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Notas de um ateu: bicho no céu é mentira de papa marqueteiro



Sou um ateu que às vezes vai à missa, como acompanhante de minha mulher e respeitoso observador.

Na mais recente missa em que fui, em uma igreja do meu bairro, o padre teve um chilique.

Pelo dogma cristão, cão
 não vai para o paraíso
porque não tem alma
Ele interrompeu a celebração para dizer que já tinha advertido determinado fiel duas vezes para que não comparecesse ali acompanhado de um cachorro. Acrescentou que, a partir daquele momento, em caso de insistência, só lhe restava procurar as autoridades — terrenas, supus.

Aquele chilique me fez lembrar do caso publicado neste site do padre australiano que foi excomungado por ter dado uma hóstia consagrada a um cachorro. Se o padre tivesse violentado algumas crianças, não sofreria pena tão grave.

Mais recentemente, o próprio papa Francisco, para consolar um garotinho triste com a morte de seu cachorro, disse que todas as criaturas do Senhor vão para o paraíso.

Francisco estaria virando budista? Não, que se saiba. Naquela ocasião, ele apenas cometeu uma mentirinha do papa marqueteiro, porque, pela teologia cristã, bicho não pode ir para céu por um motivo simples: não tem alma.

Na Igreja Católica, tem São Francisco de Assis, que tinha grande apego pelos animais e natureza, mas, se não estou enganado, foi só ele.

Eis a verdade, como diria Jesus: na Bíblia há matança de animais, em sacrifício, na maioria dos casos, para que Deus pudesse perdoar os pecados da humanidade.

O próprio Deus matou animais para vestir Adão e Eva quando se tornaram pecadores.

Os deuses, e Jeová não é exceção, gostam de sangue. E, no entanto, não entendo, a maioria de vegetarianos e veganos é crente.

O mais conhecido sacrifício bíblico é o do cordeiro que morreu no lugar de Isaque. Se Deus não mudasse de ideia no último minuto, Abraão teria matado seu filho, e provavelmente por um bom tempo haveria no cristianismo sacrifício humano.

Os cristãos tinham preferência pelo sacrifício do cordeiro porque o pacífico animal simboliza a pureza e a inocência por ser branquinho. Azar do cordeiro.

Aqui do meu lado está Zói, a gata preta de minha filha Bia. A gata faz me lembrar de que seus antepassados foram caçados e abatidos por cristãos na Idade Média.

Na bula “Vox in Roma”, o papa Gregório IX (1144-1241) determinou a matança de gatos pretos por se tratar, segundo ele, de uma encarnação do diabo, que tinha “caído das nuvens para a infelicidade dos homens”.

Me pergunto: se aquele menino desconsolado tivesse perdido um gato, em de vez de um cachorro, o papa Francisco diria que no céu há lugar também para bichanos? Tenho dúvidas.

A Zói é a prova de que os gatos pretos sobreviveram à superstição religiosa, embora continuem caçados por seguidores de crenças de matriz africana para serem sacrificados em “despachos” de Sexta-Feira 13.

Eu não tenho dúvida: a crueldade e o egoísmo, que leva o homem a explorar o homem e a natureza, faz parte da condição humana.

Mas, mesmo assim, se o deus judaico-cristão tivesse colocado homens e bichos no mesmo patamar de importância, não pondo estes para o desfrute daqueles, se da Bíblia não corresse sangue de animais, Ocidente com certeza seria menos cruel com os bichos.

Notas de um cético.



Quem Deus criou primeiro, o homem ou os animais?

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