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Figura do mal supremo do diabo que se tem hoje foi elaborada pelos cristãos

por BBC Brasil

Se alguém lhe pedisse para imaginar o diabo, provavelmente viria à mente um demônio com um tridente nas mãos. No entanto, por centenas de anos, o diabo cristão não foi retratado pela arte religiosa e, quando finalmente surgiu, era azul e não tinha chifres ou cascos.

A imagem mais familiar para nós surgiu pelas mãos de gerações de artistas e escritores que pegaram o pouco que é dito pela Bíblia sobre Satanás e o reinventaram ao longo do tempo.

A Bíblia diz que Satanás era o maior adversário de Deus. Na Bíblia judaica, o diabo é apenas outro agente subordinado a Deus, um anjo do mal, uma alegoria que simbolizava a inclinação maligna dos homens e mulheres.

Esse personagem foi desenvolvido pelos cristãos até transformá-lo em uma representação da maldade suprema.

A doutrina cristã diz que Satanás assumiu a forma de uma serpente e tentou Eva no Jardim do Éden, mas não há nenhuma menção ao diabo no livro Gênesis. Foi só mais tarde que os cristãos interpretaram a serpente como uma encarnação de Satanás.

Também acredita-se que Satanás foi expulso do céu após desafiar a autoridade de Deus. Porém, na Bíblia, um personagem misterioso é expulso após rebelar-se contra Deus. A caracterização de Satanás como um anjo caído deriva dessa tradição.

Diabo foi usado para
 representar os inimigos
 religiosos e políticos

As faces do diabo

Nos primeiros séculos do Cristianismo, não havia muita necessidade de representar o mal na arte religiosa. Os cristãos acreditavam que os deuses pagãos rivais, como o egípcio Bes e o grego Pan, eram demônios responsáveis por guerras, doenças e desastres naturais.

Cem anos depois, quando o diabo apareceu na arte ocidental, algumas representações incorporaram os atributos físicos destes deuses, como o pêlo facial de Bes e as patas de cabra de Pan.

O diabo medieval (Anos 1260)

Na idade média, surgiu o retrato de Satanás mais reconhecível. Foi uma época de muito sofrimento, que ficou ainda pior com o surto de peste negra, a epidemia mais devastadora da história humana, com milhões de mortos na Europa.

Como a Igreja não podia proteger os fiéis da doença, as representações de Satanás centraram-se nos horrores do inferno, refletindo o ânimo do momento e lembrando por que não se devia pecar.

Propaganda endiabrada  (Anos 1530)

Há uma longa tradição de associar o diabo aos inimigos do Cristianismo dentro e fora da Igreja.

Quando ela se dividiu durante a Reforma, católicos e protestantes se acusaram mutuamente de estarem sob a influência do diabo com propagandas jocosas e grotescas sobre esta corrupção.
Anos 1500-1600 ~ Feitiços e sedução

No início do período moderno, pessoas eram acusadas de fazer pactos com o diabo e praticar bruxaria. Satanás era frequentemente representado como um sedutor e se achava que as mulheres eram especialmente vulneráveis a seus encantos.

Imagens mostravam mulheres em atos sexuais com o diabo, por elas serem consideradas o sexo frágil e mais propensas a caírem em pecado por serem incapazes de dominar seus desejos carnais.

Se Satanás conseguia corromper o corpo feminino, era uma ameaça à segurança familiar, à santidade e até mesmo à fertilidade da comunidade.

Um diabo iluminado (Anos 1600-1800)

Os escritores e pensadores iluministas reinterpretaram a história do diabo para que se ajustasse às preocupações políticas da época. John Milton descreveu um Lúcifer psicologicamente complexo no poema "Paraíso Perdido", que conta a queda em desgraça de Satanás.


Enquanto os textos religiosos anteriores haviam examinado a motivação de Satanás para condená-lo, o Lúcifer de Milton é um personagem atraente e solidário que encarna os sentimentos de rebeldia do republicanismo do século 17.

Para alguns artistas românticos e iluministas, Satanás era um nobre rebelde que travava uma batalha contra a autoridade tirânica de Deus.

 Animal político (Anos 1900-2000)

Quando a ciência conseguiu explicar a morte, as doenças e os desastres naturais, a figura do diabo ficou ameaçada. Havia lugar no mundo laico para Satanás?

Foi quando um diabo urbano e sofisticado entrou em cena. Seguindo uma tradição de identificá-lo com inimigos políticos e religiosos, o diabo foi usado para ilustrar a oposição política por meio de caricaturas e sátiras.

Além disso, Satanás encontrou seu lugar no mundo comercial, tornando-se sinônimo de excessos pecaminosos, aparecendo em propagandas para vender desde chocolate e champanhe até carros de luxo.



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