Pular para o conteúdo principal

Imunidade tributária às igrejas nos torna dizimistas involuntários

'Por que um cidadão deve ser forçado a sustentar religiões com as quais não concorda ou mesmo setores da sua própria religião com os quais não tem simpatia?'


Daniel Sottomaior
presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos

jornal O Tempo

Poucas pessoas se dão conta, mas, no Brasil, o dízimo é obrigatório. A Constituição Federal estabelece que igrejas e templos de qualquer culto têm imunidade tributária — isto é, não pagam impostos. 

É como se o governo concedesse um subsídio às entidades religiosas no valor integral dos impostos que elas devem ao Fisco: quanto mais impostos a pagar, mais elas recebem. E esse dinheiro, é claro, sai do nosso bolso.

Assim, querendo ou não, é dinheiro do seu imposto, prezado contribuinte, que ajuda a bancar não apenas a Igreja Católica, mas todas as igrejas evangélicas do país, cada terreiro de umbanda e candomblé, cada centro espírita, cada grupo de santo Daime. É uma sangria de bilhões de reais todos os anos que deixam de ir para escolas, creches e hospitais.

Todo fiel tem o direito de financiar as instituições religiosas que bem entender, na medida de seu interesse. Mas, atualmente, ele não tem o direito de negar a contribuição porque, segunda a lei brasileira, todas as igrejas e todos os cultos — bons, maus ou péssimos — gozam de imunidade tributária.

Por que um cidadão deve ser forçado a sustentar religiões com as quais não concorda ou mesmo setores da sua própria religião com os quais não tem simpatia?

A injustiça só é pior com relação às pessoas em religião (8% do país) ou mesmo com os religiosos não praticantes (cerca de 40% só entre os católicos) e todos os que preferem não contribuir financeiramente para uma igreja. A Constituição nos faz dizimistas fiéis de todas as religiões.

Essa dinheirama corre sem controle algum, favorecendo a lavagem de dinheiro e o uso desses recursos para enriquecimento pessoal. Isso precisa mudar.

A imunidade tributária das igrejas financia a bancada religiosa, que se elege, em grande parte, à custa dela e está mais interessada em se perpetuar no poder, político e econômico, que em favorecer o conjunto da sociedade.

O que está em jogo é um princípio fundamental de toda democracia, que é a laicidade do Estado e significa exatamente o oposto do que vemos hoje. Estado laico é o que se abstém da religião, não aquele que a financia.

O artigo 19 da Constituição proíbe as três esferas de governo de subvencionar qualquer culto ou religião, mas os interessados em manter essa teta jorrando, abundantemente, nos Três Poderes, preferem olhar para o outro lado.

Desde sua fundação, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) vem lutando pela verdadeira laicidade do Estado brasileiro.

Fizemos nossa parte ajudando a reunir 20 mil assinaturas para levar a discussão ao Senado.

Cabe agora aos eleitores cobrar dos parlamentares a decisão correta, perguntando o que preferimos: mais dinheiro para as igrejas, ou mais dinheiro para saúde, segurança e educação?

dinheirama corre
sem controle algum

Esse artigo foi publicado originamente em 9 de novembro de 2015.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê