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Onde foram parar o dinheiro e doações à madre Teresa?

Religiosa tinha amor pela
pobreza, não pelos pobres 

O ano de 2016 marcará para os católicos de todo o mundo o ano da canonização de um dos maiores ícones da Igreja Católica no século 20 – a madre Teresa de Calcutá. Sua canonização, no entanto, não é unanimidade. Ainda na década de 1980, a religiosa foi acusada, pela primeira vez, de má utilização de doações e fundamentalismo religioso.

Os ataques à madre Teresa começaram na década de 1980, logo após a religiosa ter sido agraciada com o Prêmio Nobel da Paz de 1979. Na cerimônia de entrega do prêmio, em Oslo, a madre Teresa condenou o aborto: “o maior destruidor da paz, hoje, é o choro da criança inocente, não nascida”, discursou. “Se uma mãe pode assassinar o seu próprio filho, no seu próprio útero, o que sobrou para você e para mim? Nos matarmos uns aos outros”.

O primeiro ataque surgiu na Grã-Bretanha, num artigo da jornalista Barbara Smoker, intitulado “Madre Teresa: a vaca sagrada?”, questionando a atitude da mídia ocidental, que parecia considerar a religiosa imune a qualquer espécie de crítica. Smoker, num texto marcadamente liberal e feminista, alega a falta de visão da madre Teresa, quando a população de miseráveis na Índia aumentara em mais de cem milhões em apenas uma década.

“Morando em Calcutá”, escreveu Smoker, “a madre Teresa vê diariamente o sofrimento causado pela superpopulação. Mesmo assim, recusa-se a aceitar qualquer tipo de planejamento familiar, como o controle de natalidade, ao invés do controle da mortalidade”.

Smoker, porém, soube ver alguns aspectos positivos no trabalho da religiosa: “Ela é, certamente, uma mulher impressionante, um caloroso ser humano, transbordando de sentimentos maternais”. Tarde demais. O seu artigo abrira a porteira para que outros jornalistas, mais ou menos céticos, também atirassem a sua pedra. O mais proeminente de todos eles, que deu início a uma verdadeira cruzada anti-Madre Teresa, foi o anglo-americano Christopher Hitchens.

Em 1995, Hitchens lançou o livro “A Posição do Missionário: Madre Teresa em teoria e prática”, até hoje o mais virulento e bem documentado ataque contra a religiosa e sua obra. Nele, o autor a retrata como “uma figura consistentemente reacionária”, por suas boas relações com Margareth Thatcher e Ronald Reagan, além de ter visitado a Nicarágua, dando apoio aos "contras" na guerra civil contra os sandinistas.

Pior, Hitchens revela as doações aceitas pela Madre Teresa de Calcutá de regimes ditatoriais, como o de Baby Doc, no Haiti, e do milionário norte-americano Charles Keating, condenado por estelionato.

O livro de Hitchens questiona ainda ação do Lar dos Moribundos, onde a Madre Teresa começou a sua missão, e das Missionárias da Caridade, a organização fundada pela religiosa na década de 1960. 

“(...) Onde foi parar o dinheiro, e todas as outras doações? Seu precário hospital em Calcutá estava tão decadente, quando ela morreu, quanto havia sempre sido – ela mesma, quando ficava doente, preferia as clínicas da Califórnia –, e a sua instituição de caridade sempre se recusou a publicar qualquer auditoria. Enquanto isso, ela mesma dizia ter fundado mais de 500 conventos em mais de cem países, todos sob o nome da sua própria instituição. Perdoe-me, mas se pode chamar isso de modéstia e humildade?”, questiona o jornalista.

“Madre Teresa não era amiga dos pobres”, conclui Hitchens. “Era amiga da pobreza. Ela defendia que o sofrimento é uma dádiva de Deus. Ela opôs-se, durante toda a sua vida, à única cura conhecida para a pobreza: o fortalecimento da mulher e a sua emancipação do seu papel, como no gado, de reprodução compulsória”.

A madre Teresa deverá ser canonizada pelo Papa Francisco no dia 4 de setembro de 2016. O papa, que a conheceu durante um sínodo em Roma, em 1994, disse ter ficado impressionado com a religiosa e, de bom humor, confessou: “Eu teria medo que ela fosse a minha madre superiora”.

O título do texto é de autoria deste site.





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