O governo da presidente Dilma Rousseff se tornou refém das chantagens das lideranças religiosas mais conservadoras e, em vez de resistir, deixa-se enredar cada vez mais. Essa é a avaliação de Pedro Ribeiro de Oliveira (na foto abaixo), doutor em sociologia pela Université Catholique de Louvain, da Bélgica, e professor em ciências da religião da PUC-Minas.
Tal inferência no Estado laico, segundo ele, se deve à desistência dos partidos de proporem alternativas de políticas públicas, aceitando, em troca, cargos e benesses do governo. Os partidos, assim, abriram um vazio que agora está sendo ocupado pelas denominações religiosas, disse o sociólogo.
Oliveira afirmou que, desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, "a política foi reduzida à disputa por cargos no governo e ao processo eleitoral". Com exceção de alguns momentos, "não se debatem mais as políticas do governo e do Estado".
Em entrevista ao site IHU-Online, o sociólogo afirmou que a única forma de resistir aos chantagistas, nesse caso, é obrigando-os a discutir as suas propostas em público, o que o governo não tem feito. "Na ausência de um debate, a posição de pastores, padres e bispos emerge como a única."
Segue trecho da entrevista.
De forma geral, qual a importância da religião no cenário político nacional atual? Como a presidente Dilma está lidando com este aspecto?
Quando os partidos políticos abdicam de sua função própria de criticar e de apresentar propostas de políticas públicas e se contentam em disputar cargos e benesses, outras entidades passam a ocupar aquela função. É o caso das igrejas que, no vazio deixado pelos partidos, ganham força política. E a presidente Dilma está mostrando ter pouca habilidade para lidar com Igrejas que fazem política, especialmente se fazem uma política mesquinha. Talvez isso se deva a seu passado militante em autênticos partidos políticos, somado à pouca participação em alguma igreja. Dificilmente caberia em sua teoria esta realidade de igrejas em disputa por benesses políticas.
Como percebe que uma linguagem com fundo religioso sobe cada vez mais ao palco de um Estado que se quer laico? Não vê uma contradição aqui?
Não é bem uma contradição, mas uma concessão ao ambiente sociocultural brasileiro: o governo dança conforme a música. Se a maioria da população rejeita a política e aceita a religião, por que o governo seria diferente? Ele deixa nos bastidores sua meta política de plena inserção no sistema capitalista mundial e traz para o palco midiático as propostas ao gosto das massas, sejam elas de fundo religioso ou tratem de futebol, segurança, habitação, ensino e outras.
O governo Dilma estaria sendo refém de teses conservadoras capitaneadas por setores das igrejas pentecostais, neopentecostais e católica? Religião interferindo demais na política não força um conservadorismo perigoso?
Não é de teses que o governo tornou-se refém, mas sim de autoridades religiosas que buscam imobilizá-lo por meio de chantagens. Em vez de resistir, o governo deixou-se enredar. Ora, contra a chantagem só há uma saída: resistir ao chantagista trazendo-o para a luz do dia, isto é, obrigando-o ao debate público sobre suas propostas. Se o governo abrisse um amplo debate com a sociedade – penso no Parlamento, nos Conselhos de Cidadania, em universidades e em parcerias com ONGs – e lhes desse divulgação midiática, constataria que não há tanto consenso nas igrejas como elas deixam transparecer. Refiro-me aqui a oposição das igrejas (ou, mais precisamente, de algumas igrejas) à descriminalização do aborto e da eutanásia, à distribuição de preservativos, à educação sexual nas escolas, ao combate à homofobia, e sua insistência no ensino confessional nas escolas públicas. Na ausência de um debate, contudo, a posição da autoridade eclesiástica – pastores, padres e bispos – emerge como a única.
Como o senhor analisa a nomeação do senador Marcello Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca?
Crivella sempre defendeu no Senado os interesses corporativos de igrejas neopentecostais, como a regulamentação da profissão de teólogo. Alçado agora à posição de ministro, ele terá acesso mais direto à presidente para fazer suas reivindicações e assim atender a suas bases. Mas é preciso ter presente que seu ministério não é sem importância, porque a pesca é um dos principais fatores de extinção de espécies aquáticas e falta uma política pública bem equacionada para o setor. Se ele tiver um comportamento realmente republicano e olhar em primeiro lugar os interesses nacionais e do sistema de vida do Planeta, poderá trazer uma grande contribuição, mas muito me surpreenderia se isso acontecer.
Como o senhor interpreta a posição da presidente Dilma em recuar e suspender a distribuição do kit anti-homofobia nas escolas? O que esse gesto sinaliza sob a condução da questão da homossexualidade no governo?
Há no caso uma questão eleitoral: a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo, que não pode desperdiçar nenhum voto sob pena de perder a eleição. Nessa caça aos votos dos evangélicos a concorrência é feroz, e, sendo em geral um eleitorado pouco politizado, a argumentação política tem menos força do que uma argumentação religiosa ou moralista. Lamento ver o governo Dilma abrir mão de propostas políticas inovadoras por medo de perder uma eleição municipal.
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Com informação do IHU-Online.
Crivella fala contra aborto e Menicucci tem de ficar calada
março de 2012
Religião na política. Religião no Estado laico.
Tal inferência no Estado laico, segundo ele, se deve à desistência dos partidos de proporem alternativas de políticas públicas, aceitando, em troca, cargos e benesses do governo. Os partidos, assim, abriram um vazio que agora está sendo ocupado pelas denominações religiosas, disse o sociólogo.
Oliveira afirmou que, desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, "a política foi reduzida à disputa por cargos no governo e ao processo eleitoral". Com exceção de alguns momentos, "não se debatem mais as políticas do governo e do Estado".
Em entrevista ao site IHU-Online, o sociólogo afirmou que a única forma de resistir aos chantagistas, nesse caso, é obrigando-os a discutir as suas propostas em público, o que o governo não tem feito. "Na ausência de um debate, a posição de pastores, padres e bispos emerge como a única."
Segue trecho da entrevista.
Oliveira disse que religiosos estão ocupando o espaço dos políticos |
Quando os partidos políticos abdicam de sua função própria de criticar e de apresentar propostas de políticas públicas e se contentam em disputar cargos e benesses, outras entidades passam a ocupar aquela função. É o caso das igrejas que, no vazio deixado pelos partidos, ganham força política. E a presidente Dilma está mostrando ter pouca habilidade para lidar com Igrejas que fazem política, especialmente se fazem uma política mesquinha. Talvez isso se deva a seu passado militante em autênticos partidos políticos, somado à pouca participação em alguma igreja. Dificilmente caberia em sua teoria esta realidade de igrejas em disputa por benesses políticas.
Como percebe que uma linguagem com fundo religioso sobe cada vez mais ao palco de um Estado que se quer laico? Não vê uma contradição aqui?
Não é bem uma contradição, mas uma concessão ao ambiente sociocultural brasileiro: o governo dança conforme a música. Se a maioria da população rejeita a política e aceita a religião, por que o governo seria diferente? Ele deixa nos bastidores sua meta política de plena inserção no sistema capitalista mundial e traz para o palco midiático as propostas ao gosto das massas, sejam elas de fundo religioso ou tratem de futebol, segurança, habitação, ensino e outras.
O governo Dilma estaria sendo refém de teses conservadoras capitaneadas por setores das igrejas pentecostais, neopentecostais e católica? Religião interferindo demais na política não força um conservadorismo perigoso?
Não é de teses que o governo tornou-se refém, mas sim de autoridades religiosas que buscam imobilizá-lo por meio de chantagens. Em vez de resistir, o governo deixou-se enredar. Ora, contra a chantagem só há uma saída: resistir ao chantagista trazendo-o para a luz do dia, isto é, obrigando-o ao debate público sobre suas propostas. Se o governo abrisse um amplo debate com a sociedade – penso no Parlamento, nos Conselhos de Cidadania, em universidades e em parcerias com ONGs – e lhes desse divulgação midiática, constataria que não há tanto consenso nas igrejas como elas deixam transparecer. Refiro-me aqui a oposição das igrejas (ou, mais precisamente, de algumas igrejas) à descriminalização do aborto e da eutanásia, à distribuição de preservativos, à educação sexual nas escolas, ao combate à homofobia, e sua insistência no ensino confessional nas escolas públicas. Na ausência de um debate, contudo, a posição da autoridade eclesiástica – pastores, padres e bispos – emerge como a única.
Como o senhor analisa a nomeação do senador Marcello Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca?
Crivella sempre defendeu no Senado os interesses corporativos de igrejas neopentecostais, como a regulamentação da profissão de teólogo. Alçado agora à posição de ministro, ele terá acesso mais direto à presidente para fazer suas reivindicações e assim atender a suas bases. Mas é preciso ter presente que seu ministério não é sem importância, porque a pesca é um dos principais fatores de extinção de espécies aquáticas e falta uma política pública bem equacionada para o setor. Se ele tiver um comportamento realmente republicano e olhar em primeiro lugar os interesses nacionais e do sistema de vida do Planeta, poderá trazer uma grande contribuição, mas muito me surpreenderia se isso acontecer.
Como o senhor interpreta a posição da presidente Dilma em recuar e suspender a distribuição do kit anti-homofobia nas escolas? O que esse gesto sinaliza sob a condução da questão da homossexualidade no governo?
Há no caso uma questão eleitoral: a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo, que não pode desperdiçar nenhum voto sob pena de perder a eleição. Nessa caça aos votos dos evangélicos a concorrência é feroz, e, sendo em geral um eleitorado pouco politizado, a argumentação política tem menos força do que uma argumentação religiosa ou moralista. Lamento ver o governo Dilma abrir mão de propostas políticas inovadoras por medo de perder uma eleição municipal.
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Com informação do IHU-Online.
março de 2012
Religião na política. Religião no Estado laico.
Comentários
Nenhuma novidade, isso já foi dito nesse blog e não sou sociólogo.
Acho que o sr. esta ignornado certos fatores.
- Concordo que isso não começou com o governo Lula, mas as vantagens não iam diretamente para um setor da sociedade, como tem sido no caso dos evangélicos.
- Uma ideologia politica, não deve mudar, só porque vc terá que enfrentar dificuldades para mante-la ou instala-la.
- A meu ver, o sr esta divagando e muito, sobre a construção de um estado laico. Não adianta ter um ministro que aprova o aborto e ter a maioria dos responsaveis pela aprovação das leis, contra ele. Isso não é "construção de um estado laico" como o sr. afirma, mas um massacre.
A nossa presidenta esta mais preocupada em fazer politica para as mulheres e para não desagradar os opositores do governo do que fazer algo pelo povo. Um ótimo exemplo é a usina de Belo Monte. Para mim ela esta se acovardando frente aos seus adversário politicos.
o Estado é formado pelos seus cidadãos, se existe grande números de cristãos na política é porque assim que o povo.
Olha só o Zé Dirceu esta na geladeira mas vive fazendo Lobby, o Genoíno levou um pé no traseiro nas eleições mas tá lá bem empregadinho no governo.
Refém de que, Kit gay nas escolas?, Pl122? liberação do aborto? casamento gay? este deram um jeitinho e fizeram o judiciário legislar no lugar do legislativo.
Refém esta o povo, com uma das cargas tributárias mais alta do mundo e não tem retorno nenhum.
Infelismente temos uma presidente covarde, que tem medo de enfrentar seus opositores e acha melhor fazer politicas e leis voltadas para as mulheres, visto que assim não atinge nem causa desconforto a ninguem.
Pra que colocar em pauta leis sobre aborto, eutacomazia, homofobia, reforma fiscal, imposto unico, não é mesmo ? Isso tudo não tem nenhuma urgencia para o povo.
Quem poe uma CPI no congresso ? quem tem os lideres e a maioria?
Quer dizer que se não houvesse a moeda de troca (Kit Gay, Aborto e Pl122) o Palloci estava lá até agora?
De quem a Dilma é "refém" ?
Pelo amor de Deus !
Essa garota já esteve rodeada de militares, todos rugindo e querendo sua morte. Ela já esteve rodeada de torturadores, foi humilhada como mulher e por ser uma mulher contestadora. Os homens que a torturaram acabaram criando uma nova pessoa. Criaram uma mulher com malícia masculina, capaz de dar um murro na mesa e acabar com a festa a qualquer hora!
Os Evanjegues que se cuidem e tratem de andar na linha.
Dilma respeita a vontade popular, coisa que defendeu desde jovem. Entretanto, não vai tolerar dinheiro na cueca e coisas do tipo.
A verdeira vontade popular partiu do povão em 1964 1 milhão de pessoas saíram as ruas comemorar a queda de Goulart e o fim dos atos terroristas.
o Dinheiro na cueca é do deputado do Pt pelo Ceará, irmão do Genoíno que esta empregado no ministério da defesa.
Vai estudar rapaz.
Agora chutou o pau da barraca.... rsrsrsrs
Mas foi bem lembrado.
Sou da mesma opinião....
A dilma poderia ser essa pessoa, mas se mostrou fraca demais...
Se liga cara, vai rezar vai.
Bom, em terra aonde burros e cobras falam, acho que deveria mesmo esperar alguma coisa assim.
Como se ja nao me bastassem os traficantes.
Putz véi! Na boa véi, na boa...
O âncora que ele diz é o narrador do telejornal...
Olha aí: http://pt.wikipedia.org/wiki/Telejornalismo
Originalmente a esquerda era ateísta, né? rsrs.
Em suma, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come...
Ao contrário, paulatinamente, a bancada reacionária, auto-denominada de bancada evangélica,vai tomando o poder. Seja o poder econômico, midiático, legislativo, entre demais; Estes, os usurpadores da fé, vão ocupando espaços, ultrajando a dignidade humana, os princípios democráticos e, até mesmo, as nossas leis. Revestidos com a capa ideológica do sagrado,extremamente eficaz para manipular e fazer calar até mesmo autoridades dos mais altos postos, estes senhores estão dominando o País.
Desprovidos de uma agenda propositiva para seus mandatos legislativos que sirvam verdadeiramente a nação, o que resta a esta bancada é fazer alarde quanto as propostas reconhecidamente em todo mundo como essenciais na equiparação das cidadanias e no reconhecimento dos Direitos Humanos como um todo. Tais senhoras e senhores deputados e deputadas da referida bancada, discutem dentro das casas legislativas suas crenças pessoais, e em nada respeitam os princípios do fazer público, quando enxertam a todo momento argumentações moralizantes de doutrinas religiosas de cunho e ordem do privado.
Assim fabricam, utilizam e se beneficiam de um inimigo objeto que os liguem aos seus potenciais eleitores para aparecerem como produtores e defensores de uma pauta que justifique as suas presenças nas Casas Legislativas. Tal pauta também serviu e servirá para estes de bode expiatório ou como moeda de troca. Uma carta na manga para subornar e chantagear adversários em momentos de disputas, como aconteceu nas eleições presidenciais de 2010. Ao barrar os direitos dos gays, lésbicas e outras minorias, esta bancada ganha novamente folego para manter-se alí a cada disputa eleitoral, inflando seus pulmões, na busca de consolidar seus reais interesses, tanto pessoais quanto políticos, no intuito de dominar e apoderar-se cada vez mais, das mentes e instituições, levados por seus seguidores que os mantém "dignos nos tronos dos escolhidos" "agraciados pelo divino" com prosperidade terrena dando em troca de "conforto espiritual".
Vivemos num Estado que faz vistas grossas. Onde a laicidade está só no papel, como a maior parte de nossos direitos. Vivemos uma cidadania de gambiarras!
Considerando que a pauta de direitos Humanos é barrada com veemência até mesmo por líderes religiosos que sequer possuem mandatos, como o Silas Malafaia, pode-se analisar que diante de um eventual avanço e consolidação de direitos democráticos no Brasil, e sanados, mesmo que paliativamente muitos problemas de questões sociais, haverá um progresso diate das demandas e pautas a serem discutidas e priorizadas. Por certo, o que temem os líderes religiosos e os que reinam ás custas do sofrimento, desgraça e alienação alheias, é que as coloridas bandeiras hasteadas a cada manifesto e cada palavra de ordem ecoada pelos que militam pela igualdade e democracia, sejam substituídas por manifestações mais incisivas acerca da ausência de regras que permeiam suas atuações, transações e crimes contra a humanidade causados pela mais recente rede do mercado religioso neo-petenconstal neste País.
É de se esperar que os tantos manifestantes contrários ao deputado Marcos Feliciano na Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados Federais, lembrem-se que a política se faz na disputa de poderes, na luta por espaços, e que nesta caminhada estamos ficando para trás. A juventude protesta com votos nulos, ou mesmo elegendo pessoas desqualificadas para atuar em nome delas. Com tais atitudes, damos margem pra que situações como constatamos hoje, de total desrespeito e coerência, sejam mais frequentes e talvez até irreversíveis por bastante tempo.
Mas os evangélicos cresceram e o Brasil regrediu.
Agora o ensino público é um lixo.
Grandes homens que hoje tremem em seus túmulos ao ver o Brasil nessa situação e não uma potência científica.
Eles criaram o melhor ensino público já feito, ensino científico.
Eles separaram o Estado da religião.
Mas os evangélicos cresceram e o Brasil regrediu.
Hoje o ensino é um lixo e voltou a ter aula de religião.
Grandes homens que hoje se reviram em seus túmulos ao ver o Brasil atual e não a potência que eles quiseram.
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