Na oratória do papa, o difícil é saber onde começa o marketing |
Ao sair da sala do Vaticano onde tivera um encontro na segunda-feira (8) com a presidente Cristina Kirchner, da Argentina, o papa Francisco pediu aos jornalistas que ali estavam que orassem por ele. E acrescentou: “Se alguns de vocês não podem orar porque não são crentes, enviem-me boas vibrações”.
Não é a primeira vez que Francisco se refere aos ateus de maneira condescendente.
Em maio de 2013, para o espanto dos católicos carolas, o papa afirmou que o Sangue de Cristo redimiu a todos, sem exceção, “até mesmo os ateus”.
Considerando que os ateus compõem uma minoria das mais odiadas, até mesmo mais do que a dos homossexuais, dependendo do país, é confortador estar diante de um gesto como esse, de Francisco. Bento 16, o papa antecessor, não seria capaz de demonstrar tanta tolerância para com os ímpios.
Mas o problema em Francisco é saber onde em sua oratória termina a sinceridade e começa o marketing. Ou, em outras palavras, até que ponto ele está sendo hipócrita.
O que parece claro é que nem sempre o prega ele faz, por não querer, por convicção, ou por não poder por causas das amarras firmes do Vaticano.
Um exemplo: recentemente, o papa lançou um apelo ao mundo corporativo para que trate a mulher com igualdade, com o pagamento do mesmo salário destinado ao homem.
E, no entanto, a Igreja Católica é extremamente machista. Há mais de mil anos, seguindo à risca o que prega a Bíblia, ao menos nesse ponto, a Igreja trata a mulher como se ela fosse um ser humano de segunda categoria, negando-lhe o exercício do sacerdócio, por exemplo.
É óbvio que Francisco tem o direito de dizer o que quiser, mesmo para os não católicos. Mas ainda assim talvez fosse mais conveniente ele falar menos e dar mais exemplos, como acabar primeiro com a discriminação à mulher em sua própria casa, para somente depois pregar igualdade para o mundo. Quem prega o que não faz perde credibilidade.
Quanto às “boas vibrações” não se sabe exatamente o que isso vem a ser, do ponto de vista da ciência.
Se essas “vibrações” forem algo similar à “energia positiva”, muitos ateus vão ficar devendo ao papa porque eles também não acreditam nisso. Ateus entre os quais o médico Drauzio Varella.
Com base em sua experiência, Varella já disse que a tal de “energia positiva” não serve para fazer um avião voar sem combustível, assim como não tem nenhum poder de curar doenças.
Agora, ele poderá acrescentar que as "vibrações" também não ajudam papa a resolver suas contradições e as da Igreja.
Com informações das agências.
Notas de um ateu: papa prefere ateus aos 'católicos hipócritas'
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