por Hélio Schwartsman
para Folha de S.Paulo
A ciência está longe de ser perfeita e não é tão racional quanto gostaríamos de crer. Ainda assim, é o mais racional dos métodos que desenvolvemos para descobrir coisas (hesito em escrever "verdades") sobre o mundo e não é exagero afirmar que a ela devemos boa parte da bonança material de que a humanidade hoje se beneficia.
É chocante, assim, constatar quão longe a política (que deveria ser outra atividade pautada pela razão) está do método científico. Faço essas observações a propósito do projeto de lei que libera o uso da "pílula do câncer" (fosfoetanolamina) que avança no Congresso mesmo antes de haver evidências medianamente robustas de que ela funciona.
Sou ferrenho defensor da autonomia individual. Se um maior de idade quiser tratar seu câncer com a ingestão diária de dez litros de ácido sulfúrico a 100%, a lei não pode legitimamente impedi-lo. Ele deve ser informado dos riscos e aconselhado a seguir outra terapia, mas não tolhido.
Há, porém, uma grande diferença entre preservar a autonomia do paciente em situação desesperadora e favorecer o uso de drogas cuja eficácia não foi provada. É esse limite que os parlamentares, a exemplo do que já fez a Justiça, ameaçam romper ao impulsionar a fosfoetanolamina.
Seria perfeitamente razoável e desejável criar uma lei que assegure a pacientes terminais o direito de, à suas próprias expensas, importar "drogas milagrosas" ou produzi-las em seu quintal. Mas não faz sentido liberar para produção comercial e prescrição em larga escala um fármaco único e que não teve sua eficiência atestada só porque ele caiu no gosto popular. Aqui, os parlamentares puseram o populismo à frente da razão.
Num mundo em que recursos públicos são finitos, o Estado só deveria financiar e incentivar terapias sobre as quais exista evidência de que funcionam para além do efeito placebo.
O título do texto é de autoria deste site.
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para Folha de S.Paulo
A ciência está longe de ser perfeita e não é tão racional quanto gostaríamos de crer. Ainda assim, é o mais racional dos métodos que desenvolvemos para descobrir coisas (hesito em escrever "verdades") sobre o mundo e não é exagero afirmar que a ela devemos boa parte da bonança material de que a humanidade hoje se beneficia.
Eficácia da pílula não foi comprovada por métodos científicos |
Sou ferrenho defensor da autonomia individual. Se um maior de idade quiser tratar seu câncer com a ingestão diária de dez litros de ácido sulfúrico a 100%, a lei não pode legitimamente impedi-lo. Ele deve ser informado dos riscos e aconselhado a seguir outra terapia, mas não tolhido.
Há, porém, uma grande diferença entre preservar a autonomia do paciente em situação desesperadora e favorecer o uso de drogas cuja eficácia não foi provada. É esse limite que os parlamentares, a exemplo do que já fez a Justiça, ameaçam romper ao impulsionar a fosfoetanolamina.
Seria perfeitamente razoável e desejável criar uma lei que assegure a pacientes terminais o direito de, à suas próprias expensas, importar "drogas milagrosas" ou produzi-las em seu quintal. Mas não faz sentido liberar para produção comercial e prescrição em larga escala um fármaco único e que não teve sua eficiência atestada só porque ele caiu no gosto popular. Aqui, os parlamentares puseram o populismo à frente da razão.
Num mundo em que recursos públicos são finitos, o Estado só deveria financiar e incentivar terapias sobre as quais exista evidência de que funcionam para além do efeito placebo.
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