci-pererê, por exemplo, teriam de se organizar?” Lutando pela causa juntos ou cada um por si, os brasileiros descrentes têm muito trabalho pela frente.
Mais sobre o encontro Ateus brasileiros famosos Ateísmo
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Leonardo Boff escreve que Twitter não é lugar para discutir ateísmo
fevereiro de 2012
Comentários
Sei que há os que defendem não crença como crença, paciência. Ateísmo é bom até nisso: é livre de dogmas, e não temos que aceitar o pensamento/ensinamento do outro sem crítica.
Porém, discordo do meu presidente quando ele diz: “Afinal, não temos nada em comum: há gays, heteros, gente de esquerda, de direita”. Ora, essa é a grande vantagem! No meio de tanta diversidade, temos em comum a descrença e somos vítimas constantes dos assaltos que religiosos fazem ao Estado Laico.
Trabalho na rede de educação das três esferas (Federal, Estadual e Municipal), e tando na escola estadual quanto municipal (na Federal o laicismo é mais forte) há crucifixos e/ou imagens de Cristo.
Temos essa luta em comum.
Vou dar uma de Eli Vieira, agora, e criticar essa frase do Sottomaior. Há muitas coisas em comum:
a) a não crença na existência (ou crença na não existência) de deuses (percebam que a partícula negativadora apenas mudou de posição);
b) um ambiente social que isola ateus e agnósticos;
c) a associação de políticos ambiciosos e líderes religiosos, igualmente ambiciosos, no uso indevido da coisa pública e
d) A necessidade de um novo sistema de vida, que promova a comunhão entre os seres que vivem neste planeta, que ensine sobre amor, compaixão e paz, tudo isso por nossa vontade e nosso entendimento do que é bom e não porque um deus quer assim.
Então, Deus é o motivo mais irrisório desses encontros. Questões políticas, educacionais, doutrinárias, disposições pessoais e outros aspectos logo vão ser enfeixados num movimento organizado, que vai varrer a Terra, despertando milhões de mentes.
Já está acontecendo!
Não serei mais Ateu!
"Deus" me livre! rsrs
E mesmo que alcancemos mais aceitação nesta sociedade, quem disse que os encontros tenham de ser motivados apenas por aquilo de que comungamos? Não se trata de formar uma nova religião - fique claro, mas de mostrar aos desavisados que o ateísmo não é modismo de jovens rebeldes ou de intelectualóides da esquerda da nossa era moderna, mas tão antigo quanto as divindades que adoram. Ou supõem eles que o Deus de Abraão ou de Jesus teve acolhida unânime entre os homens? Eles só conheceram (e muito mal, diga-se de passagem) um lado da história. É preciso mostrar-lhes que o direito de dizer "não, deus não existe" é tão legítimo quanto o contrário. Que culpem o deus por nos dar este poder, então!
ah para
Sua posição hegemonica esta abalada, e não tardara a ruir, a verdade vencera. Da religião e seus proceres, nao tirarão recursos para manter suas vidas abastadas. Pobres ignorantes manipulados e tolos, não terão suas bengalas mitologicas para se apoiarem. Ateus finalmente serão a maioria, e a idade da luz e da verdade voltara completando seu ciclo virtuoso.A verdade não precisa de templos, não precisa de mantras, não precisa de rezas. A verdade precisa de inteligencia, curiosidade, duvida, coragem e empenho construtivo. Jamais precisara de mentirosos pregando a exaustão seus contos ficcionais.
Decidi de última hora que vou, só pra mata minha curiosidade, pois nunca me encontrei com outros ateus, pelo meno não um grupo grande, em toda minha vida!
Organização : Stiphanie da silva
Local : Parque Farroupilha (Redenção)-Porto Alegre
Mapa: http://binged.it/xtZkod
Horário: 4 :00 PM
Contato: https://www.facebook.com/events/229830877099838/
Mais informações no site do encontro: http://ena.sociedaderacionalista.org/
"Cerca de três mil pessoas estarão reunidas simultaneamente em 21 Estados e no Distrito Federal."
OU seja, menos de 150 pessoas por estado.
A fase do professor Pedro Paulo Funari seria hilária,
se não fosse trágica. hilária:
“Crer no homem e na sua racionalidade justifica uma militância ateísta”
"medo inútil das palavras fé e igreja!"
Medo?
"Na visão de quem desconhece o movimento, essas expressões dão uma noção (nem positiva e nem negativa) do que se trata."
Ele exagerou no uso. Um bom jornalista dosa as expressões.
"o autor tentou ser imparcial"
Se tentou, não conseguiu, até porque fez questão de apontar "contradições" dos ateus. Típico de quem quer agradar aos crentes.
A vossa é também a nossa luta.
Carlos Esperança
>> "Medo?"
No mínimo, aversão. É a impressão que eu tive.
>> "Ele exagerou no uso. Um bom jornalista dosa as expressões."
Exagero?
>> "Se tentou, não conseguiu, até porque fez questão de apontar "contradições" dos ateus. Típico de quem quer agradar aos crentes."
A meu ver, ele apenas apontou os diferentes pontos de vista entre os ateus. Isso até o Paulo Lopes fez :) e, pra mim, isso é uma qualidade no movimento ateísta, pois mostra liberdade de pensamento.
Rodrigo*
Mostrei que foi exagero, não precisava tantas comparações com expressões religiosas. Foi tentativa, nas entrelinhas, de mostrar o ateísmo como religião.
As contradições de que falo não foram as opiniões diferentes mostradas, mas sim quando ele escreve "Soa paradoxal, porém, ateus militantes se reunirem para defender um ceticismo contra fé, religião e deuses" e " Apesar de contraditório, os brasileiros estarão seguindo à risca, com essa movimentação, a cartilha do britânico Richard Dawkins".
-- Ah, se você nega, é porque existe...
Outra vez isso!
De acordo com o materialismo, só se comprova a existência de matéria e energia, e em quantidades constantes. O universo pode ser só uma projeção? Bem, ninguém comprovou isso ainda. Mas o projetor é inteligente? NÃO, TODO MUNDO SABE QUE PROJETOR TEM SÓ UMA LÂMPADA! PROJETOR NÃO TEM CÉREBRO PARA SER INTELIGENTE!
"o filósofo suíço Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus”, que anunciou a construção de um templo ateu no centro financeiro de Londres"
Nunca iria imaginar que o ateísmo teria uma igreja e ainda por cima seria considerado um tipo crença, pelos próprios ateus:
"o ateísmo se torna uma opção de crença, a da negação, à disposição dos que procuram coisas para acreditar, no caso, que Deus não existe."
Ai ai, o mundo está cada vez mais confuso rs. Daqui a pouco vcs estrão dando dizimo também rs.
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