Ricardo Melo disse que sente repulsa por quem acha 'compreensível' a chacina |
“Repulsa é pouco para descrever o sentimento despertado pelo comentário que justifica, por "compreensível", a barbárie praticada contra um menor no Rio”, escreveu.
Trata-se de uma referência clara à jornalista Raquel Sheherazade (na foto abaixo), apresentadora do SBT Brasil, embora o nome dela não tenha sido citado. Foi ela quem considerou “compreensível” o ataque de justiceiros no Rio de Janeiro a um menor de idade negro— ele tem duas passagens pela polícia. O jovem foi espancado, linchado e, como na época da escravidão, preso a um poste.
Disse a jornalista: “Num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos “vingadores” é até compreensível”.
Sheherazade incita povo a fazer justiça com as próprias mãos |
Na semana da afirmação polêmica de Sheherazade, o SBT demitiu três comentaristas — Carlos Chagas, José Nêumanne Pinto e Denise Campos de Toledo.
O próprio Ricardo Melo foi dispensado um dia antes de a Sheherazade ter pregado a justiça com as próprias mãos. Ele teria se desentendido com o departamento de relações humanas da emissora, que queria o comparecimento ao trabalho de um funcionário doente.
O SBT demitiu os comentaristas sob a alegação de que vai dedicar maior tempo às notícias, mas ainda não se sabe se Sheherazade continuará com espaço para suas opiniões. De qualquer forma, ela está com o emprego garantido na emissora, pelo menos por enquanto, porque conta com a proteção de Silvio Santos, o dono do SBT.
Em seu artigo, Ricardo Melo argumentou que não defende a restrição de liberdade de expressão de quem quer que seja. A questão, segundo ele, é avaliar o que foi dito — “e isto também é, ou deveria ser, uma prerrogativa básica”.
Com base nessa prerrogativa é que afirmou que se sente enojado com “representantes das trevas” que declaram “apoio ao ódio”.
Yvonne está chocada por viver em uma "sociedade nazista" |
O que ele gostaria mesmo é que pessoas como a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello (na foto ao lado), que acudiu o jovem acorrentado, se tornasse comentarista de TV. E, no entanto, conforme palavras da própria Yvonnw, ela foi xingada nas redes sociais e por e-mail e telefone. "Me acusaram de educar bandido", disse. "É um choque saber que vivemos em uma sociedade nazista, fascista".
Em julho de 1993, Yvonne já tinha denunciado a chacina que resultou em oito mortes de seis crianças e dois adultos que dormiam nas proximidades da Igreja Candelária, no Rio. Descobriu-se depois que os matadores eram policiais.
Escreveu Melo: "Pergunta incômoda: por que apesar de tanta liberdade de expressão Yvonne não tem espaço como comentarista de TV? Fica a ideia".
Há até quatro linchamentos por semana no país, diz sociólogoEm julho de 1993, Yvonne já tinha denunciado a chacina que resultou em oito mortes de seis crianças e dois adultos que dormiam nas proximidades da Igreja Candelária, no Rio. Descobriu-se depois que os matadores eram policiais.
Escreveu Melo: "Pergunta incômoda: por que apesar de tanta liberdade de expressão Yvonne não tem espaço como comentarista de TV? Fica a ideia".
fevereiro de 2008
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