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Como Deus não existe, a questão é por que há tantos religiosos

As religiões organizadas usam vários artifícios para dar aos fiéis a sensação de pertencimento, para, em consequência, obter sua fidelidade

D.F. SWAAB E JANE HEDLEY-PROLE
trecho do livro We Are Our Brains:
A Neurobiography of the Brain,
from the Womb to Alzheimer's


A pergunta mais interessante sobre a religião não é se Deus existe, mas por que tantas pessoas são religiosas. Há cerca de 10 mil diferentes religiões, e cada uma delas está convencida de que só há uma verdade, da qual é a detentora.

Odiar pessoas de uma fé diferente parece ser parte da crença. Por volta do ano 1500, o reformador da igreja Martim Lutero descreveu os judeus como uma "raça de víboras". Ao longo dos séculos, o ódio cristão aos judeus levou aos pogroms e, finalmente, tornou possível o Holocausto.

Em 1947, mais de um milhão de pessoas foram abatidas quando a Índia britânica foi dividida em duas, uma para hindus e outra, o Paquistão, para muçulmanos.

Ciência investiga
relação entre
religião e 
transtorno
mental

Ódio inter-religioso não tem diminuído. Desde 2.000, 43% das guerras civis têm sido de natureza religiosa.

Quase 64 % da população do mundo é católica, protestante, muçulmano ou hindu. E a fé é extremamente tenaz. Por muitos anos, o comunismo era a única crença permitida na China, e a religião foi proibida, sendo considerada, na tradição de Karl Marx, como o ópio das massas. Mas em 2007, um terço do povo chinês afirmou ser religioso. Esse percentual foi divulgado por um jornal controlado pelo Estado, o China Daily, o que significa que o verdadeiro número de crentes é provavelmente maior.

Cerca de 95% dos americanos dizem que creem em Deus, 90% oraram, 82% acreditam que Deus pode fazer milagres e para mais de 70% há vida após a morte. É impressionante que apenas 50% acreditam no inferno, o que mostra certa incoerência.

Na Holanda, um país muito mais secular, os percentuais são mais baixos. Um estudo de abril de 2007 mostrou que, no espaço de 40 anos, a secularização tinha aumentado entre 33% e 61%.

Mais da metade do povo holandês duvida da existência de um poder superior — essa parcela é composta de agnóstico. Apenas 14% são ateus, o mesmo percentual de protestantes. Há um pouco mais católicos, 16%.

Em 2006, durante um simpósio em Istambul, Herman van Praag, professor de psiquiatria biológica que conta com a simpatia de 95% dos crentes nos Estados Unidos, tentou me convencer de que o ateísmo é uma "anomalia". "Isso depende com quem você se comparara", respondi.

Em 1996, uma pesquisa de cientistas americanos revelou que apenas 39% deles eram crentes, uma porcentagem muito menor do que a média nacional. Apenas 7% dos maiores cientistas do país (definidos para esta avaliação como os membros da Academia Nacional de Ciências) professavam a crença em Deus, enquanto entre os prêmios Nobel não havia nenhum religioso. Apenas 3% dos cientistas eminentes da Sociedade Real da Grã-Bretanha são religiosos.

Além disso, a meta-análise demonstrou haver uma correlação entre ateísmo, educação e QI alto. Portanto, há diferenças marcantes dentro das populações, e é claro que o grau de ateísmo está ligado à inteligência, educação, desempenho acadêmico e um interesse positivo na ciência natural.

Os cientistas também diferem por disciplina: os biólogos são menos propensos a crer em Deus em relação aos físicos. Portanto, não é surpreendente que a grande maioria (78%) dos biólogos evolucionistas eminentes entrevistados se considerava “materialista”, o que significa que acredita que a matéria física é a única realidade.

Quase três quartos (72%) deles consideram a religião como um fenômeno social que se desenvolveu junto com o Homo sapiens. Para eles, a religião faz parte da evolução, ao invés de entrar em conflito com ele. De fato, a religião deve ter proporcionado uma vantagem evolutiva.

A receptividade à religião é determinada pela espiritualidade, que é de 50% geneticamente determinada, como estudos sobre gêmeos têm mostrado. A espiritualidade é uma característica que todo mundo tem em um grau, mesmo que não se pertença a uma igreja.

A decisão de ser religioso (ou não) certamente não é "livre". Os pais e o ambiente cultural são determinantes para imprimir a religião em nossos circuitos cerebrais durante o desenvolvimento precoce, de uma forma semelhante à nossa língua nativa.

Mensageiros químicos como a serotonina afetam o grau em que somos espirituais. O número de receptores de serotonina no cérebro corresponde a pontuação para a espiritualidade.

Substâncias que afetam a serotonina, como o LSD, a mescalina (do cactus peyote), e psilocibina (de cogumelos mágicos) podem gerar experiências místicas e espirituais. As experiências espirituais também podem ser induzidas por substâncias que afetam o sistema de opiáceos do cérebro.

Dean Hamer acredita que ele identificou o gene que predispõe o nosso nível de espiritualidade, como ele descreve em "The God Gene" (2004). Mas uma vez que, provavelmente, irá revelar-se simplesmente um dos muitos genes envolvidos, ele teria feito melhor chamar o seu livro "Um Deus Gene." O gene em questão recebeu o código de VMAT2 (vesicular transportador monoamina 2), uma proteína que envolve mensageiros químicos (monoaminas) em vesículas de transporte através das fibras nervosas e é crucial para muitas funções cerebrais.

A programação religiosa do cérebro de uma criança começa após o nascimento. O biólogo evolucionista britânico Richard Dawkins fica indignado quando é feita referência a "cristãos, muçulmanos ou crianças judias" porque as crianças não têm qualquer tipo de fé própria. A fé é impressa nelas em um estágio muito impressionável por terem pais cristãos, muçulmanos ou judeus.

Dawkins salienta que a sociedade não toleraria haver crianças de quatro anos ateias, humanistas ou agnósticas e que não se deve ensinar as elas o que pensar, mas como pensar.

O biólogo vê a crença como um subproduto da evolução. Crianças aceitam as instruções dos pais e argumentos de outras autoridades porque isso as protegem do perigo. As crianças são crédulas e, portanto, fácil de doutrinar. Isso explica a tendência universal para que filhos mantenham a fé de seus pais.

A aprendizagem social pela cópia é um mecanismo extremamente eficiente. Nós temos um sistema de neurônios-espelho para ele. Assim as ideias religiosas — como a de que há vida após a morte, que o mártir irá para o paraíso e terá 72 virgens como recompensa, que os incrédulos devem ser perseguidos, e que nada é mais importante do que a crença em Deus — também são transmitidas ​​de geração em geração e impressas em nosso circuito cerebral.

Todos sabemos o quanto é difícil remover, mesmo com argumentos lógicos, ideias que se impregnaram em pessoas logo no início do seus desenvolvimento.

Vantagem Evolutiva da Religião


"A religião é material excelente para manter as pessoas comuns tranquilas." - Napoleão Bonaparte

A evolução do homem moderno tem dado origem a cinco características comportamentais comuns a todas as culturas: linguagem, ferramentaria, música, arte e religião.

Precursores de todas essas características, com exceção da religião, podem ser encontrados no reino animal. No entanto, a vantagem evolutiva da religião para a humanidade é clara.

(1) Em primeiro lugar, a religião liga grupos. Judeus foram mantidos juntos como um grupo por sua fé, apesar da Diáspora, Inquisição e Holocausto.

Para os líderes, a crença é um excelente instrumento. Como Sêneca disse: "Religião é considerada pelas pessoas comuns como verdadeira, pelos sábios como falsa, e pelos governantes como útil".

As religiões usam vários mecanismos para manter o grupo unido. Um deles é a mensagem de que é pecaminoso se casar com um descrente (ou seja, alguém com uma opinião diferente). Como diz um velho provérbio holandês: "Quando duas religiões compartilham um travesseiro, o diabo dorme no meio." Este princípio é comum a todas as religiões, com advertências e punições. Segregar a formação das pessoas de acordo com sua fé facilita a rejeição do outro porque a ignorância gera o desprezo.

Outro controle de pessoas pelos líderes religiosos é a imposição de regras sociais em nome de Deus, por vezes acompanhadas por ameaças terríveis sobre o destino daqueles que não mantê-las. Blasfêmia é severamente punida no Antigo Testamento e é ainda um crime capital no Paquistão.

Ameaças também ajudaram igrejas a ficarem ricas e poderosas. Na Idade Média, enormes somas foram pagas em troca de "indulgências", encurtando o tempo que alguém iria passar no purgatório.

Ameaças e intimidações são eficazes mesmo nos atuais dias. No Colorado (EUA), um pastor introduziu a ideia de "Casas inferno" para onde escolas cristãs fundamentalistas enviam crianças para assustá-las sobre os castigos que as esperam após a morte, se desviarem do caminho de Deus.

As crenças recorrem também a sinais e ao uso de determinadas adereços ou roupas para proporcionar aos fiéis a sensação de pertencimento a um grupo, mantendo, em consequência, esse grupo o mais coeso possível. Exemplos: roupas pretas, solidéu, cruz, lenço ou burca.

Os fiéis também são “marcados” por características físicas, como a circuncisão de meninos ou meninas, ou o conhecimento das escrituras sagradas, orações e rituais.

Você deve ser capaz de ver que pertence ao grupo, a fim de obter proteção. Relações sociais dentro do grupo resultam em vantagens consideráveis ​​e têm um papel importante nas igrejas americanas.

O sentimento de grupo de parentesco tem sido reforçado ao longo dos séculos por relíquias sagradas veneradas por várias religiões. Não importa a quantidade de ruínas de templos de Buda na China e no Japão, nem que os tantos estilhaços da Verdadeira Cruz que foram preservados, os quais, de acordo com Erasmus, são suficientes para a construção de uma frota de navios. O ponto é que essas coisas mantêm o grupo unido.

O mesmo vale para as 20 ou mais igrejas que afirmam ter o prepúcio original de Cristo — segundo a tradição judaica, Jesus foi circuncidado com oito dias. Alguns teólogos têm argumentado que o prepúcio de Cristo foi restaurado em sua ascensão ao céu. No entanto, de acordo com o teólogo do século 17 Leo Allatius, o Santo Prepúcio subiu ao céu separadamente, formando o anel em torno de Saturno.

Finalmente, a maioria das religiões tem regras que promovem a reprodução. Isto pode implicar a proibição de contracepção. Os crentes são orientados a ter filhos e doutriná-los, fazendo com que o grupo fique maior e, portanto, mais forte.

(2) Tradicionalmente, os mandamentos e proibições impostas pelas religiões tiveram uma série de vantagens. Além da proteção oferecida pelo grupo, os contatos sociais e prescrições (como comida kosher) tiveram alguns efeitos benéficos para a saúde.

Ainda hoje, vários estudos sugerem que a crença religiosa está associada a uma melhor saúde mental, como indicado pela satisfação com a vida, melhor humor, mais felicidade, menos depressão, menos inclinações suicidas e menos dependência. No entanto, a causalidade dessas correlações não foi demonstrada, e os links não são conclusivos. Além disso, a redução da incidência de depressão só se aplica às mulheres. Homens frequentadores de igrejas são de fato mais propensos a ficar deprimido.

Um estudo israelense mostrou que, em completa oposição à hipótese desses pesquisadores, um estilo de vida religiosa foi associado a um risco dobrado de demência. Além disso, há estudos que mostram que a oração é positivamente correlacionada com problemas psiquiátricos.

(3) Ter uma fé religiosa é uma fonte de conforto e ajuda nos momentos difíceis, ao passo que os ateus têm de resolver os seus problemas sem ajuda divina.

Os crentes também podem consolar-se de que Deus deve ter tido um propósito quando eles são atingidos por algum mal. Em outras palavras, eles veem os seus problemas como um teste ou punição, ou seja, como tendo algum significado. "Porque as pessoas que têm um senso de propósito assumem que Deus também age de acordo com propósito", disse Spinoza.

O filósofo concluiu que a crença em um deus pessoal surgiu porque os seres humanos assumiram que tudo à sua volta tinha sido criado para o seu uso e governo sobre a natureza. Então, os crentes viram todas as calamidades, como terremotos, acidentes, erupções vulcânicas, epidemias e inundações, como um castigo por esse mesmo ser.

De acordo com Spinoza, a religião surgiu como uma tentativa desesperada para afastar a ira de Deus.

(4) Deus tem a resposta para tudo o que não sabemos ou não entendemos, e a crença nos faz otimistas ("Sim, eu estou cantando uma canção feliz / Com um amigo como Jesus eu vou ficar forte").

A fé também dá às pessoas a garantia de que, mesmo que os tempos estejam difíceis, as coisas vão ser muito melhores na próxima vida.

Curiosamente, os adeptos da religião sempre alegam que ela adiciona "sentido" à sua vida, como se fosse impossível levar uma vida significativa sem intervenção divina.

(5) Outra vantagem da religião, ao que parece, é que ela acaba com o medo da morte — todas as religiões prometem a vida após a morte.

A crença na vida após a morte remonta a 100.000 anos. Sabemos disso a partir de itens encontrados em sepulturas: comida, recipientes para água, ferramentas, armas de caça e brinquedos.

Indivíduos da era Cro-Magnon [vestígios europeus mais antigos de Homo sapiens] enterravam seus mortos com grandes quantidades de joias, como ainda é ocorre hoje na Ásia. Os crentes dessas regiões e culturas acreditam que vão também precisar de boa aparência na outra vida.

Os religiosos, entretanto, não ficam imunes ao temor da morte. Até os crentes fervorosos têm medo de morrer, o que é compreensível considerando que a religião usa esse sentimento para manter o grupo coeso.

Além disso, muitos crentes parecem sentir incertos sobre a vida prometida após a morte.

Richard Dawkins, com razão, se perguntou: "Se eles [os crentes] são verdadeiramente sinceros, não deveriam se comportar como o abade de Ampleforth?

Quando o cardeal Basil Hume disse que estava morrendo, o abade ficou encantado: "Parabéns! É uma excelente notícia. Eu gostaria de estar indo com o senhor?”.

(6) Um elemento muito importante da religião tem sido a sanção para matar pessoas de outros grupos, em nome do próprio Deus. A vantagem evolutiva da combinação de agressão com a discriminação é clara. Durante milhões de anos, os seres humanos se desenvolveram em um ambiente onde só havia comida suficiente para o próprio grupo. Qualquer outro grupo encontrado no cerrado representava uma ameaça mortal e tinha de ser destruído.

Esses traços evolutivos de agressão e tribalismo podem ter dizimado gerações de agrupamentos. Isso explica por que a xenofobia ainda é tão difundida. O mundo inteiro está cheio de conflitos entre grupos com diferentes religiões. Desde tempos imemoriais a "paz de Deus" tem sido imposta aos outros a ferro e fogo. Isso é improvável que mude em breve.

Embora tenha vindo com um preço, esse comportamento trouxe vantagens. A proteção que ele oferece contra outros grupos melhoraram as chances de sobrevivência. Mas os danos causados ​​pelas religiões — em grande parte para os forasteiros, mas também para os membros do grupo — é enorme. Parece que esta situação não vai persistir indefinidamente, no entanto.

Um estudo do político britânico Evan Luard mostrou que a natureza das guerras vem mudando desde a Idade Média e que elas estão gradualmente se tornando mais curtas e em menor número. Então, talvez possamos ser cautelosamente otimista. Uma vez que a vantagem evolutiva da religião como agente de ligação e agressão para eliminar forasteiros vai desaparecer na economia e sociedade da informação globalizada. Dessa forma, livres das amarras das regras religiosas antiquadas, a humanidade poderá obter a verdadeira liberdade, não importa crença que cada de nós tenha ou a falta dela.

O Cérebro Religiosa

"Excitação emocional atinge os homens através do chá, tabaco, ópio, uísque e religião." George Bernard Shaw (1856 - 1950)

As experiências espirituais causam mudanças na atividade cerebral, o que é lógico, mas não revela a existência de Deus. Afinal, tudo o que fazemos, pensamos e fazemos implica nessas alterações. Os resultados deste tipo apenas aumenta a nossa compreensão das várias estruturas e sistemas do cérebro. Alguns tipos de experiência religiosas estão associados a sintomas de certas doenças neurológicas ou psiquiátricas.

Varreduras funcionais de monges japonesas mostram que diferentes tipos de meditação estimulam diferentes áreas do cérebro, isto é, as partes do córtex pré-frontal e o córtex parietal.

A crença religiosa também está associada à reatividade reduzida do córtex cingulado anterior (ACC, na sigla em inglês) — o mesmo ocorre em relação ao conservadorismo político.

Embora a causalidade dessas correlações não é clara, é interessante observar que a pessoa com tendência a tomar mais a iniciativa (em vez de ficar orando, por exemplo) acaba elevando as atividades no ACC.

Os eletroencefalogramas de freiras carmelitas têm mostrado fortes alterações durante experiências místicas quando elas sentiram que estavam em um com Deus. Em um estado como este, as pessoas também podem se sentir como se tivessem encontrado a verdade última. Elas perdem a noção do tempo e do espaço e acreditam estar em harmonia com a humanidade e o universo. Se sentem tomadas pela paz, alegria e amor incondicional.

Estudos neurofarmacológicos mostram que, nessas experiências, ocorre a ativação do sistema de dopamina. E o que pode tornar esse sistema mais ativo são determinados distúrbios. Revelou-se, assim, que a hiperreligiosidade está associada à demência fronto-temporal, à mania, ao comportamento obsessivo-compulsivo, à esquizofrenia e à epilepsia do lobo temporal.

Freiras carmelitas foram convidadas a recordar a sua experiência cristã mais mística ao se submeter a exames funcionais, que mostraram um padrão de ativação complexo de áreas do cérebro.

A ativação ocorreu no (1) centro do lobo temporal, possivelmente relacionada com o sentimento de estar se comunicando diretamente com Deus (esta região também é ativado em epilepsia do lobo temporal, às vezes causando intensas experiências religiosas). (2) Houve também ativação do “núcleo caudado” (uma área em que as emoções são processadas), possivelmente relacionada com o sentimento de alegria e amor incondicional. E (3) verificou ativação de atividades no tronco cerebral, o córtex insular e córtex pré-frontal, possivelmente relacionada com as reações corporais a essas emoções. (4) Finalmente, o córtex parietal também foi ativado, possivelmente relacionada com o sentimento de mudanças no mapa do corpo semelhantes aos de experiências de quase-morte.

Às vezes é difícil traçar uma linha entre experiências espirituais e sintomas patológicos. O primeiro pode sair da mão, levando à doença mental. Experiências religiosas intensas podem provocar ocasionalmente breves episódios de psicose.

Paul Verspeek, apresentando um programa em uma emissora holandesa, perguntou a psiquiatras como iriam reconhecer Jesus Cristo se voltasse à Terra. Como é que eles distinguiriam entre Jesus e os doentes mentais que afirmavam ser Cristo?

Perplexos, os psiquiatras tiveram dificuldade em dar uma resposta.

Durante os anos 1960, quando a meditação e uso de drogas eram populares, muitas pessoas desenvolveram distúrbios psiquiátricos. Eles não foram capazes de controlar as suas experiências espirituais, que danificaram seu funcionamento psicológico, social e profissional.

Em algumas culturas e religiões, no entanto, o empenhamento voluntário em práticas meditativas, transe, despersonalização e desrealização são completamente normais e, portanto, não podem ser vistos como sintomas de um transtorno psiquiátrico. Fenômenos que a cultura ocidental classifica como absurdo, como artes mágicas, voodoo e feitiçaria, são considerados normais em outras culturas.

Alguns também consideram alucinações visuais e auditivas de natureza religiosa (como ver a Virgem Maria ou ouvir a voz de Deus) como uma parte normal de experiências religiosas. Dito isso, uma alta proporção de pacientes com psicoses são religiosos, como sua condição, muitas vezes pede um interesse em espiritualidade. E muitos usam a religião como uma forma de lidar com a sua doença.

Assim, o comportamento religioso sempre precisa ser encarado à luz da ciência neurológica, levando em conta a época ou o cenário cultural em que ocorreram. Só com esse procedimento se pode diferenciar onde termina a religião e onde começam os problemas psiquiátricos. Ou como se mesclam em determinados casos.

> Texto foi adaptado do inglês para o português por este site, que também é responsável pelo título.

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