Igreja Católica acredita ser proprietária não só da imagem como também da paisagem carioca |
No curta “Inútil Paisagem”, um dos dez que compõem o longa “Rio, eu te amo”, o personagem interpretado por Wagner Moura, durante um voo de asa-delta, reclama de Cristo sobre a violência da cidade da qual ele deveria ser o protetor. Na falta de uma resposta, o personagem dá uma banana para o Cristo.
Na avaliação da Cúria, o filme continha cenas “consideradas ofensivas à imagem do Cristo e, consequentemente, à casa dos católicos”.
Posteriormente, a Cúria desistiu da censura, admitindo que o filme não teve um enfoque religioso de desrespeito no trato à imagem do Cristo.
Sabe-se agora, de acordo com “O Globo”, que o recuo da Igreja Católica se deve ao recado de Marta Suplicy de que já estaria pronto um decreto presidencial para retirar a tutela da imagem da Cúria.
Antes, o prefeito Eduardo Paes (PMDB), do Rio, já tinha pressionado o cardeal Orani Tempesta, da Cúria, para liberar o Cristo Redentor filmado por Padilha.
O monumento se encontra em uma área cedida à Igreja na década de 1930, mas o acesso ao Cristo se dá pelo Parque Nacional da Tijuca, da União e administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Padilha teve de reeditar às pressas o curta para incluir o trecho da conversa do personagem com o Cristo Redentor. Ele tinha dito não estar disposto recorrer à Justiça, para não perder tempo e dinheiro.
Antes do recuo da Cúria, Padilha, em artigo para Folha de S.Paulo, questionou: “Será que faz sentido a lei permitir que uma organização religiosa controle a imagem de um monumento que se situa em um local proeminente na paisagem do Rio de Janeiro e que é considerado um símbolo da cidade?”.
Continuou: “Aceitar que qualquer filmagem, fotografia ou representação gráfica do Cristo Redentor precise de autorização da cúria é dar à Igreja Católica o controle sobre a imagem de boa parte da paisagem carioca. Qualquer tomada aérea acima do Sumaré que enfoque a Lagoa ou a baía de Guanabara mostra o Cristo”.
Padilha ressaltou que o Brasil é um país laico. “Se a estátua do Cristo Redentor deve ser entendida como um objeto religioso privado, que não pode ser reproduzido livremente para todos nós, então imagino que ela deva ser tratada como um outdoor, uma propaganda de uma organização religiosa. Neste caso, talvez o Rio devesse cobrar pelo uso comercial do seu espaço...”
Com informação do "Globo", "Folha" e outras fontes.
janeiro de 2014
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