Christopher Hitchens (1949-2011), em seu livro “Deus não é Grande – como a religião envenena tudo”, lançado no Brasil em 2007, conta como a ordem da Madre Teresa (1910-1997) forçou a barra para que a cura de um tumor da indiana Monica Besra fosse tida como milagre da beata, mesmo havendo testemunhos de médicos de que a mulher tinha sido submetida a um longo tratamento. Mesmo assim, já previa o escritor, a Igreja Católica acabaria conferindo à Teresa o status de santa, como agora está prestes a ocorrer.
Hitchens escreveu como foi o embuste:
“[...] Madre Teresa morreu em 1997.
No primeiro aniversário de sua morte, duas freiras da aldeia bengalesa de Raigunj alegaram ter prendido uma medalha de alumínio da falecida (medalha que supostamente teria estado em contato com seu corpo morto) no abdômen de uma mulher chamada Monica Besra. Essa mulher, que teria um grande tumor dele, ficou curada dele.
Deve-se notar que Monica é um nome católico não muito comum em Bengala, portanto provavelmente a paciente e certamente as duas freiras já eram fãs de Madre Teresa.
Essa definição não abrangia o dr. Manju Murshed, superintendente do hospital local, nem o dr. T.K. Biswas e seu colega ginecologista dr. Ranjan Mustafi.
Os três se apresentaram e disseram que a sra. Besra sofria de tuberculose e de tumor no ovário e tinha sido tratada com sucesso dos dois males.
O dr. Murshed ficou particularmente incomodado com os muitos telefonemas que recebeu da ordem de Madre Teresa, as “Missionárias da Caridade”, pressionando-o a dizer que a cura tinha sido milagrosa.
A própria paciente não era uma entrevistada muito impressionante, falando rapidamente porque, como disse, “do contrário poderia esquecer” e pedindo para ser poupada de perguntas porque seria obrigada a “recordar”.
Seu próprio marido, Selku Murmu, rompeu o silêncio depois de algum tempo para dizer que sua mulher tinha sido curada por tratamento médico comum e contínuo.
Qualquer supervisor de hospital em qualquer país dirá que algumas vezes os pacientes apresentam recuperações impressionantes (assim como pessoas aparentemente saudáveis ficam inexplicável e gravemente doentes).
Aqueles que desejam confirmar milagres talvez gostassem de dizer que tais recuperações não têm explicação “natural”. Mas isso de modo algum significa que, portanto, elas tenham uma explicação “sobrenatural”.
Naquele caso, porém, não havia nada nem de longe surpreendente em a sra. Besra recuperar a saúde. Alguns distúrbios conhecidos foram tratados com métodos bem conhecidos. Alegações extraordinárias estavam sendo feitas mesmo sem indícios extraordinários.
Ainda assim, chegará um dia em Roma em que uma enorme e solene cerimônia irá proclamar a santidade de Madre Teresa como alguém cuja intercessão pode ser mais forte que a medicina, para todo o mundo.
Não apenas isso é um escândalo em si, mas também ira postergar o dia em que os aldeões indianos deixarão de confiar em curandeiros e faquires. Em outras palavras, muitas pessoas irão morrer desnecessariamente como resultado desse “milagre” falsificado e desprezível.
É o melhor que a Igreja pode fazer em uma época em que suas alegações podem ser conferidas por médicos e repórteres, e não é difícil imaginar o que era fraudado em épocas passadas de ignorâncias e medo, quando os padres se deparavam com menos dúvidas e oposição.
Mais uma vez, a navalha de Ockham é limpa e decisiva. Quando são oferecidas duas explicações, é preciso descartar aquela que explica menos, explica nada ou que produz mais perguntas que respostas.”
O milagre da cura da sra. Besra foi desmascarado antes que ser proclamado oficialmente como tal. As “Missionárias da Caridade” foram pegas em “flagrante delito”, como se diz em linguagem policial, mas isso não teve a mínima importância para a Igreja Católica.
Para ser declarada santa, é preciso pelo menos dois milagres atribuídos à Madre Teresa, e o segundo foi a suposta cura do brasileiro Marcilio Haddad Adriano, atualmente com 42 anos.
Uma medalhinha com a estampa da madre teria curado Adrino de oito abscessos cerebrais.
Até agora, nenhum jornal, ninguém, resolveu investigar para contar o que de verdade aconteceu com o brasileiro. Assim, para todos os efeitos, fica valendo a versão oficial de que houve milagre. Isso já era de se esperar por parte de uma imprensa que, por omissão, sempre foi confessional.
Com foto de divulgação.
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Madre Teresa vai virar santa, mas foi um monstro moral
Madre 'curou' mulher tratada por médicos |
“[...] Madre Teresa morreu em 1997.
No primeiro aniversário de sua morte, duas freiras da aldeia bengalesa de Raigunj alegaram ter prendido uma medalha de alumínio da falecida (medalha que supostamente teria estado em contato com seu corpo morto) no abdômen de uma mulher chamada Monica Besra. Essa mulher, que teria um grande tumor dele, ficou curada dele.
Deve-se notar que Monica é um nome católico não muito comum em Bengala, portanto provavelmente a paciente e certamente as duas freiras já eram fãs de Madre Teresa.
Essa definição não abrangia o dr. Manju Murshed, superintendente do hospital local, nem o dr. T.K. Biswas e seu colega ginecologista dr. Ranjan Mustafi.
Os três se apresentaram e disseram que a sra. Besra sofria de tuberculose e de tumor no ovário e tinha sido tratada com sucesso dos dois males.
O dr. Murshed ficou particularmente incomodado com os muitos telefonemas que recebeu da ordem de Madre Teresa, as “Missionárias da Caridade”, pressionando-o a dizer que a cura tinha sido milagrosa.
A própria paciente não era uma entrevistada muito impressionante, falando rapidamente porque, como disse, “do contrário poderia esquecer” e pedindo para ser poupada de perguntas porque seria obrigada a “recordar”.
Seu próprio marido, Selku Murmu, rompeu o silêncio depois de algum tempo para dizer que sua mulher tinha sido curada por tratamento médico comum e contínuo.
Qualquer supervisor de hospital em qualquer país dirá que algumas vezes os pacientes apresentam recuperações impressionantes (assim como pessoas aparentemente saudáveis ficam inexplicável e gravemente doentes).
Aqueles que desejam confirmar milagres talvez gostassem de dizer que tais recuperações não têm explicação “natural”. Mas isso de modo algum significa que, portanto, elas tenham uma explicação “sobrenatural”.
Naquele caso, porém, não havia nada nem de longe surpreendente em a sra. Besra recuperar a saúde. Alguns distúrbios conhecidos foram tratados com métodos bem conhecidos. Alegações extraordinárias estavam sendo feitas mesmo sem indícios extraordinários.
Ainda assim, chegará um dia em Roma em que uma enorme e solene cerimônia irá proclamar a santidade de Madre Teresa como alguém cuja intercessão pode ser mais forte que a medicina, para todo o mundo.
Não apenas isso é um escândalo em si, mas também ira postergar o dia em que os aldeões indianos deixarão de confiar em curandeiros e faquires. Em outras palavras, muitas pessoas irão morrer desnecessariamente como resultado desse “milagre” falsificado e desprezível.
É o melhor que a Igreja pode fazer em uma época em que suas alegações podem ser conferidas por médicos e repórteres, e não é difícil imaginar o que era fraudado em épocas passadas de ignorâncias e medo, quando os padres se deparavam com menos dúvidas e oposição.
Mais uma vez, a navalha de Ockham é limpa e decisiva. Quando são oferecidas duas explicações, é preciso descartar aquela que explica menos, explica nada ou que produz mais perguntas que respostas.”
O milagre da cura da sra. Besra foi desmascarado antes que ser proclamado oficialmente como tal. As “Missionárias da Caridade” foram pegas em “flagrante delito”, como se diz em linguagem policial, mas isso não teve a mínima importância para a Igreja Católica.
Para ser declarada santa, é preciso pelo menos dois milagres atribuídos à Madre Teresa, e o segundo foi a suposta cura do brasileiro Marcilio Haddad Adriano, atualmente com 42 anos.
Uma medalhinha com a estampa da madre teria curado Adrino de oito abscessos cerebrais.
Até agora, nenhum jornal, ninguém, resolveu investigar para contar o que de verdade aconteceu com o brasileiro. Assim, para todos os efeitos, fica valendo a versão oficial de que houve milagre. Isso já era de se esperar por parte de uma imprensa que, por omissão, sempre foi confessional.
Com foto de divulgação.
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Madre Teresa vai virar santa, mas foi um monstro moral
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