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Papa deveria manter a ciência separada da fé, afirma físico

por Stefania Parmeggiani
para La Repubblica  

Para Rovelli, melhor
 seria o papa não ter
 falado sobre o Big Bang
"É bom que o pontífice convide aos cientistas a seguir em frente com o seu trabalho, e os fiéis, a crerem em Deus sem, por isso, rejeitar a ciência. Mas é um grave erro dizer que o Big Bang exige a intervenção de um criador divino", disse o físico Carlo Rovelli (foto), que ouviu com atenção as palavras que o papa Francisco dirigiu à Pontifícia Academia das Ciências.

Ele gostou do que ouviu, porque o papa convidou os fiéis, também aqueles que negam a teoria da evolução, a respeitarem a ciência, a lógica e os fatos, mas o cientista pensa que seria melhor se ele não as tivesse pronunciado, porque "ciência e fé devem permanecer separadas".

Segue entrevista com Rovelli.

Não é a primeira vez que um pontífice se aventura nesse campo...

No dia 22 de novembro de 1951, o Papa Pio XII declarou em um discurso público que a teoria do Big Bang confirmava o relato da criação do Gênesis. George Lemaître, grande cientista, que foi o primeiro idealizador da teoria do Big Bang, e sacerdote católico, conseguiu convencê-lo a abrir mão disso. Até hoje o Vaticano tinha se atido a esse conselho.

Por quê?

A ideia de Lemaître era de que era um erro tentar misturar os dois planos. A teoria do Big Bang não é o fim da ciência. Sabemos que houve uma grande explosão, mas não sabemos o que havia antes.

Faz sentido perguntar-se se houve um antes? O Big Bang não se coloca fora do tempo?

O fato de que antes do Big Bang não existia o tempo é uma possibilidade, mas há outras possibilidades. Por exemplo, podemos pensar em outro universo antes daquele que vemos... É um absurdo que a Igreja ligue a si mesma a uma teoria científica. Poderia ser desmentida no dia seguinte. A busca da ciência não tem nada a ver com os relatos do Gênesis.Lemaître aconselhou Pio XII a não confundir planos diferentes. Esse conselho ainda é válido.

Como se explica a escolha do papa Francisco? Por que tocar justamente agora em assuntos que há décadas inflamam os ânimos?

Eu acho que ele não falou em polêmica com a ciência, mas com aqueles que leem a Bíblia de forma literal. Nos EstadosUnidos, a metade dos fiéis acredita que não houve a evolução das espécies, e em algumas escolas apagaram Darwin dos currículos... Acho que ele está se dirigindo a esses cristãos, dizendo-lhes que a Igreja Católica não concorda com isso.

É possível encontrar Deus na ciência?

Não. Há um único modo pelo qual a ciência pode explicar Deus: através da antropologia e da psicologia. Ela pode estudar o fenômeno religioso e como a humanidade, no seu fazer-se, o construiu. Mas certamente não pode procurar o divino no espaço, no tempo e nas leis da física. Isso não significa que os cientistas não sintam o mistério, a maravilha ou a sacralidade do universo. Estes são sentimentos humanos, que continuam verdadeiros, com ou sem Deus.

Como o senhor se definiria?

Como Margherita Hack e como a maioria da comunidade científica, eu diria que sou serenamente ateu.

Quando o senhor vê o universo, vê a ordem ou o caos?

Vejo a maravilha de muita ordem que nasce das infinitas combinações das coisas. E a maravilha do modo pelo qual essa ordem se reflete em nós e no nosso olhar.

Não poderia ser a mesma ordem que um crente vê?

Eu acho que sim. E a emoção é a mesma. O crente chama essa emoção de Deus. Eu a chamo de emoção.





Carta prova que Hubble não roubou o big bang do padre Lemaître
novembro de 2011


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