Jornalista ateu dizia que o Natal era sentimentalismo opressivo |
para Folha de S. Paulo
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Sim, admito: já tinha saudades de Christopher Hitchens [foto]. Entre os public intellectuals dos últimos anos, só ele era capaz de combinar, nas doses certas, erudição, estilo e humor. Não interessa muito se concordamos ou discordamos dele. Antes disso, há uma mente brilhante que deslumbra e surpreende a cada página.
No livro [And Yet...: Essays], surgem-nos textos diversos escritos para a "Vanity Fair", a "Atlantic" ou a virtual "Slate". Podem ser textos pessoais (e hilariantes) sobre as tentativas de Hitchens para "viver uma vida saudável", ou seja, sem fumo, álcool ou sedentarismo.
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Sim, admito: já tinha saudades de Christopher Hitchens [foto]. Entre os public intellectuals dos últimos anos, só ele era capaz de combinar, nas doses certas, erudição, estilo e humor. Não interessa muito se concordamos ou discordamos dele. Antes disso, há uma mente brilhante que deslumbra e surpreende a cada página.
No livro [And Yet...: Essays], surgem-nos textos diversos escritos para a "Vanity Fair", a "Atlantic" ou a virtual "Slate". Podem ser textos pessoais (e hilariantes) sobre as tentativas de Hitchens para "viver uma vida saudável", ou seja, sem fumo, álcool ou sedentarismo.
Mas podem ser textos políticos com ressonância sempre atual. Exemplo: será que apoiar George W. Bush contra Saddam Hussein transformou o esquerdista Hitchens em republicano?
A pergunta não faz sentido, avisa o próprio: ele sempre foi um "republicano" no sentido rigoroso da palavra — um feroz opositor da monarquia e do absolutismo.
O ódio a Saddam Hussein era anterior, e superior, a qualquer maniqueísmo partidário. Tal como o seu herói George Orwell — que tem direito a destaque no livro — existe em Hitchens uma resistência instintiva a qualquer forma de opressão política.
Por último, só Christopher Hitchens seria capaz de escrever um texto com o qual concordo e discordo ao mesmo tempo. Sobre o Natal, esse período que dura mais do que um mês e no qual existe uma espécie de imposição totalitária da alegria. Como se a humanidade inteira tivesse que viver num Estado de partido único, onde o amor e a benevolência são rigorosamente obrigatórios.
Assino por baixo. Mas creio que Hitchens erra ao identificar o "sentimentalismo opressivo" do Natal contemporâneo com uma particular denominação religiosa.
No Ocidente multiculturalista, há muito que o Natal deixou de ser o Natal "cristão". É um período de "férias" (ou de "festas", como se lê nos cartões) em que a dimensão cristã foi abolida para não ofender ninguém.
Na sua cruzada ateísta contra o elemento religioso do Natal, um homem inteligente como Hitchens não estará, no fundo, fazendo um favor aos seus inimigos — a intolerância, o obscurantismo e a covardia moral?
Que pena uma questão como essa ficar eternamente sem resposta.
O artigo de Coutinho foi publicado originalmente com o título de "A ressurreição de Christopher Hitchens" a propósito do livro de "And Yet...: Essays", livro póstumo de Hitc.
Íntegra do texto.
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