por Juan Arias
para El País
Até os muçulmanos são mais liberais do que os católicos |
De fato, a Igreja Católica é hoje – com exceção das igrejas evangélicas fundamentalistas, militantes contra o aborto sem nuances – a mais severa contra o aborto, já que considera que o feto tem vida própria desde o primeiro momento da concepção.
As Igrejas protestantes, em geral, mesmo considerando que o aborto fere o princípio do respeito à vida, são mais liberais que a Católica. A Igreja Anglicana, por exemplo, permite o aborto antes das 28 semanas. Os metodistas deixam à mulher a liberdade de abortar, “após uma profunda meditação”, ou seja, com responsabilidade. Entre os luteranos, existem duas correntes: a radical, que se identifica com a católica oficial; e a mais liberal, que permite o aborto sob certas condições.
Até mesmo o Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, é mais liberal porque considera que o feto começa a ter alma só depois de 120 dias. De modo que o aborto seria permitido antes disso, como também em caso de risco à vida da mulher. Segundo o Corão, se a vida da mãe está em perigo, é preferível sacrificar a planta para salvar a raiz.
Para o judaísmo, nos tempos de Jesus o aborto não representava um problema, já que a maior condenação para uma mulher era ser estéril. Um filho era a maior bênção.
Em sua campanha de misericórdia com os pecadores, o papa Francisco quis introduzir o espinhoso caso das mulheres cristãs que abortaram, a quem a Igreja tem negado o perdão. Concedeu-o aos homossexuais, aos divorciados e até aos condenados por crimes graves. Nesse tema Francisco apela para a figura de Jesus, nos primórdios do cristianismo, que dizia ter vindo para resgatar todos os doentes, os pecadores e os desprezados.
As mulheres cristãs que abortaram foram sempre vistas pela Igreja como as grandes pecadoras a quem só um bispo podia perdoar. O papa jesuíta fala com amor e dor sobre elas, porque carregam, como afirma o Santo Padre, “uma cicatriz em seu coração”. Isso mostra muito o seu espírito de solidariedade, mas certamente será ainda insuficiente para as mulheres.
O papa sabe disso, mas conhece também a resistência da Igreja oficial em ceder nesse tema. Com senso prático, ele abre caminhos transversais, à espera, talvez, de que outros amanhã possam dar novos passos.
Não seria melhor que a Igreja se preocupasse menos em quantificar os pecados e mais em lembrar o que defendia o cardeal Newman, que, convertido do anglicanismo ao catolicismo, dizia: “Melhor errar seguindo a própria consciência do que acertar contra ela”?
Se na Idade Média a Igreja chegou a duvidar de que algumas mulheres tinham alma, a Igreja de hoje ainda resiste em aceitar que também as mulheres têm uma consciência à qual devem prestar contas antes de quem quer que seja.
As Igrejas protestantes, em geral, mesmo considerando que o aborto fere o princípio do respeito à vida, são mais liberais que a Católica. A Igreja Anglicana, por exemplo, permite o aborto antes das 28 semanas. Os metodistas deixam à mulher a liberdade de abortar, “após uma profunda meditação”, ou seja, com responsabilidade. Entre os luteranos, existem duas correntes: a radical, que se identifica com a católica oficial; e a mais liberal, que permite o aborto sob certas condições.
Até mesmo o Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, é mais liberal porque considera que o feto começa a ter alma só depois de 120 dias. De modo que o aborto seria permitido antes disso, como também em caso de risco à vida da mulher. Segundo o Corão, se a vida da mãe está em perigo, é preferível sacrificar a planta para salvar a raiz.
Para o judaísmo, nos tempos de Jesus o aborto não representava um problema, já que a maior condenação para uma mulher era ser estéril. Um filho era a maior bênção.
Em sua campanha de misericórdia com os pecadores, o papa Francisco quis introduzir o espinhoso caso das mulheres cristãs que abortaram, a quem a Igreja tem negado o perdão. Concedeu-o aos homossexuais, aos divorciados e até aos condenados por crimes graves. Nesse tema Francisco apela para a figura de Jesus, nos primórdios do cristianismo, que dizia ter vindo para resgatar todos os doentes, os pecadores e os desprezados.
As mulheres cristãs que abortaram foram sempre vistas pela Igreja como as grandes pecadoras a quem só um bispo podia perdoar. O papa jesuíta fala com amor e dor sobre elas, porque carregam, como afirma o Santo Padre, “uma cicatriz em seu coração”. Isso mostra muito o seu espírito de solidariedade, mas certamente será ainda insuficiente para as mulheres.
O papa sabe disso, mas conhece também a resistência da Igreja oficial em ceder nesse tema. Com senso prático, ele abre caminhos transversais, à espera, talvez, de que outros amanhã possam dar novos passos.
Não seria melhor que a Igreja se preocupasse menos em quantificar os pecados e mais em lembrar o que defendia o cardeal Newman, que, convertido do anglicanismo ao catolicismo, dizia: “Melhor errar seguindo a própria consciência do que acertar contra ela”?
Se na Idade Média a Igreja chegou a duvidar de que algumas mulheres tinham alma, a Igreja de hoje ainda resiste em aceitar que também as mulheres têm uma consciência à qual devem prestar contas antes de quem quer que seja.
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