Seguem o mesmo profeta, mas estão permanentemente em conflito |
por Pedro Mesquitela
para Sábado
O Islã é uma das religiões que mais crescem no mundo, estimando-se que existam mais de 1 bilhão de muçulmanos, principalmente no Oriente Médio, Norte e Sudeste da África e Sudeste da Ásia, sendo estimado que 83% sejam sunitas e 17% xiitas.
Como surgiram estes movimentos religiosos dentro do Islã?
OS SUNITAS
Com a morte de Muhammad ou Maomé em 632 DC, acreditava-se que o seu sucessor seria seu genro e primo Ali ibn-Abu Talib. No entanto, enquanto este organizava o funeral de Maomé, uma assembleia (Majlis AL-Shura) de Conselheiros ou Homens Sábios (sahaba) elegeram Abu Bakr, sogro de Maomé, pois era pai de sua segunda mulher, como o primeiro Califa, o que significa líder espiritual de todos os muçulmanos.
Ficou assim estabelecido o conceito de que os líderes devem ser eleitos entre os muçulmanos de grande religiosidade e mérito, excluindo-se a ideia de uma sucessão por laços de sangue com o Profeta na condução dos assuntos religiosos e políticos do Irão, e os seguidores desta linha são chamados "sunitas" que significa"ortodoxos".
Existem várias escolas filosóficas e de jurisprudência dentro do ramo Sunita, sendo as principais: Halafitas, Hanbalitas, Maliquitas e Chafitas.
Os sunitas acreditam que a redenção dos seres humanos depende da sua fé em Allah, seus profetas, e a aceitação de Maomé como Profeta final e na crença de boas ações como descrito no Alcorão.
OS XIITAS
Um pequeno grupo não aceitou a nomeação de Abu Bakr, pois defendia que a sucessão deveria ser por laços de sangue, e se reuniram à volta de Ali, primo e genro de Maomé (casado com Fátima, filha do Profeta).
Basicamente na península Arábica as tradições tribais consideraram que a nomeação de Abu Bakr seria uma negação de Ali ser o sucessor de Maomé como líder ou o Imame em assuntos religiosos e políticos. Este pequeno grupo passou a ser chamado desde logo de "xiita" ou "os excluídos".
O ramo predominante dos xiitas é conhecido pelo de"duodecimâmicos", com base no Irã, mas é também a forma mais difundida no Iraque, Líbano e Bahrein. Esta corrente mantém que Maomé foi sucedido por doze Imames ou líderes diretamente descendentes de Ali e de sua esposa Fátima. O décimo segundo Imame foi Muhammad al-Mahdi, que realmente desapareceu em 874 DC, pelo que é conhecido como o Imame Desaparecido, que só reaparecerá quando for a hora do Juízo Final.
Outra vertente dos xiitas não aceita nenhum Imame além dos 6 primeiros, sendo que o sexto era chamado Ismael, pelo que são conhecidos como Ismaelitas, sendo o seu representante atual o Aga Kahn.
Existe ainda uma outra corrente de xiitas, os Zaidistas, com base no quinto imã (Zayd), que acredita que os Imames têm inspiração divina, mas que não são infalíveis, e não aceitam a teoria dos 12 Imames nem a existência do Imame desaparecido, Ismael. Só aceitam os 4 primeiros Imames e depois deles Zayd e sua descendência.
Os xiitas acreditam que têm o Paraíso garantido se obedecerem e seguirem o exemplo de Maomé e dos Imames.
Estas diferentes concepções do papel e titularidade do Líder espiritual fazem com que existam duas formas principais de governos dos países muçulmanos, e cada uma destas comunidades apresenta-se como a única verdadeira, e os membros são educados dentro de estruturas políticas e sociais diferentes, e é curioso que, mesmo comunidades de mesma denominação, conservam uma verdadeira noção de lealdade nacionalista.
O ramo predominante dos xiitas é conhecido pelo de"duodecimâmicos", com base no Irã, mas é também a forma mais difundida no Iraque, Líbano e Bahrein. Esta corrente mantém que Maomé foi sucedido por doze Imames ou líderes diretamente descendentes de Ali e de sua esposa Fátima. O décimo segundo Imame foi Muhammad al-Mahdi, que realmente desapareceu em 874 DC, pelo que é conhecido como o Imame Desaparecido, que só reaparecerá quando for a hora do Juízo Final.
Outra vertente dos xiitas não aceita nenhum Imame além dos 6 primeiros, sendo que o sexto era chamado Ismael, pelo que são conhecidos como Ismaelitas, sendo o seu representante atual o Aga Kahn.
Existe ainda uma outra corrente de xiitas, os Zaidistas, com base no quinto imã (Zayd), que acredita que os Imames têm inspiração divina, mas que não são infalíveis, e não aceitam a teoria dos 12 Imames nem a existência do Imame desaparecido, Ismael. Só aceitam os 4 primeiros Imames e depois deles Zayd e sua descendência.
Os xiitas acreditam que têm o Paraíso garantido se obedecerem e seguirem o exemplo de Maomé e dos Imames.
Estas diferentes concepções do papel e titularidade do Líder espiritual fazem com que existam duas formas principais de governos dos países muçulmanos, e cada uma destas comunidades apresenta-se como a única verdadeira, e os membros são educados dentro de estruturas políticas e sociais diferentes, e é curioso que, mesmo comunidades de mesma denominação, conservam uma verdadeira noção de lealdade nacionalista.
O exemplo mais recente foi na guerra Iraque/Irã, em que mesmo sendo países de maioria xiita, os Iraquianos se mantiveram leis ao Iraque e constituíam a maior parte do exército deste país, apesar das exortações dos Imames Iranianos (1980).
Nos países de orientação xiita, os lideres religiosos são escolhidos pelos oficiais religiosos xiitas e não pelo Estado. O Líder religioso, ou Imame ou Imã, tem como funções principais governar a comunidade Islâmica, explicar as ciências religiosas e a Lei, e ser Líder espiritual. Assim não é eleito por Assembleia Pública, mas escolhido pelo Imame que o precede, mediante inspiração divina(o comando divino), e realmente detém todo o poder religioso e temporal. O Irã é um exemplo conhecido deste fenômeno, e Kohmeini foi o mais famoso Imame da história recente do Irão.
Nos países de orientação Sunita (ex: Arábia Saudita) é típico que os Governos exerçam controle sobre a nomeação dos lideres religiosos (são eleitos em Assembleias), e, mediante grandes contribuições a obras religiosas como a construção de mesquitas, mantêm enorme poder sobre os clérigos.
Semelhanças
Nos países de orientação xiita, os lideres religiosos são escolhidos pelos oficiais religiosos xiitas e não pelo Estado. O Líder religioso, ou Imame ou Imã, tem como funções principais governar a comunidade Islâmica, explicar as ciências religiosas e a Lei, e ser Líder espiritual. Assim não é eleito por Assembleia Pública, mas escolhido pelo Imame que o precede, mediante inspiração divina(o comando divino), e realmente detém todo o poder religioso e temporal. O Irã é um exemplo conhecido deste fenômeno, e Kohmeini foi o mais famoso Imame da história recente do Irão.
Nos países de orientação Sunita (ex: Arábia Saudita) é típico que os Governos exerçam controle sobre a nomeação dos lideres religiosos (são eleitos em Assembleias), e, mediante grandes contribuições a obras religiosas como a construção de mesquitas, mantêm enorme poder sobre os clérigos.
Semelhanças
Tanto os xiitas como os sunitas através de seus movimentos políticos e político-religiosos têm como objetivo final o estabelecimento da Lei Islâmica como base dos governos, usando para isso interpretações diversas do Alcorão (que ambos acreditam ser de inspiração Divina, ditado a Maomé) e da Hadith (tradição). A sua aplicação prática varia em grau e violência contra os não-muçulmanos e mesmo contra muçulmanos de denominações diferentes, dependendo da interpretação dos textos pelos religiosos.
Distribuição
Os sunitas são a maioria na Arábia Saudita, guardiã de Meca e da Fé, (85%), no Qatar (84%), na Síria (75%) e no Kuwait (69%).
Os xiitas são maioria no Irã (93%), no Azerbaijão (85%), no Iraque (67%), onde embora majoritários eram controlados pelos sunitas do partido Baath de Sadam Hussein, Iémen (45%), Líbano (44%) e Bahrein (70%). Existem ainda grupos xiitas importantes na Turquia (21%), no Paquistão(24%), no Afeganistão(20%), na Síria (13%), no Kuwait (31%), no Qatar (16%) e na própria Arábia Saudita (15%).
Talvez seja agora possível começar a entender os movimentos que se opõem na Síria e na Líbia. Sigamos a divisão religiosa e o desejo de algumas minorias em derrubar Governos de outras denominações, como na Síria por exemplo.
Neste palco de guerra, temos:
1 - O próprio Exército Sírio de Assad, que por razões geo-políticas tem o apoio dos russos, que aparentemente já teria tropas e aviação no local;
2 - As milícias populares pro-Assad, basicamente sunitas, apoiados indiretamente pela Arábia Saudita e Qatar;
3 - Os insurgentes contra Assad, armados e treinados pelos Americanos,que os denominam como "oposição moderada" basicamente mercenários e xiitas (minorias);
4 - O Daesh (EI), maioritariamente xiitas apoiados inicialmente pelo Irã, mas que parece quererem ser independentes agora;
5 - Pequenas unidades da Al-Qaeda que já estiveram aliadas ao EI mas que recentemente se separaram de novo.
Definitivamente os diferentes grupos não se entendem. Além da Síria e Líbia, sentimos esta impossibilidade na Palestina. O Herzbollah é sunita e o Hamas é xiita, o ramo mais fundamentalista do Islã. E envolvem ainda a Turquia, que também tem que lidar com a questão curda, que não é nem xiita nem sunita.
Talvez isto explique em parte porque não se consegue a paz, até porque, como sabemos, existem potências fora do mundo do Islã insuflando os ânimos entre xiitas e sunitas.
Veja os trechos do Alcorão que inspiram o terrorismo islâmico