"Nós dissemos a nós mesmos enfaticamente várias vezes e a todos que quisessem ouvir que poligamia era mandamento de Deus" |
A americana Joanne Hanks escreveu um livro onde conta a insanidade que foi o seu casamento com um homem devoto — como ela à época — de uma seita dissidente da Igreja Mórmon. O homem era adapto da poligamia, não para ter mais sexo, conforme ele dizia constantemente, mas porque era “um mandamento de Deus”. Logo no primeiro capítulo de It’s Not About the Sex” My Ass Joanne descreve a angústia que era ouvir os gemidos de prazer do seu marido com sua outra esposa, uma mulher de seios fartos e mais jovem do que ela, de 17 anos de idade, quase adolescente. Ela se esforçou para aguentar aquele constrangimento porque, achava, era o que Deus queira, mas acabou desistindo. Ainda assim o casamento durou 7 anos.
Segue o primeiro capítulo do livro em livre tradução deste blog.
Primeiro capítulo
Ao entrar no quarto e desabotoar minha blusa, eu ouvi meu marido a gemer com antecipação.
Segue o primeiro capítulo do livro em livre tradução deste blog.
Primeiro capítulo
Ao entrar no quarto e desabotoar minha blusa, eu ouvi meu marido a gemer com antecipação.
Deixei minha blusa no chão. Então tirei também meu sutiã. Ele gemeu de novo, mais alto desta vez.
Então eu me deslizei sob as cobertas.
O som das molas do colchão da minha cama era uma música rítmica da paixão, em um crescendo. Um som cada vez mais forte, mais alto, até que ele suspirou e gemeu de prazer. Ele soltou um grito de êxtase e alívio, que explodiu contra o teto do quarto mal isolado.
Foi uma cena apaixonada, mas eu não estava nela. Eu estava sozinha. Os sons que eu ouvia vinham do quarto abaixo, onde meu marido estava fazendo sexo com Judith, minha "irmã-esposa".
Ele podia fazer sexo com outra mulher em minha casa. Afinal, ele tinha a minha permissão. Mas por que ele tinha de fazer o sexo lá, bem debaixo do quarto onde eu estava tentando dormir, onde eu estava me esforçando para ignorar a coisa toda, onde eu estava tentando fingir que meu coração resistia a tudo aquilo, onde eu estava tentando fingir que acreditava que era a vontade de Deus, onde eu estava tentando fingir que não me incomodava que a minha irmã-esposa tinha apenas 17 anos (16 anos a menos do que eu) e com peitos maiores do que os meus?
Por que ele tinha que gritar suficientemente alto para que Deus, os anjos, os vizinhos, todos escutassem, querendo ou não ouvi-lo?
Eu tinha de fazer alguma coisa. Algo maduro. Algo condizente com a Serva justa, mansa e humilde do Senhor na qual me esforcei para ser. Algo digno, de modo a não espantar de minha casa o Espírito Santo. Afinal, eu com certeza não queria ser queimada com a vinda de Jesus.
Eu estava procurando desesperadamente uma inspiração para tomar uma decisão diante de uma situação tão delicada. Então em me dirigi para o centro do quarto e comecei a bater os pés no piso. Mas isso não apresentava qualquer efeito. Eu tinha, portanto, de bater os pés mais fortes. STOMP, STOMP, STOMP, STOMP, STOMP.
A sutileza do meu esforço valeu a pena, porque em seguida o que ouvi foram apenas sussurros.
Um momento depois, houve outro som. Ele veio pelas escadas. Pelo som (“clomps”), ele estava subindo a cada dois degraus por vez. Um momento depois que ele apareceu com o rosto vermelho na minha porta do quarto, com cueca de pernas longas que tinha sido vestida apressadamente.
Ele se desculpou. Disse que não tinha a intenção de me angustiar.
Eu sou um artista. Pinto murais e paisagens. As pessoas ficam admiradas com a minha habilidade em reproduzir imagens na tela. É uma habilidade que eu tenho sorte de ter.
O problema é que a tela de cinema dentro da minha cabeça não tem ‘off’. Quando uma imagem se instala em minha mente, dependendo dela, prefiro não ver, mas não tenho como para removê-la ou mesmo desviar o olhar.
Assim, a cada gemido, rangido de cama, minha mente acrescentou pinceladas em detalhes vívidos à imagem do meu marido com minha irmã-esposa (e seus peitos enormes) no quarto debaixo. É como se eu estivesse lá, assistindo.
Senti raiva, mas também culpa. Como se eu fosse algum tipo de voyeur.
Eu sabia que isso aconteceria quando aceitei a poligamia do meu marido. Nós dissemos a nós mesmos várias vezes e enfaticamente e a todos que quisessem ouvir que a poligamia era um mandamento de Deus.
"Não é sobre o sexo", dizíamos em palestras para plateia curiosa. Tratava-se de construir o reino de Deus na Terra. Tratava-se de salvar as mulheres solteiras desesperadas de homens indignos, que poderia dar-lhes o reino no futuro. Nós estávamos cumprindo um chamado superior.
Para nós, da Igreja Verdadeira e Viva de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias, uma dissidência da Igreja Mórmon, a poligamia era a Nova e Eterna Aliança do Casamento. Lei de Deus. Se você quisesse ir para o céu, tinha que ser um polígamo. No entanto, mesmo assim, houve momentos em que essa lei divina me pareceu um pouco bizarra.
Durante os momentos de dúvida, eu me sentia indigna, porque, afinal, no Antigo Testamento as esposas de Jacó nunca demonstraram ciúmes umas das outras.
Fomos eleitos. Eu poderia fazer melhor. Eu faria melhor.
Quem achasse que eu era uma pessoa dividida, não estaria errado. Eu me vangloriava de estar convicta de estar seguindo um plano divino, mas por dentro me doía porque o que Deus exigia de mim era terrível.
Eu tentei reforçar minhas forças com a convicção do meu marido. Ele sabia que estávamos no caminho do Senhor. Ele me disse que o Espírito Santo tinha se manifestado sobre a justeza de nossa conduta, tentando animar o meu coração.
Naquela noite, ele voltou para o quarto, o meu quarto, onde estava a minha irmã-esposa, para terminar a passar a noite com ela. Esmurrando o meu travesseiro, em murmurei: “Não se trata de sexo e um plano de Deus.”
No dia seguinte, nenhum de nós três comentou nada. E a minha irmã-esposa passou a dormir em um quarto em outro extremo da casa.
Com informação do site da escritora.
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novembro de 2010
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Igreja dos Mórmons.