Título original: Campanha nas igrejas
por Xico Sá para Folha
Não existe amor em São Paulo, caro Criolo, e a democracia também não passa muito bem. Uma disputa praticamente sem debate conduz a uma eleição atípica que saiu das ruas e se abrigou, de forma vergonhosa -como um vira-lata que encontra a porta aberta-, nos templos e igrejas.
Os gogós dos padres e dos pastores substituíram a oratória política e devem decidir, nas missas e nos cultos do próximo domingo, o destino da cidade. Pela ira santa de ontem no seu blog, o bispo Edir Macedo sentiu o golpe terreno da desconstrução da sua ovelha política Celso Russomanno (PRB) e vai tentar sacudir o rebanho. O voto como dízimo.
A entediante campanha eleitoral não é um fenômeno isolado. Pode ser apenas a consequência do processo de encaretamento que encontrou na era Kassab o mais perfeito papa-hóstia. Voltamos aos tempos do Jânio Quadros. Com menos talento dramático -nisso JQ era um gênio- e sem a sacanagem embriagada do marido da dona Eloá.
Covardemente, com o medo de perderem votos, Serra (PSDB) e Haddad (PT), ligados à tradição mais democrática que esteve unida nos palanques das Diretas-Já e nos maiores comícios da história da cidade, tudo pensam, nada falam. Como no "Último Desejo" do Noel Rosa.
São Paulo, caro Criolo, carece reaprender a fazer manifestos, como fazem você, Tom Zé e Mano Brown. Há mais política em um disco, sacado aleatoriamente em qualquer prateleira das Grandes Galerias, do que em toda a campanha eleitoral de 2012.
Essa onda de acreditar que São Paulo é só uma cidade conservadora também não é lá bem assim. Conservadora, vírgula. É a cidade onde o pau comeu com os operários anarquistas no começo do século passado, é a cidade da Semana de Arte Moderna de 1922, é a cidade mais roqueira do país, é a cidade aberta que recepciona as manifestações artísticas mais radicais feitas fora do eixo Rio-São Paulo etc.
É, caro Criolo, acabei fazendo uma crônica-comício. E já que a eleição virou uma guerra santa, só me resta seguir o conselho do amigo Groucho Marx: "Todo mundo precisa crer em algo. Creio que vou tomar um uísque".
Não dá para impedir influência da religião no voto, diz Schwartsman.
outubro de 2012
Religião na política.
por Xico Sá para Folha
Não existe amor em São Paulo, caro Criolo, e a democracia também não passa muito bem. Uma disputa praticamente sem debate conduz a uma eleição atípica que saiu das ruas e se abrigou, de forma vergonhosa -como um vira-lata que encontra a porta aberta-, nos templos e igrejas.
Os gogós dos padres e dos pastores substituíram a oratória política e devem decidir, nas missas e nos cultos do próximo domingo, o destino da cidade. Pela ira santa de ontem no seu blog, o bispo Edir Macedo sentiu o golpe terreno da desconstrução da sua ovelha política Celso Russomanno (PRB) e vai tentar sacudir o rebanho. O voto como dízimo.
A entediante campanha eleitoral não é um fenômeno isolado. Pode ser apenas a consequência do processo de encaretamento que encontrou na era Kassab o mais perfeito papa-hóstia. Voltamos aos tempos do Jânio Quadros. Com menos talento dramático -nisso JQ era um gênio- e sem a sacanagem embriagada do marido da dona Eloá.
Covardemente, com o medo de perderem votos, Serra (PSDB) e Haddad (PT), ligados à tradição mais democrática que esteve unida nos palanques das Diretas-Já e nos maiores comícios da história da cidade, tudo pensam, nada falam. Como no "Último Desejo" do Noel Rosa.
São Paulo, caro Criolo, carece reaprender a fazer manifestos, como fazem você, Tom Zé e Mano Brown. Há mais política em um disco, sacado aleatoriamente em qualquer prateleira das Grandes Galerias, do que em toda a campanha eleitoral de 2012.
Essa onda de acreditar que São Paulo é só uma cidade conservadora também não é lá bem assim. Conservadora, vírgula. É a cidade onde o pau comeu com os operários anarquistas no começo do século passado, é a cidade da Semana de Arte Moderna de 1922, é a cidade mais roqueira do país, é a cidade aberta que recepciona as manifestações artísticas mais radicais feitas fora do eixo Rio-São Paulo etc.
É, caro Criolo, acabei fazendo uma crônica-comício. E já que a eleição virou uma guerra santa, só me resta seguir o conselho do amigo Groucho Marx: "Todo mundo precisa crer em algo. Creio que vou tomar um uísque".
Não dá para impedir influência da religião no voto, diz Schwartsman.
outubro de 2012
Religião na política.
Comentários
O problema é São Paulo recepcionar eventos fora de si mesma.
Claro que não foi a intenção do Xico (de quem gosto muito) chamar os políticos ou igrejas de vira-latas, mas nunca "igrejas e vira-latas" se juntou tão bem numa mesma frase. SP merece bem mais do que esses cabeças-de bagre.
A Teologia da Libertação sempre usou a religião para fazer pregação doutrinária ideológica. Os padres libertadores não são cristãos, simplesmente porque adoram Barrabás, que era um revolucionário, & não Cristo. Se Jesus tivesse escolhido o caminho da revolução, o povo não o teria condenado ao madeiro.
Como se vê, aqueles que amam um ideal de sociedade mais justa detestam seres humanos justos. Entendo bem a raiva que domina o coração do autor: não é que ele discorde do uso das Igrejas para incubação ideológica; ele discorda é da incubação ideológica de direita feita pelas Igrejas. Se fosse uma doutrinação esquerdista, com certeza o autor não reclamaria.
A hipocrisia dominou o mundo. Ainda bem que nós, os gnósticos místicos, não aceitamos o deísmo de Rousseau. & Rousseau é o pai desse profundo sentimento politicamente correto que devastou a Imaginação em nossa sociedade.
Leiam o poema A Igualdade, no blog do Arcanjo Suburbano.
abraços,
Ezequiel
Agora estão associado até o estado laico...
Eles só ficariam satisfeitos se fôssemos como a Arábia Saudita: uma teocracia pró-EUA.
[..] associaram [...]
[..] estão associando [...]
Postar um comentário