por Bernardo Mello Franco
para Folha de S.Paulo
Dilma Rousseff e Michel Temer romperam relações, mas parecem ter se unido por um último objetivo comum. A presidente e o vice decidiram humilhar os cientistas brasileiros, negociando as políticas para o setor no balcão de compra e venda de apoio parlamentar.
Há sete meses, Dilma entregou o Ministério da Ciência e Tecnologia a Celso Pansera, o "pau-mandado" do PMDB fluminense. O deputado entendia pouco da área, mas se revelou um profeta. Antes de ganhar o cargo em troca de votos, havia aberto um restaurante chamado Barganha.
Prestes a assumir a Presidência, Temer deu um passo para bater o recorde da ex-aliada. Ofereceu a pasta da ciência a um bispo da Igreja Universal, que prega o ensino do criacionismo e nega a teoria da evolução. A cadeira foi prometida a Marcos Pereira, presidente nacional do PRB.
O objetivo do vice é garantir o apoio da igreja e de seu partido, que tem 22 deputados e um senador. O PRB era aliado de Dilma, mas mudou de lado às vésperas do impeachment.
A escolha de um bispo para cuidar da ciência indica que a promessa de um "ministério de notáveis" não passou de propaganda enganosa do novo regime. Além disso, serve de mau presságio: tempos ainda mais obscuros podem estar por vir.
Na mesma segunda-feira em que a transação veio à tona, a academia brasileira sofreu outro golpe doloroso. A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, autora de estudos com repercussão internacional, anunciou que vai deixar o país. Pesquisadora da maltratada UFRJ, ela se cansou de lutar contra as condições precárias para a prática da ciência por aqui.
"Cheguei ao limite", desabafou a acadêmica à revista "piauí". Ela ainda não devia ter lido os artigos do bispo Edir Macedo, futura eminência parda do setor. Num texto de 2009, ele chama o evolucionismo de "especulação", acusa Darwin de "confrontar a palavra de Deus" e diz que os "os verdadeiros cristãos não precisam de teorias para sustentar a fé".
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para Folha de S.Paulo
Dilma Rousseff e Michel Temer romperam relações, mas parecem ter se unido por um último objetivo comum. A presidente e o vice decidiram humilhar os cientistas brasileiros, negociando as políticas para o setor no balcão de compra e venda de apoio parlamentar.
Vice-presidente ofereceu o cargo a um pastor |
Prestes a assumir a Presidência, Temer deu um passo para bater o recorde da ex-aliada. Ofereceu a pasta da ciência a um bispo da Igreja Universal, que prega o ensino do criacionismo e nega a teoria da evolução. A cadeira foi prometida a Marcos Pereira, presidente nacional do PRB.
O objetivo do vice é garantir o apoio da igreja e de seu partido, que tem 22 deputados e um senador. O PRB era aliado de Dilma, mas mudou de lado às vésperas do impeachment.
A escolha de um bispo para cuidar da ciência indica que a promessa de um "ministério de notáveis" não passou de propaganda enganosa do novo regime. Além disso, serve de mau presságio: tempos ainda mais obscuros podem estar por vir.
Na mesma segunda-feira em que a transação veio à tona, a academia brasileira sofreu outro golpe doloroso. A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, autora de estudos com repercussão internacional, anunciou que vai deixar o país. Pesquisadora da maltratada UFRJ, ela se cansou de lutar contra as condições precárias para a prática da ciência por aqui.
"Cheguei ao limite", desabafou a acadêmica à revista "piauí". Ela ainda não devia ter lido os artigos do bispo Edir Macedo, futura eminência parda do setor. Num texto de 2009, ele chama o evolucionismo de "especulação", acusa Darwin de "confrontar a palavra de Deus" e diz que os "os verdadeiros cristãos não precisam de teorias para sustentar a fé".
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