Pular para o conteúdo principal

Autor defende expulsão de Deus da sociedade para frear o Islã



por Stefano Feltri
para Il Fatto Quotidiano

Ninguém leva a religião mais a sério do que um ateu militante. E o novo livro de Paolo Flores d'Arcais, filósofo, diretor da revista MicroMega, tenta suscitar qualquer reação, exceto a indiferença: La guerra del sacro ["A guerra do sagrado" (Ed. Raffaele Cortina) é uma resposta intelectual ao massacre do Charlie Hebdo, há um ano, e uma arma a ser empunhada no debate que se seguiu ao massacre de novembro, também em Paris.

Ocidente tem de se
 defender da revanche
 do sagrado, diz Flores
Enquanto os intelectuais franceses, de Eric Zemmour a Alain Finkielkraut, se limitam a fornecer uma aparência de legitimidade aos medos e ao racismo que impulsiona o Front National, Flores quer oferecer uma resposta drástica aos desafios postos pelo jihadismo dos massacres: a quem mata em nome de Deus, responde-se "ostracizando Deus da esfera pública".

Com uma laicidade radical que não tolera símbolos religiosos expostos, escolas confessionais, objecções de consciência ao aborto.

Nenhuma sensibilidade individual pode limitar a laicidade radical: só quando se chegar a "banalizar a blasfêmia" é que poderemos dizer que a liberdade de expressão está a salvo (para além das vidas daqueles que a praticam).

Flores propõe até controles ginecológicos nas meninas que partem e retornam da África, além de monitoramentos nas escolas, para evitar as mutilações rituais.

Na batalha nunca vencida por completo dos seres humanos de decidirem por si sós o seu próprio destino, todo chamado a qualquer forma de autoridade externa é uma intolerável renúncia à liberdade, significa ceder espaço para a "revanche do sagrado" que ameaça o Ocidente confuso, piegas nas convicções e pávido na sua tradução concreta: "Se Deus é superior à soberania do desencanto, tudo é permitido em nome de Deus".

Contestar o recurso à religião como fonte de legitimidade, porém, tende a desligar para a negação de toda legitimidade à religião. Flores defende que o que importa é a separação entre Deus e espaço público, "como necessária aniquilação preventiva da possibilidade de que a religião se torne identidade política".

No entanto, ele se lança com força análoga contra o véu (manifestação exterior de uma identidade religiosa também, bastante compatível com um Estado laico), assim contra a burca (é difícil negar que ela indica uma submissão das mulheres em conflito com os direitos constitucionais).

O diretor da MicroMega parece se mover a partir do pressuposto de que só para os muçulmanos é impossível conter a religião no "foro interno": embora possa haver católicos "adultos", na acepção dada por Romano Prodi, os fiéis do Islã são apresentados como baluartes da teocracia, todos.

Vale a pena lembrar, porém, que, no romance de Michel Houellebecq Submissão, a ascensão do partido islâmico que chega a conquistar o Eliseu começa com a incapacidade dos socialistas e dos conservadores de inserir os franceses muçulmanos na dinâmica normal.

A guerra de civilização existe, diz Flores, mas não entre Ocidente e Islã, mas entre sagrado e desencanto, autonomia e heteronomia. Uma pesquisa do instituto norte-americano Gallup em 130 países (citado por Manlio Graziano no livro Guerra santa e santa alleanza, Ed. Il Mulino) descobriu que quanto menos os muçulmanos e os ocidentais se conhecem, mais estão convencidos de que, entre eles, há uma hostilidade irremediável.

Por isso, os autores do estudo falam "mais de um choque de ignorâncias do que de civilização". Flores certamente não é ignorante, mas escolhe do Islã uma representação seletiva, a mais congênita para demonstrar a sua tese de um avanço do sagrado que ameaça o Ocidente.

Os dois únicos autores árabes que ele cita são Sayyid Qutb, ideólogo da Irmandade Muçulmana, e Tariq Ramadan, filósofo contestado, neto do fundador da Irmandade Muçulmana.

Não há espaço para uma análise do equilíbrio entre religião e Estado nos países muçulmanos mais democráticos e menos dogmáticos (a Tunísia é um caso interessante, mas a Turquia também demonstrou e demonstra ainda uma notável separação entre Islã privado e laicidade oficial).

Durante grande parte do livro, Flores mantém o registro da batalha das ideias que precede e produz a violência terrorista, exceto, depois, quando se apoia em anedotas (a crônica as oferece, indubitavelmente) para justificar a impossível convivência entre Islã e democracia liberal.

Tendo a laicidade como objetivo e critério de juízo único, Flores evita toda explicação sociológica e geopolítica da violência: o problema é a religião, não o petróleo, a gestão da crise síria, a bomba atômica do Irã etc. Toda tentativa de compreender as motivações do terrorista se tornaria justificação.

Sem laicidade pública, é a resposta de Flores, todo o resto pouco importa, porque toda concessão ao sagrado é o início da derrota do Ocidente. Pode-se contestar tanta clareza, mas, ao menos, é uma tese que se pode discutir e também refutar, ao contrário das periclitantes jaculatórias de Oriana Fallaci e dos seus discípulos que intoxicaram o debate nesses anos.

Com tradução de Moisés Sbardelotto para IHU Online. O título do texto é de autoria deste site.



Fim do Estado Islâmico não será o fim do extremismo, diz Ayann

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Onde Deus estava quando houve o massacre nos EUA?

Deixe a sua opinião aí embaixo, no espaço de comentários.

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação

Pastor mirim canta que gay vai para o inferno; fiéis aplaudem

Garoto tem 4 anos Caiu na internet dos Estados Unidos um vídeo onde, durante um culto, um menino de quatro anos canta aos fiéis mais ou menos assim: “Eu sei bem a Bíblia,/Há algo de errado em alguém,/Nenhum gay vai para o céu”. Até mais surpreendente do que a pregação homofóbica do garotinho foi a reação dos fiéis, que aplaudiram de pé, em delírio. Em uma versão mais longa do vídeo, o pai, orgulhoso, disse algo como: “Esse é o meu garoto”. A igreja é a Apostólica do Tabernáculo, do pastor Jeff Sangl, de Greensburg, Indiana. Fanático religioso de amanhã Íntegra do vídeo. Com informação da CBS . Pais não deveriam impor uma religião aos filhos, afirma Dawkins. julho de 2009 Intolerância religiosa no Brasil

Cristãos xingam aluna que obteve decisão contra oração

Jessica sofre hostilidades desde meados de 2011 Uma jovem mandou pelo Twitter uma mensagem para Jessica Ahlquist (foto): “Qual é a sensação de ser a pessoa mais odiada do Estado? Você é uma desgraça para a raça humana.”  Outra pessoa escreveu: “Espero que haja muitos banners [de oração] no inferno quando você lá estiver apodrecendo, ateia filha da puta!” Jessica, 16, uma americana de Cranston, cidade de 80 mil habitantes de maioria católica do Estado de Rhode Island, tem recebido esse tipo de mensagem desde meados de 2011, quando recorreu à Justiça para que a escola pública onde estuda retirasse uma oração de um mural bem visível, por onde passam os alunos. Ela é uma ateia determinada e leva a sério a Constituição americana, que estabelece a separação entre o Estado e a religião. Os ataques e ameaças a Jessica aumentaram de tom quando um juiz lhe deu ganho de causa e determinou a retirada da oração. Nos momentos mais tensos, ela teve de ir à escola sob a proteção da

Anglicano apoia união gay e diz que Davi gostava de Jônatas

Dom Lima citou   trechos da Bíblia Dom Ricardo Loriete de Lima (foto), arcebispo da Igreja Anglicana do Brasil, disse que apoia a união entre casais do mesmo sexo e lembrou que textos bíblicos citam que o rei Davi dizia preferir o amor do filho do rei Saul ao amor das mulheres. A data de nascimento de Davi teria sido 1.040 a.C. Ele foi o escolhido por Deus para ser o segundo monarca de Israel, de acordo com os livros sagrados hebraicos. Apaixonado por Jônatas, ele é tido como o único personagem homossexual da Bíblia. Um dos trechos os quais dom Lima se referiu é I Samuel 18:1: “E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como a sua própria alma”. Outro trecho, em Samuel 20:41: “E, indo-se o moço, levantou-se Davi do lado do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram juntos, mas Davi chorou muito mais”. Em II Samuel 1:26, fica claro p

Adventista obtém direito de faltar às aulas na sexta e sábado

Quielze já estava faltando e poderia ser reprovada Quielze Apolinario Miranda (foto), 19, obteve do juiz Marcelo Zandavali, da 3ª Vara Federal de Bauru (SP), o direito de faltar às aulas às sextas-feiras à noite e aos sábados. Ela é fiel da Igreja Adventista do Sétimo Dia, religião que prega o recolhimento nesses períodos. A estudante faz o 1º ano do curso de relações internacionais da USC (Universidade Sagrado Coração), que é uma instituição fundada por freiras na década de 50. Quielze corria o risco de ser reprovada porque já não vinha comparecendo às aulas naqueles dias. Ela se prontificou com a direção da universidade em apresentar trabalhos escolares para compensar a sua ausência. A USC, contudo, não aceitou com a alegação de que não existe base legal para isso. Pela decisão do juiz, a base legal está expressa nos artigos 5º e 9º da Constituição Federal e na lei paulista nº 12.142/2005, que asseguram aos cidadãos a liberdade de religião. Zandavali determinou

Na última entrevista, Hitchens falou da relação Igreja-nazismo

Hitchens (direita) concedeu  a última entrevista de  sua vida a Dawkins da  New Statesman Em sua edição deste mês [dezembro de 2011], a revista britânica "New Statesman" traz a última entrevista do jornalista, escritor e crítico literário inglês Christopher Hitchens, morto no dia 15 [de dezembro de 2011] em decorrência de um câncer no esôfago.