por Hélio Schwartsman
para Folha
A religião vai acabar? A resposta é "provavelmente não". Embora Deus esteja no fundo do poço na Europa, particularmente nos países do norte, onde a frequência a igrejas e a crença em entidades sobrenaturais só despencam, o ser humano vem de fábrica com uma série de vieses cognitivos que praticamente imploram para que sejamos religiosos. Essa é a tese do biólogo evolucionista e cientista político Dominic Johnson, de Oxford.
Em seu God Is Watching You: How the Fear of God Makes Us Human ("Deus está de olho em você: como o medo de Deus nos faz humanos"), Johnson busca mostrar que religiões, em especial as que postulam a existência de seres mágicos que tudo veem e punem severamente nossos desvios, são uma adaptação biológica. Aqui, o autor se opõe a ateus mais militantes, como Richard Dawkins, para quem a religião é só um efeito adverso de módulos mentais que evoluíram para outras finalidades.
O ponto central de Johnson é que o egoísmo calculado, isto é, a estratégia de sempre tentar tirar vantagem do grupo quando ninguém está olhando, funciona muito bem para mamíferos sociais. Nós nos valemos bastante dela até que desenvolvemos a linguagem articulada, criando assim a fofoca e ampliando a possibilidade de fazer alianças políticas. Aí praticamente todos no grupo ficavam a par de tudo o que fazíamos. O egoísmo tornava-se perigoso.
A solução da evolução foi intensificar vieses que já estavam em nós, como a tendência a ver seres animados em tudo e a crença num mundo justo, que acabaram resultando em religiões povoadas por deuses e espíritos punitivos. O sujeito que se acreditava vigiado o tempo todo se comportava de forma mais cooperativa, evitando punições pelo grupo.
O livro é muito interessante e persuasivo. A parte que não me convenceu tanto é aquela em que o autor sugere que a religião continua hoje tão necessária quanto no Pleistoceno.
Este texto foi publicado originalmente com o título "De olho em você".
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Crente só é solidário com pessoa da mesma fé, sugere estudo
para Folha
A religião vai acabar? A resposta é "provavelmente não". Embora Deus esteja no fundo do poço na Europa, particularmente nos países do norte, onde a frequência a igrejas e a crença em entidades sobrenaturais só despencam, o ser humano vem de fábrica com uma série de vieses cognitivos que praticamente imploram para que sejamos religiosos. Essa é a tese do biólogo evolucionista e cientista político Dominic Johnson, de Oxford.
Biólogo defende a tese de que o medo de Deus nos faz humano |
O ponto central de Johnson é que o egoísmo calculado, isto é, a estratégia de sempre tentar tirar vantagem do grupo quando ninguém está olhando, funciona muito bem para mamíferos sociais. Nós nos valemos bastante dela até que desenvolvemos a linguagem articulada, criando assim a fofoca e ampliando a possibilidade de fazer alianças políticas. Aí praticamente todos no grupo ficavam a par de tudo o que fazíamos. O egoísmo tornava-se perigoso.
A solução da evolução foi intensificar vieses que já estavam em nós, como a tendência a ver seres animados em tudo e a crença num mundo justo, que acabaram resultando em religiões povoadas por deuses e espíritos punitivos. O sujeito que se acreditava vigiado o tempo todo se comportava de forma mais cooperativa, evitando punições pelo grupo.
O livro é muito interessante e persuasivo. A parte que não me convenceu tanto é aquela em que o autor sugere que a religião continua hoje tão necessária quanto no Pleistoceno.
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