Título original: Milagre, um bom negócio
por Ricardo Gondim
janeiro de 2012
Não há nenhum código regulamentando as igrejas hábeis em produzir milagres |
pastor da Igreja Betesda
Casas Bahia e Magazine Luíza disputam o mesmo mercado. As duas lojas se engalfinham para abocanhar o filão dos eletrodomésticos, guarda-roupas de madeira aglomerada e camas de esponja fina. Buscam conquistar assalariados, serralheiros, aposentados e garis. Nos comerciais da televisão, o preço da geladeira aparece em caracteres pequenos, enquanto o valor da prestação explode gigante na tela. A patuleia calcula. Não importa o número de meses, se couber no orçamento, uma das duas, Bahia ou Luiza, fecha o negócio – com um juro embutido entre os maiores do mundo.
Toda noite, entre oito e dez horas, a mesma cantilena se repete nos programas evangélicos na televisão. Pelo menos quatro “ministérios” disputam outro mercado: o religioso. Caçam clientes que sustentem, em ordem de prioridade, empreendimentos expansionistas, ilusões messiânicas e o estilo de vida nababesco de seus líderes. Assim, cada programa oferece milagre. Cada um alicerça a promessa de que Deus vai prosperar, amenizar problemas matrimoniais, resolver causas na justiça com testemunho. Entrevistam gente que jura ter sido brindada pelo divino. Não faltam documentos, exames médicos, carros luxuosos. Deus teria usado aquele apóstolo, bispo, missionário, para abençoar inúmeras pessoas para uma vida sem sufoco.
Infelizmente, o preço do produto religioso — o milagre — também não é explicitado. Alardeia-se apenas a espetacular maravilha. As letrinhas, que não aparecem na parte de baixo do vídeo, caso fossem reguladas pelo conselho nacional de propaganda, teriam que deixar claro, por mais “ungido” que for o missionário, que em nenhuma dessas igrejas televisivas o milagre é gratuito ou instantâneo.
Um monte de exigência vem embutida na promessa de bênção: ser constante nos cultos por várias semanas, contribuir financeiramente para que a obra de Deus continue e, ainda, manter-se corretíssimo. Um deslize mínimo, um pecadilho qualquer, impede o Todo Poderoso de concretizar a maravilha. E ainda tem a falta de fé como critério inegociável. Qualquer dúvida é considerada um obstáculo, que mata a possibilidade do milagre.
Considerando que a rádio também divulga prodígios a granel, como um cliente religioso pode optar? Deus apontou o dedo para qual igreja, missionário, apóstolo, pastor ou evangelista? Quem foi “ungido” representante do divino para o privilégio de “operar” esse sem-número de milagres? Um pai que sofre com uma filha com leucemia aguda, não pode se dar ao luxo de errar. Se apela para uma igreja com pouco poder sobrenatural, perde a filha. O seguro seria ele frequentar todas. Mas como? Ele é pobre e não tem como fazer todas as campanhas que produzem o extraordinário.
O acesso ao milagre se complica ainda mais porque essa igrejas-empresas gastam milhões para veicular na mídia um valor simbólico: exceção. Sim, no milagre ofertado pelos televangelistas está a expectativa egocêntrica de que o Todo Poderoso distinguirá apenas um punhado entre todos os outros sete bilhões de habitantes do planeta. “Deus abrirá uma brecha na ordem da vida para privilegiar você”. “Outros podem padecer nos corredores sujos de ambulatórios médicos, mas você que veio aqui na igreja X, não precisará passar por tanta humilhação”.
Lojas de eletrodoméstico vendem eletrodoméstico, óbvio. Igrejas evangélicas comercializam a esperança. Elas fortalecem a ideia de que existem agenciadores do favor divino. Alguns com exclusividade. Pelo serviço cobram caro, muito caro. Afinal de contas, um produto celestial não pode ser negociado como bem de quarta categoria. Os televangelistas só oferecem “Brastemps” vindas do céu.
Mas a dúvida persiste: qual o melhor balcão de serviços religiosos? Que varejista está mais aparelhado para distribuir os favores divinos? Os vendilhões do templo de hoje não se comparam aos do tempo de Jesus. Eles se escolaram no marketing. Especializaram-se em conforto. Valem-se da linguagem piedosa que confunde fé com credulidade. Se as grandes redes comerciais devem se conformar ao Código do Consumidor, as igrejas hábeis em produzir milagre não passam por nenhuma regulamentação. Se algo der errado, o cliente nunca tem razão. Se a leucemia matar a filha, o pai, além de enlutado, acabará responsabilizado pela perda. Terá de escutar que a menina não foi curada porque o diabo entrou por alguma “brecha” e matou. Ou que alguém da família não “perseverou na fé” ou “não honrou a Deus com o dízimo”.
Assim como na música do Chico Buarque os frequentadores dessas igrejas-caça-níqueis encarnam o Pedro Pedreiro e ficam “esperando, esperando, esperando. Esperando o sol, esperando o trem. Esperando aumento para o mês que vem. Esperando um filho prá esperar também”.
Mercadologicamente, Casas Bahia e Magazine Luiza se comportam com critérios éticos bem à frente de algumas igrejas. Melhor assim, geladeira nova é bem mais útil do que a ilusão do milagre.
Soli Deo Gloria
Pastor Gondim afirma que ateus têm de ser ouvidos e respeitadosCasas Bahia e Magazine Luíza disputam o mesmo mercado. As duas lojas se engalfinham para abocanhar o filão dos eletrodomésticos, guarda-roupas de madeira aglomerada e camas de esponja fina. Buscam conquistar assalariados, serralheiros, aposentados e garis. Nos comerciais da televisão, o preço da geladeira aparece em caracteres pequenos, enquanto o valor da prestação explode gigante na tela. A patuleia calcula. Não importa o número de meses, se couber no orçamento, uma das duas, Bahia ou Luiza, fecha o negócio – com um juro embutido entre os maiores do mundo.
Toda noite, entre oito e dez horas, a mesma cantilena se repete nos programas evangélicos na televisão. Pelo menos quatro “ministérios” disputam outro mercado: o religioso. Caçam clientes que sustentem, em ordem de prioridade, empreendimentos expansionistas, ilusões messiânicas e o estilo de vida nababesco de seus líderes. Assim, cada programa oferece milagre. Cada um alicerça a promessa de que Deus vai prosperar, amenizar problemas matrimoniais, resolver causas na justiça com testemunho. Entrevistam gente que jura ter sido brindada pelo divino. Não faltam documentos, exames médicos, carros luxuosos. Deus teria usado aquele apóstolo, bispo, missionário, para abençoar inúmeras pessoas para uma vida sem sufoco.
Infelizmente, o preço do produto religioso — o milagre — também não é explicitado. Alardeia-se apenas a espetacular maravilha. As letrinhas, que não aparecem na parte de baixo do vídeo, caso fossem reguladas pelo conselho nacional de propaganda, teriam que deixar claro, por mais “ungido” que for o missionário, que em nenhuma dessas igrejas televisivas o milagre é gratuito ou instantâneo.
Um monte de exigência vem embutida na promessa de bênção: ser constante nos cultos por várias semanas, contribuir financeiramente para que a obra de Deus continue e, ainda, manter-se corretíssimo. Um deslize mínimo, um pecadilho qualquer, impede o Todo Poderoso de concretizar a maravilha. E ainda tem a falta de fé como critério inegociável. Qualquer dúvida é considerada um obstáculo, que mata a possibilidade do milagre.
Considerando que a rádio também divulga prodígios a granel, como um cliente religioso pode optar? Deus apontou o dedo para qual igreja, missionário, apóstolo, pastor ou evangelista? Quem foi “ungido” representante do divino para o privilégio de “operar” esse sem-número de milagres? Um pai que sofre com uma filha com leucemia aguda, não pode se dar ao luxo de errar. Se apela para uma igreja com pouco poder sobrenatural, perde a filha. O seguro seria ele frequentar todas. Mas como? Ele é pobre e não tem como fazer todas as campanhas que produzem o extraordinário.
O acesso ao milagre se complica ainda mais porque essa igrejas-empresas gastam milhões para veicular na mídia um valor simbólico: exceção. Sim, no milagre ofertado pelos televangelistas está a expectativa egocêntrica de que o Todo Poderoso distinguirá apenas um punhado entre todos os outros sete bilhões de habitantes do planeta. “Deus abrirá uma brecha na ordem da vida para privilegiar você”. “Outros podem padecer nos corredores sujos de ambulatórios médicos, mas você que veio aqui na igreja X, não precisará passar por tanta humilhação”.
Lojas de eletrodoméstico vendem eletrodoméstico, óbvio. Igrejas evangélicas comercializam a esperança. Elas fortalecem a ideia de que existem agenciadores do favor divino. Alguns com exclusividade. Pelo serviço cobram caro, muito caro. Afinal de contas, um produto celestial não pode ser negociado como bem de quarta categoria. Os televangelistas só oferecem “Brastemps” vindas do céu.
Mas a dúvida persiste: qual o melhor balcão de serviços religiosos? Que varejista está mais aparelhado para distribuir os favores divinos? Os vendilhões do templo de hoje não se comparam aos do tempo de Jesus. Eles se escolaram no marketing. Especializaram-se em conforto. Valem-se da linguagem piedosa que confunde fé com credulidade. Se as grandes redes comerciais devem se conformar ao Código do Consumidor, as igrejas hábeis em produzir milagre não passam por nenhuma regulamentação. Se algo der errado, o cliente nunca tem razão. Se a leucemia matar a filha, o pai, além de enlutado, acabará responsabilizado pela perda. Terá de escutar que a menina não foi curada porque o diabo entrou por alguma “brecha” e matou. Ou que alguém da família não “perseverou na fé” ou “não honrou a Deus com o dízimo”.
Assim como na música do Chico Buarque os frequentadores dessas igrejas-caça-níqueis encarnam o Pedro Pedreiro e ficam “esperando, esperando, esperando. Esperando o sol, esperando o trem. Esperando aumento para o mês que vem. Esperando um filho prá esperar também”.
Mercadologicamente, Casas Bahia e Magazine Luiza se comportam com critérios éticos bem à frente de algumas igrejas. Melhor assim, geladeira nova é bem mais útil do que a ilusão do milagre.
Soli Deo Gloria
janeiro de 2012
Comentários
O resto merece um tiro na cara.
Mas ninguém acredita.
Pelo menos a evolução já pode ser comprovada via DNA, então logo a bíblia, o deus cristão e seu filho morrem de vez.
Se existe um Deus criador, cristão ele não é.
Por que então dar dinheiro a esses mercadores da fé?
Exemplo são aquelas pessoas que procuram religiões para ter um carro novo, uma casa nova, e estão metodicamente todo dia no culto, mas não se dão o trabalho de se classificar para empregos e oportunidades melhores.
Outro exemplo são aqueles que resolvem participar de um grupo como esse querendo evitar julgamentos morais, como "ex" prostitutas, "ex" gays, "ex" bandidos. Mas não mudaram em nada suas personalidades.
Quantas vezes nos deparamos com pessoas sem a minima idoneidade moral nas manchetes, apenas para depois descobrir que elas eram membros ativos de alguma religião?
A essas hipócritas, desejo sim que sejam "roubadas" e "manipuladas". No final, pelo menos vamos colher algo bom dessas hipocrisias religiosas.
Dos males o menor.
Não vejo mais que cinismo nessas igrejas que se dizem evangélicas mas que se comportam pior que a Católica na Idade Média quando esta vendia indulgências.
Tudo que essas "igrejas" faz é vender indulgências(o perdão e a graça divina) para os incautos. Só isso. Olha aí, Lutero, tua cria!
Além de ser um insulto a inteligência das pessoas[inteligentes], é um estímulo ao egoísmo e ao pensamento anticristão do egocentrismo. Os "eleitos" evangélicos(pelo menos os que vejo no Brasil) entram num paradoxo, obviamente não sabem, mas os "pastores" sabem e se aproveitam disto.
Sou católico praticante e agnóstico e concordo plenamente com este texto postado em site ateu.
o problema nisso é que o que comprou, comprou vento e ilusão. No máximo um estímulo ou um placebo.
E as vezes acho que esses compradores tem o que merecem, com excessão de alguns poucos.
Participo de tudo que a tradição pede porque sei que é certo, que tudo tem uma utilidade maior ou menor. Sei que se não houver nada depois da vida, se não houver um Deus onipotente, onisciente e justo, antes de morrer vou ter a certeza de que fiz tudo que podia para tornar a vida das pessoas ao meu redor melhor, ainda que com um nó na garganta, pois conheci muita gente boa que já se foi e podem simplesmente terem deixado de existir. E se Deus existir - o que torço bastante, pois assim não teria que me preocupar com as injustiças que as pessoas fazem -, eu também tenho a certeza de que fiz tudo certo da maneira que pudi para não ir para o inferno.
Então se Ele não existir não vai fazer diferença. Só que, como já expliquei, torço incondicionalmente para que Deus exista, pois seria muito melhor ter alguém realmente fazendo uma justiça que seria eterna. Logo se Ele existir faria toda a diferença para mim, que não teria que me preocupar com as injustiças do passado e do futuro. Só queria ter mais fé n'Ele, mas....
http://www.youtube.com/watch?v=TYWbWEqk7Cc
Kakakaka
Os neopentecostais é contrários a tudo isto aí.
...se Ele existir faria toda a diferença para mim."
=S
moro numa casa de dez comodos, tenho um audi na garagem, ganho cinco mil por mes (minha esposa ganha um pouco mais), viajamos uma vez por ano, não nos falta nada, estamos comprando um apartamento na praia.
tudo resultado do NOSSO TRABALHO. Fiz faculdade, fiz pós, minha esposa fez mestrado. Eu sou ateu há mais de vinte anos. Minha saúde está ótima! Não há tragédias aqui em casa! Meus filhos só tem tirado notas boas! (pudera, os pais os incentivam a ler desde cedo, nós praticamente os alfabetizamos antes mesmo de irem a escola).
e aqui é um lar ATEU! porque eu ia ter inveja de você, estúpido????
Ruggero
Me parece algo do tipo... "a coisa que eu creio e acho prudente crer, é fé. o que o outro crê e eu acho imprudente é credulidade."
Exatamente, pois cristão "de verdade" filho de Jeová, não faz nada disso, apenas prega que faz, mas não faz.
Mas se os pastores já estão esperneando e dizendo-se ameaçados de "mordaça" diante de um projeto de lei pra criminalizar discursos (incitação) de ódio e demais ações homofóbicas, imagine então o quanto não esperneariam e gritariam até enfartar caso houvesse um projeto de lei para regulamentar as finanças das igrejas...
O Brasil, lamentavelmente, é um caso perdido.
Quem tiver condições/coragem, que procure um país civilizado para viver o resto de sua existência, pois a vida de cada um é única e curtíssima, então não dá pra permanecer num país de progresso rastejante feito o Brasil.
Veja a quanto tempo o PLC 122 vem sendo empurrado com a barriga e está na beira do precipício... por aí já dá pra se ter uma noção de como seria votar projeto de regulamentação das igrejas.
Saiam enquanto podem, esse é o meu conselho pra quem deseja apenas VIVER.
Quem ficar, terá que morrer lutando ou então se adequar, sem meio-termo.
Casas Bahia nunca é vantajosa, mas como ela costuma parcelar em 1000x no carnê, os probres a preferem.
Pra sua informação já existe, se chama Receita Federal.
Só falta mesmo é fiscalizar as igrejas, pra dificultar um pouco a ação dessas máfias!
Se não fosse por essa máfia religiosa, não teríamos nem a metade dos problemas sociais que enfrentamos, visto que não teríamos nem 10% da atual corrupção que assola o país!
"Um deslize mínimo, um pecadilho qualquer, impede o Todo Poderoso de concretizar a maravilha. E ainda tem a falta de fé como critério inegociável. Qualquer dúvida é considerada um obstáculo, que mata a possibilidade do milagre."
Vemos na Bíblia que não precisava ser crente para receber algo de Deus. Vejam:
"E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia;
E, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe;
E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós.
E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos.
E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz;
E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano.
E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove?
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?
E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.
Lucas 17:11-19"
"E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.
E era trazido um homem que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam.
O qual, vendo a Pedro e a João que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola.
E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.
E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa.
E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.
E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram.
E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus.
E todo o povo o viu andar e louvar a Deus;
Atos 3:1-9
Vemos aqui nestas duas passagens que não é preciso ser crente para receber algo de Deus. Portanto ele mente.
Outra coisa, nos cultos realizados em nossas igrejas, na Igreja Mundial e em outras, as ofertas para mantimento da obra de Deus são pedidas no final do culto após as orações e a operação de Deus.
Se as pessoas não puderem ou não quiserem ofertar elas poderão simplesmente ir embora. E de livre e espontânea vontade. E como vemos acima Deus só pede que agradeça.
Em suma, este é um "pastor" derrotado que tenta obter projeção em cima de quem trabalha duro pela salvação das almas.
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