Título original: Pai-Nosso que estais no Olimpo
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Seleção feminina de vôlei não sabe que Brasil é laico desde 1891
por André Barcinski em agosto de 2012
Religião nos esportes. Religião no Estado laico.
por Joel Rufino dos Santos para o Estadão
Na Olimpíada, muitos atletas erguerem as mãos para o céu. Nossa equipe feminina de vôlei celebrou o ouro com um uníssono e circular padre-nosso. Deus jogara do seu lado, o que significa logicamente que, por algum motivo, não jogara do outro. Sejamos compreensivos: não há lógica nessa preferência divina, há outra coisa, igualmente respeitável.
Quando os times perdem, significa que sua fé de vencedor é menor? Talvez se dê o mesmo com o sentimento de honra. Honra, na origem, é a disputa para saber quem faz a maior doação a outrem - este será o mais honrado. Neste caso, a coletividade é o juiz; no da fé, é Deus.
Se macumba ganhasse jogo, dizia João Saldanha, o campeonato baiano terminava empatado. O Padre-Nosso, antes ou depois do jogo, será eficaz? Não, o adversário pode vencer. O que funciona é a confiança no Deus que se tem. "Deus é fiel", dizem os para-choques de caminhão. O Padre-Nosso após os jogos reitera a confiança em Deus.
"Sejamos compreensivos: não há
lógica nessa preferência divina"
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Quando os times perdem, significa que sua fé de vencedor é menor? Talvez se dê o mesmo com o sentimento de honra. Honra, na origem, é a disputa para saber quem faz a maior doação a outrem - este será o mais honrado. Neste caso, a coletividade é o juiz; no da fé, é Deus.
Se macumba ganhasse jogo, dizia João Saldanha, o campeonato baiano terminava empatado. O Padre-Nosso, antes ou depois do jogo, será eficaz? Não, o adversário pode vencer. O que funciona é a confiança no Deus que se tem. "Deus é fiel", dizem os para-choques de caminhão. O Padre-Nosso após os jogos reitera a confiança em Deus.
Confiança é um conceito chave na modernidade. A civilização moderna (ou capitalista, se preferimos falar do modo de produção) é tão complexa, tão inacessível à inteligência do homem comum, que só funciona porque confiamos em peritos. Não sei como funciona um celular, como os técnicos da Nasa puseram um robô em Marte, como o dinheiro que aplico aumenta, ou diminui, enquanto durmo, etc. - em qualquer caso eu confio que algum perito sabe e age por mim.
Esse perito, indispensável entre nós e as coisas (máquinas, artefatos, habitus, procedimentos, crenças, etc.), é identificado por um rosto confiável. Quem confiaria num cirurgião de piercing no nariz, por exemplo? Ou num jornalista financeiro de bermudas? Deus (com o devido respeito aos que o amam e que têm dele outra definição) é o rosto confiável de uma infinita perícia: a que faz funcionar o mundo. Por isso, o idealizamos a nossa imagem e semelhança, e não o contrário. A imagem do Cristo é de um branco, cabelos lisos, olhos azuis; a de Apolo também: nenhum grego tinha aquele nariz, aqueles cabelos. Nenhum ioruba tem coxas como as de Xangô.
Nunca vi um atleta se recusar à corrente do Padre-Nosso. Os que são evangélicos, budistas, espíritas, candomblezeiros, muçulmanos, fazem o que naquela hora? Recitam o Padre-Nosso como mantra, quase como o Hino Nacional - e ponto final. Ou fingem rezar, como os africanos e índios escravizados diante das imagens de santos. Olhavam uma coisa, viam outra. Os jesuítas reclamavam da conversão dos índios: era tão imediata que não podia ser sincera.
Se há ateus entre os atletas brasileiros, são pouquíssimos e não ousariam quebrar a união do grupo. Suponho que os evangélicos, sendo cristãos, pouco se importam. Budistas, macumbeiros, espíritas, idem. Muçulmanos talvez se recusassem - mas nunca vi um deles em qualquer time brasileiro, de qualquer modalidade.
Mesmo ateus, salvo os militantes, tipo Richard Dawkins, podem se sentir à vontade em correntes de oração. Vi uma vez Manoel Zapata, o escritor colombiano, se ajoelhar diante do altar da Lampadosa, no Rio, a última parada do Tiradentes antes da forca. Sendo ele ateu impenitente, perguntei por que o fazia. "Não me ajoelho para o santo, mas para os que acreditam nele."
Certa vez tomei café da manhã com Menininha do Gantois. Ela ligou o rádio no programa de um pastor evangélico. Percebendo minha surpresa, explicou: "É para começar o dia, não perco uma pregação". Mesmo quando ataca o candomblé? "Não tem importância, vale tudo para a elevação espiritual."
Nunca vi um atleta se recusar à corrente do Padre-Nosso. Os que são evangélicos, budistas, espíritas, candomblezeiros, muçulmanos, fazem o que naquela hora? Recitam o Padre-Nosso como mantra, quase como o Hino Nacional - e ponto final. Ou fingem rezar, como os africanos e índios escravizados diante das imagens de santos. Olhavam uma coisa, viam outra. Os jesuítas reclamavam da conversão dos índios: era tão imediata que não podia ser sincera.
Se há ateus entre os atletas brasileiros, são pouquíssimos e não ousariam quebrar a união do grupo. Suponho que os evangélicos, sendo cristãos, pouco se importam. Budistas, macumbeiros, espíritas, idem. Muçulmanos talvez se recusassem - mas nunca vi um deles em qualquer time brasileiro, de qualquer modalidade.
Mesmo ateus, salvo os militantes, tipo Richard Dawkins, podem se sentir à vontade em correntes de oração. Vi uma vez Manoel Zapata, o escritor colombiano, se ajoelhar diante do altar da Lampadosa, no Rio, a última parada do Tiradentes antes da forca. Sendo ele ateu impenitente, perguntei por que o fazia. "Não me ajoelho para o santo, mas para os que acreditam nele."
Certa vez tomei café da manhã com Menininha do Gantois. Ela ligou o rádio no programa de um pastor evangélico. Percebendo minha surpresa, explicou: "É para começar o dia, não perco uma pregação". Mesmo quando ataca o candomblé? "Não tem importância, vale tudo para a elevação espiritual."
Tema clássico da antropologia essa peculiaridade das religiões arcaicas, cada povo tem o seu deus, mas não dispensa os dos outros. O proselitismo é invenção do monoteísmo. Nas conquistas antigas, os deuses dos conquistados aumentavam o panteão dos conquistadores. Isso aconteceu mesmo na América, onde os deuses locais foram incorporados quase sempre com sinal trocado - como aquele Anhangá tupi, virado em demônio - ou indiretamente, a medo. O Cristo Redentor abençoa todos os cariocas, mesmo os que dispensam bênçãos.
Ateus e macumbeiros desdenham a hegemonia católica. Cuidado, portanto. Pode haver ateus e macumbeiros entre os recitadores do Padre-Nosso olímpico.
Joel Rufino dos Santos é doutor em comunicação, cultura, escritor, historiador e autor de "A Banheira de Janet Leigh".
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Seleção feminina de vôlei não sabe que Brasil é laico desde 1891
por André Barcinski em agosto de 2012
Religião nos esportes. Religião no Estado laico.
Comentários
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Ligieirinho já apareceu um crente dando xilique. Impressionante.
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No quadro de medalhas o Brasil ficou atrás de potências ateístas como Coréia do Norte, Cuba e China. Mas ficou à atrás, também, de países onde política é religião, como Irã e Itália.
Excetuando a Índia, todos aqueles capazes de mandar naves ao espaço, ficaram melhor colocados que o Brasil. Isso não mostra se são mais ou menos religiosos e sim que tem os melhores programas de treinamento, as melhores ferramentas e os melhores especialistas.
O resultado das Olimpíadas mostra quem tem os melhores soldados e é um indicador de quem será o vencedor, no caso de possíveis conflitos futuros.
Há uma inversão de atitudes no Brasil: os altos administradores do esporte são meros operadores e os atletas são homens e mulheres de fé. Deveríamos experimentar inverter essa polarização de atitudes.
O Brasil NÃO é um país cristão. Aceite isso. Aliás, aceitar isso é apoiar a sua própria liberdade de culto. Pessoas que defendem um Estado confessional deveriam olhar pros países que o são e ver como é lindo o amor religioso que se tem. Gente sendo presa (e/ou)morta por questionar, ou por acreditar no deus errado...
Sendo você cristão, nada de mal teria dar glórias ao seu deus, e nada de mal haveria ainda sendo em público, afinal, somos um país laico! O que se tem ali é um grupo fazendo uma oração sem levar em consideração as crenças de todos. Pode ter gente ali que não acredita e está ali 'dando glórias' ao deus cristão. Será que isso é correto? Se fosse em outra situação, onde todos teriam que, em grupo, colocar os tapetes no chão e ajoelhar pra Alá, e se alguém não fizesse isso, seria taxado de desunido, e a pressão natural da mídia cuidaria de prejudicá-lo naquilo que ama fazer e em que religião nada interfere, será que ainda acharia bonito 'dar glórias'?
Incautos irresponsáveis são assim mesmo, nunca veem "nada demais" nos pequenos abusos dos religiosos sobre o estado laico, daí depois ficam reclamando e querendo solução quando a ditadura aperta seu calo!
A propósito, "viadagem", "gordice", "nordestice", "negrice", "baianagem"... pensei que isso fosse manifestação de preconceito, mas pelo visto, muitos também não veem "nada demais" (até que sejam vítimas diretas de uma violência maior que foram alimentadas por essas "pequenas expressões" de preconceito).
Isto não tira o mérito de que honraram a nação.
É bizarro ver como os crentes tentam justificar essas coisas.
Confesso que mudei de ideia, pensando aqui, eh ridiculo em um esporte coletivo fazer toda essa bizarrice, se fosse individual tudo bem e mesmo assim era mais correto fazer isso fora de foco e nao em frente as cameras, mas a selecao de um pais laico devia dar espaco para diversidade e nao impor a crenca da maioria.
No mais, os textos desse Joel Rufino dos Santos sao um saco, um chorao nato. Devia ter vergonha de publicar essas groselhas, nao sei oque e pior, ele ou o recaucado do Luiz ponde.
Eu disse acima que Budista e Ateus nao devia se ofender com isso, como eu nao me ofendo, pq pra mim nao passa de um teatrinho motivacional. Ja os Islamicos que seguem uma religiao fanatica se encomodariam, alem de viverem em geral em sociedades atrasadas. E os critaos seriam iguais, nao fosse o avanso da sociedade ocidental, mesmo assim ainda temos muitos fanaticos entre os catolicos devotos e especialmente entre os evangelicos.
E quanto ao desconto no acaraje, se a dona da banquinha desse desconto pra quem vai no terreiro, ela teria direito, o negocio e privado, se eu sou dono posso dar desconto pra quem quiser. Alias, um dia vou abrir uma loja de canhotos e dar desconto pra destros, so de sacanagem. Hahahaha.
Hahahaha...
E por este tipo de comentário que alguns defendem o anonimato.
Quero um Estado Ateu!
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