Homossexuais deixaram o evento evangélico porque estavam com medo de ser agredidos |
para Exame.com
"Sorria! Jesus te aceita.” Estampada em camisetas amarelas, a mensagem resume o espírito de cerca de 500 manifestantes que estarão na Parada Gay de São Paulo no próximo domingo. Eles sorriem e dançam uma coreografia alegre ensaiada dias antes. Levantam as mãos para os céus, e é assim que se sentem: aceitos.
Fiéis da Igreja Contemporânea, esses evangélicos fizeram uma escolha: decidiram parar de frequentar a Marcha para Jesus e marcar presença no evento “rival”. “A Parada nos recebeu com muito carinho”, afirma a pedagoga Simone Queiroz, fiel da igreja há seis anos e agora pastora.
A Marcha para Jesus e a Parada Gay acontecem sempre em datas próximas em São Paulo. Neste ano, a diferença é de apenas quatro dias – a Marcha ocorre nesta quinta-feira, e a Parada, no domingo. A proximidade no calendário, porém, contrasta com a diferença de público.
“Deixamos de frequentar a Marcha porque nos sentíamos discriminados. Já ouvi dizerem abertamente coisas como ‘gay nunca foi nosso irmão’ e ‘casal gay não é família’. Como podem julgar que Deus é pai de um e não de outro?”, questiona Simone.
O medo de agressões também contou para a decisão: “Quem está com o microfone agride com palavras, mas não sabemos o que as pessoas ao redor podem fazer”, diz.
Considerada uma das maiores manifestações religiosas do mundo, a Marcha para Jesus foi trazida para o Brasil em 1993. Desde então, reúne milhares de pessoas e já foi palco de declarações polêmicas contra a união de casais gays e a criminalização da homofobia.
Conhecidos por suas posições contrárias os interesses dos homossexuais, os pastores Marco Feliciano e Silas Malafaia são presenças constantes no evento.
A reportagem de EXAME.com tentou contato várias vezes via telefone e e-mail com a organização da Marcha, mas não obteve resposta. Promotor do evento, o apóstolo da Igreja Renascer Estevam Hernandes já afirmou em outras ocasiões que a manifestação tem caráter estritamente religioso e que as opiniões expressas ali são pessoais.
Outra igreja que frequenta a Parada Gay e não participa da Marcha para Jesus é a Cidade de Refúgio. Sua história é parecida com a da Igreja Contemporânea: ambas foram criadas por casais gays que não encontraram espaço em igrejas tradicionais.
A fundadora Lanna Holder conta que, desde criança, sentia que era diferente das outras meninas. Ela assumiu sua sexualidade para a família aos 17 anos. Aos 21, se converteu à igreja evangélica. “Me converti para mudar minha sexualidade, porque eu tinha aprendido que quem é gay vai pro inferno”, lembra a ex-missionária da Assembleia de Deus.
Lanna conta que passou por uma espécie de checklist da cura gay: “Fiz jejum, subi monte, orei, casei, tive filho. Fiz tudo o que a igreja disse que eu devia fazer para mudar”. Quando percebeu que não mudaria, Lanna assumiu sua posição e foi expulsa da denominação junto com sua esposa, Rosania Rocha.
Para a Cidade de Refúgio, as denominações tradicionais fazem uma interpretação equivocada da Bíblia no que diz respeito à questão gay. “Eles dizem que os homossexuais vão ficar fora do reino de Deus. Mas não existe nenhum versículo bíblico que diga isso. É uma interpretação deles que não está ligada ao texto original”, diz.
É com essa mentalidade que a Cidade de Refúgio participa da Parada Gay. “Vamos para evangelizar. Levaremos 40 mil panfletos”, conta a pastora. Ela admite, porém, que a participação na Parada não é fácil.
“Às vezes somos recebidos com hostilidade. As pessoas acham que somos da igreja do Malafaia e nos respondem de forma dura. São pessoas que já foram muito agredidas”, diz.
A Igreja Contemporânea também distribui panfletos e aproveita o evento para angariar fiéis. “Estamos lá para acolher os que quiserem viver uma fé cristã”, diz o pastor Marcos Gladstone.
Outro objetivo é fazer um contraponto, digamos, mais comportado a outros grupos gays. “Vamos lá para mostrar outro lado do homossexual, o lado família. Comparecemos com nossos casais, de mãos dadas, com nossos filhos, e assim cantamos e celebramos”, conta ele.
Lanna Holder, da Cidade de Refúgio, faz questão de ressaltar que sua igreja não é diferente das outras evangélicas: “Nós não fazemos apologia à promiscuidade e à vida noturna. Acreditamos que o sexo só é lícito depois do casamento. A única diferença é que aceitamos homossexuais.”
"Sorria! Jesus te aceita.” Estampada em camisetas amarelas, a mensagem resume o espírito de cerca de 500 manifestantes que estarão na Parada Gay de São Paulo no próximo domingo. Eles sorriem e dançam uma coreografia alegre ensaiada dias antes. Levantam as mãos para os céus, e é assim que se sentem: aceitos.
Fiéis da Igreja Contemporânea, esses evangélicos fizeram uma escolha: decidiram parar de frequentar a Marcha para Jesus e marcar presença no evento “rival”. “A Parada nos recebeu com muito carinho”, afirma a pedagoga Simone Queiroz, fiel da igreja há seis anos e agora pastora.
A Marcha para Jesus e a Parada Gay acontecem sempre em datas próximas em São Paulo. Neste ano, a diferença é de apenas quatro dias – a Marcha ocorre nesta quinta-feira, e a Parada, no domingo. A proximidade no calendário, porém, contrasta com a diferença de público.
“Deixamos de frequentar a Marcha porque nos sentíamos discriminados. Já ouvi dizerem abertamente coisas como ‘gay nunca foi nosso irmão’ e ‘casal gay não é família’. Como podem julgar que Deus é pai de um e não de outro?”, questiona Simone.
O medo de agressões também contou para a decisão: “Quem está com o microfone agride com palavras, mas não sabemos o que as pessoas ao redor podem fazer”, diz.
Considerada uma das maiores manifestações religiosas do mundo, a Marcha para Jesus foi trazida para o Brasil em 1993. Desde então, reúne milhares de pessoas e já foi palco de declarações polêmicas contra a união de casais gays e a criminalização da homofobia.
Conhecidos por suas posições contrárias os interesses dos homossexuais, os pastores Marco Feliciano e Silas Malafaia são presenças constantes no evento.
A reportagem de EXAME.com tentou contato várias vezes via telefone e e-mail com a organização da Marcha, mas não obteve resposta. Promotor do evento, o apóstolo da Igreja Renascer Estevam Hernandes já afirmou em outras ocasiões que a manifestação tem caráter estritamente religioso e que as opiniões expressas ali são pessoais.
Outra igreja que frequenta a Parada Gay e não participa da Marcha para Jesus é a Cidade de Refúgio. Sua história é parecida com a da Igreja Contemporânea: ambas foram criadas por casais gays que não encontraram espaço em igrejas tradicionais.
A fundadora Lanna Holder conta que, desde criança, sentia que era diferente das outras meninas. Ela assumiu sua sexualidade para a família aos 17 anos. Aos 21, se converteu à igreja evangélica. “Me converti para mudar minha sexualidade, porque eu tinha aprendido que quem é gay vai pro inferno”, lembra a ex-missionária da Assembleia de Deus.
Lanna conta que passou por uma espécie de checklist da cura gay: “Fiz jejum, subi monte, orei, casei, tive filho. Fiz tudo o que a igreja disse que eu devia fazer para mudar”. Quando percebeu que não mudaria, Lanna assumiu sua posição e foi expulsa da denominação junto com sua esposa, Rosania Rocha.
Para a Cidade de Refúgio, as denominações tradicionais fazem uma interpretação equivocada da Bíblia no que diz respeito à questão gay. “Eles dizem que os homossexuais vão ficar fora do reino de Deus. Mas não existe nenhum versículo bíblico que diga isso. É uma interpretação deles que não está ligada ao texto original”, diz.
É com essa mentalidade que a Cidade de Refúgio participa da Parada Gay. “Vamos para evangelizar. Levaremos 40 mil panfletos”, conta a pastora. Ela admite, porém, que a participação na Parada não é fácil.
“Às vezes somos recebidos com hostilidade. As pessoas acham que somos da igreja do Malafaia e nos respondem de forma dura. São pessoas que já foram muito agredidas”, diz.
A Igreja Contemporânea também distribui panfletos e aproveita o evento para angariar fiéis. “Estamos lá para acolher os que quiserem viver uma fé cristã”, diz o pastor Marcos Gladstone.
Outro objetivo é fazer um contraponto, digamos, mais comportado a outros grupos gays. “Vamos lá para mostrar outro lado do homossexual, o lado família. Comparecemos com nossos casais, de mãos dadas, com nossos filhos, e assim cantamos e celebramos”, conta ele.
Lanna Holder, da Cidade de Refúgio, faz questão de ressaltar que sua igreja não é diferente das outras evangélicas: “Nós não fazemos apologia à promiscuidade e à vida noturna. Acreditamos que o sexo só é lícito depois do casamento. A única diferença é que aceitamos homossexuais.”
Com foto de divulgação.
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