Irreverente diretor de teatro, Abu era ateu assumido |
Ele explicou que tinha gravado os CDs dos signos como ator. Com fino humor, comparando-se a um dos melhores atores de todos os tempos ao dizer que fazia TV, teatro, cinema e discos, "da mesma forma que Lawrence Olivier."
Abujamra (ou Abu) nasceu no dia 15 de setembro de 1932 em Ourinhos (SP) e morreu em São Paulo em 28 de abril de 2015, vítima de um enfarte do miocárdio. Ele era formado em filosofia e jornalismo.
Em seu programa de entrevista “Provocações”, que a TV Cultura de São Paulo manteve até agora, por 15 anos, Abu dizia que o destino de todos era morrer com sofrimento, em um hospital, com sondas no nariz para reforçar a respiração. Mas o próprio Abu se livrou disso. Aparentemente, ele morreu dormindo.
Casado com Cibélia, a Belinha, deixou os filhos Alexandre e André e dois netos. Sua mulher morreu há cerca de um ano.
Irreverente, inconformado e pessimista, Abujamra criou a companhia teatral “Os Fodidos Privilegiados”. Dirigiu mais de 120 peças e só iniciou sua carreira de ator aos 55 anos. Atuou em duas telenovelas e em três peças. Gostava de poesias, principalmente de João Cabral de Melo Neto (“aprendi muito com ele”), Carlos Drummond e Fernando Pessoa.
Na TV Cultura, desde 2.000, entrevistou mais 500 pessoas.
Aos seus convidados, Abujamra perguntava quem fez mais mal à humanidade, se o sistema financeiro ou se a religião.
O próprio Abu nunca respondeu a essa pergunta, pelo menos no “Provocações”. Provavelmente, por seu ateu, para ele a religião foi mais danosa para civilização.
Abujamra foi um entrevistador que não gostava de dar entrevistas.
Uma das poucas entrevistas que concedeu foi em janeiro de 2012 ao jornal "Estado de S.Paulo".
Entre outras coisas, afirmou não ter esperança na juventude e em nada. “Odeio a esperança. A esperança já fudeu a América Latina e você vem me perguntar, aos 79 anos, se tenho esperança? Minhas esperança é que você não viesse aqui hoje. Era a única (risos).”
O repórter quis saber que legado ele ia deixar.
Resposta: “Nenhum. Ando na rua, vejo o nome de fulano de tal na placa, me pergunto quem será. Eu vou morrer, vai ter tabuleta na tabacaria, vai cair a tabuleta, vai cair o dono da rua, vai cair tudo. Não quero deixar nada”.
Com informações da Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e outras fontes, com foto de divulgação.
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