Pular para o conteúdo principal

Justiça manda prender escrivã que negou certificado a casal gay

do Conjur

Kim disse que
Deus está acima
das leis dos EUA 
Uma escrivã de um tribunal do Condado de Rowan, em Kentucky, foi mandada para a prisão na quinta-feira porque se recusou a emitir licenças de casamento a casais gays — apesar de a Suprema Corte haver legalizado, há pouco tempo, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em todo o país.

A escrivã Kim Davis (foto) disse a dois casais gays que não iria emitir a licença porque isso é contra sua fé e sua consciência. Quando lhe perguntaram com que autoridade estava tomando essa decisão, ela disse que o estava fazendo com base nas leis de Deus. E a lei do país? A lei de Deus prevalece, ela disse.

Os casais entraram na Justiça contra ela. O processo correu rapidamente pelo juízo de primeiro grau, por um tribunal de recursos e pela Suprema Corte. Todos os tribunais decidiram que ela deveria emitir a licença, porque ela não tinha base jurídica para não fazê-lo. Mesmo assim, ela se recusou a emitir qualquer licença, enquanto fosse a responsável por essa tarefa.

Com o processo de volta ao primeiro grau, para obrigá-la a cumprir a lei, o juiz David Bunning fez uma audiência em que ela e outros cinco escrivães sob suas ordens compareceram. No tribunal, ela reafirmou que não emitiria a licença e proibia seus subordinados de fazê-lo. Interrogada, ela disse ao juiz que a definição de casamento de Deus é a “união entre um homem e uma mulher”.

Do lado de fora do tribunal, centenas de pessoas, com placas e gritos a apoiavam. E outras centenas defendiam a lei que favoreceu os casais gays, segundo diversos jornais e emissoras de televisão do país.

A conclusão da audiência foi a ordem de prisão por desrespeito à corte, decretada pelo juiz. A prisão é por tempo indeterminado — isto é, até que ela mude de ideia e resolva emitir as licenças. Porém, quatro dos cinco escrivães substitutos disseram ao juiz que não se opunham a emitir as licenças — apenas o escrivão substituto Nathan Davis, filho de Kim Davis, declarou que também não emitiria as licenças. Mas, afinal, elas serão emitidas a partir desta sexta-feira.

Não se sabe como ficará a situação da escrivã a partir daí. Um fato é que ela não pode ser demitida, porque foi eleita para o cargo. E ela já anunciou que não vai renunciar, porque, se o fizer, Deus vai perder uma voz no tribunal. Uma possível solução é abrir um processo de impeachment contra ela. Mas isso tem de ser feito pela Assembleia Legislativa do estado, de maioria conservadora. Os prognósticos não são favoráveis. E o impasse continua.

O professor de Direito Constitucional e Administrativo Jonathan Adler escreveu, no The Washington Post, que a escrivã tem o direito de aderir e observar suas convicções religiosas, mas não tem o direito de ocupar o cargo no tribunal. Nessa função, ela é obrigada a cumprir as leis federais e estaduais, bem como as decisões dos tribunais.

E, desde a decisão da Suprema Corte, a Constituição obriga os governos estaduais a reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Se suas convicções religiosas a impedem de cumprir a lei, ela deveria renunciar.

Na Suprema Corte, todos os nove ministros, incluindo os cinco ministros conservadores, votaram pela obrigatoriedade de a escrivã emitir as licenças, sob pena de ser punida com multa ou prisão. O juiz de primeiro grau decidiu que a aplicação de uma multa não iria resolver o problema. Por isso, decidiu pela prisão.

O professor Adler citou um artigo de 2002 do ministro Antonin Scalia, um dos mais conservadores da Suprema Corte, em que ele posicionou sobre esse conflito entre a consciência dos juízes e a lei. Nesse artigo, ele disse que se concluísse que a pena de morte é fundamentalmente imoral, ele renunciaria a seu cargo na Suprema Corte. Ele escreveu:

“Embora minha visão sobre a moralidade da pena de morte não tenha nada a ver com a minha forma de votar como juiz, ela tem tudo a ver com a minha decisão de ser ou não ser um juiz (...) Quando eu sento no plenário que examina e confirma condenações à pena de morte, sei que faço parte da ‘máquina da morte’, na definição do ex-ministro Harold Blackmun”.

“Meu voto, junto com os votos de pelo menos quatro outros ministros, é a última ação que permite que uma execução vá em frente. Eu não poderia fazer parte desse processo, se acreditasse que o que estava fazendo é imoral”.

“Em minha visão, a escolha de um juiz que acredita que a pena de morte é imoral é a renúncia, em vez de simplesmente ignorar leis constitucionais devidamente promulgadas e sabotar os casos de pena de morte”.

“Afinal, o juiz fez o juramento de aplicar as leis e lhe foi dado o poder de suplantá-las com suas próprias decisões. É claro que, se ele se ser forte o suficiente, ele pode ir além da mera renúncia. Pode liderar uma campanha política para abolir a pena de morte. E se isso falhar, pode liderar uma revolução. Mas reescrever as leis, ele não pode”.

Segundo o professor Adler, esse também é o caso de militares que se recusam a ir à guerra por convicções religiosas. “Qualquer pessoa tem o direito de ser contra a guerra”, ele diz. “Mas os ‘objetores de consciência’ (pessoas que seguem princípios religiosos, morais ou éticos incompatíveis com a guerra) não tem o direito de se alistar no serviço militar [que nos EUA não é obrigatório, salvo em exceções declaradas em tempo de guerra], receber salário e benefícios e, então, declarar problema de consciência na hora em que é convocado.





Lei da Dinamarca obriga Igreja a celebrar casamento gay

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Onde Deus estava quando houve o massacre nos EUA?

Deixe a sua opinião aí embaixo, no espaço de comentários.

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação

Pastor mirim canta que gay vai para o inferno; fiéis aplaudem

Garoto tem 4 anos Caiu na internet dos Estados Unidos um vídeo onde, durante um culto, um menino de quatro anos canta aos fiéis mais ou menos assim: “Eu sei bem a Bíblia,/Há algo de errado em alguém,/Nenhum gay vai para o céu”. Até mais surpreendente do que a pregação homofóbica do garotinho foi a reação dos fiéis, que aplaudiram de pé, em delírio. Em uma versão mais longa do vídeo, o pai, orgulhoso, disse algo como: “Esse é o meu garoto”. A igreja é a Apostólica do Tabernáculo, do pastor Jeff Sangl, de Greensburg, Indiana. Fanático religioso de amanhã Íntegra do vídeo. Com informação da CBS . Pais não deveriam impor uma religião aos filhos, afirma Dawkins. julho de 2009 Intolerância religiosa no Brasil

Cristãos xingam aluna que obteve decisão contra oração

Jessica sofre hostilidades desde meados de 2011 Uma jovem mandou pelo Twitter uma mensagem para Jessica Ahlquist (foto): “Qual é a sensação de ser a pessoa mais odiada do Estado? Você é uma desgraça para a raça humana.”  Outra pessoa escreveu: “Espero que haja muitos banners [de oração] no inferno quando você lá estiver apodrecendo, ateia filha da puta!” Jessica, 16, uma americana de Cranston, cidade de 80 mil habitantes de maioria católica do Estado de Rhode Island, tem recebido esse tipo de mensagem desde meados de 2011, quando recorreu à Justiça para que a escola pública onde estuda retirasse uma oração de um mural bem visível, por onde passam os alunos. Ela é uma ateia determinada e leva a sério a Constituição americana, que estabelece a separação entre o Estado e a religião. Os ataques e ameaças a Jessica aumentaram de tom quando um juiz lhe deu ganho de causa e determinou a retirada da oração. Nos momentos mais tensos, ela teve de ir à escola sob a proteção da

Anglicano apoia união gay e diz que Davi gostava de Jônatas

Dom Lima citou   trechos da Bíblia Dom Ricardo Loriete de Lima (foto), arcebispo da Igreja Anglicana do Brasil, disse que apoia a união entre casais do mesmo sexo e lembrou que textos bíblicos citam que o rei Davi dizia preferir o amor do filho do rei Saul ao amor das mulheres. A data de nascimento de Davi teria sido 1.040 a.C. Ele foi o escolhido por Deus para ser o segundo monarca de Israel, de acordo com os livros sagrados hebraicos. Apaixonado por Jônatas, ele é tido como o único personagem homossexual da Bíblia. Um dos trechos os quais dom Lima se referiu é I Samuel 18:1: “E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como a sua própria alma”. Outro trecho, em Samuel 20:41: “E, indo-se o moço, levantou-se Davi do lado do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram juntos, mas Davi chorou muito mais”. Em II Samuel 1:26, fica claro p

Adventista obtém direito de faltar às aulas na sexta e sábado

Quielze já estava faltando e poderia ser reprovada Quielze Apolinario Miranda (foto), 19, obteve do juiz Marcelo Zandavali, da 3ª Vara Federal de Bauru (SP), o direito de faltar às aulas às sextas-feiras à noite e aos sábados. Ela é fiel da Igreja Adventista do Sétimo Dia, religião que prega o recolhimento nesses períodos. A estudante faz o 1º ano do curso de relações internacionais da USC (Universidade Sagrado Coração), que é uma instituição fundada por freiras na década de 50. Quielze corria o risco de ser reprovada porque já não vinha comparecendo às aulas naqueles dias. Ela se prontificou com a direção da universidade em apresentar trabalhos escolares para compensar a sua ausência. A USC, contudo, não aceitou com a alegação de que não existe base legal para isso. Pela decisão do juiz, a base legal está expressa nos artigos 5º e 9º da Constituição Federal e na lei paulista nº 12.142/2005, que asseguram aos cidadãos a liberdade de religião. Zandavali determinou

Na última entrevista, Hitchens falou da relação Igreja-nazismo

Hitchens (direita) concedeu  a última entrevista de  sua vida a Dawkins da  New Statesman Em sua edição deste mês [dezembro de 2011], a revista britânica "New Statesman" traz a última entrevista do jornalista, escritor e crítico literário inglês Christopher Hitchens, morto no dia 15 [de dezembro de 2011] em decorrência de um câncer no esôfago.