Historiador combate a crença com a racionalidade de Darwin |
por Rodrigo Rezende
para Superinteressante
O historiador da ciência Michael Shermer (foto abaixo) já teve uma religião. Mas resolveu mudar de lado. Hoje, ele dedica a vida a uma missão: combater ideias que julga irracionais. Na entrevista abaixo, ele conta como é a sua luta diária por um mundo mais racional — e com menos OVNIs, fadas e horóscopos.
O historiador da ciência Michael Shermer (foto abaixo) já teve uma religião. Mas resolveu mudar de lado. Hoje, ele dedica a vida a uma missão: combater ideias que julga irracionais. Na entrevista abaixo, ele conta como é a sua luta diária por um mundo mais racional — e com menos OVNIs, fadas e horóscopos.
'Fé age como poderoso vício, como jogar na roleta no cassino' |
Acho que há razões biológicas para isso. Provavelmente todos herdamos uma tendência genética a acreditar. Imagine que você está na mesmo habitat natural de nossos antepassados: uma savana africana. Ouve um ruído estranho e pensa: será que é um tigre? Não há tempo suficiente para julgar se está certo ou errado. Na dúvida, você acredita. Mas já inventamos algo para nos ajudar no julgamento e lutar contra essa tendência natural. Algo chamado ciência.
Que tipo de situação você enfrenta quando questiona a crença das pessoas?
Recentemente um leitor me mostrou uma foto de um OVNI. Olhei para ele e disse: "Cara, isso é uma pipa". Mas ele continuou a insistir: "Não, eu estava lá. Não era um pipa". Entrei no Google e, entre milhares de fotos de pipas, mostrei uma exatamente igual àquela. Ele respondeu: "Não, não. Você acha que os alienígenas criariam naves espaciais iguais a pipas? Você está louco?". É esse tipo de situação que encontro. Às vezes, até me diverte.
A mesma ciência que você usa para desmascarar OVNIs pode ser usada com Deus?
As pessoas supõem que Deus está aqui entre nós. Então é razoável perguntar: "Ok, qual a evidência disso?". Há quem diga "Bem, ele ajuda pessoas, cura câncer etc". Nada disso. Quem mede a melhora na saúde de quem ora para se curar, percebe que ela é estatisticamente igual à dos outros doentes. Só que estudos como esses costumam ter pouco efeito. Experimente, por exemplo, perguntar por que as pessoas creem. Muita gente responderá "Porque acredito em acreditar". É a fé agindo como um vício, exercendo um efeito cerebral tão poderoso quanto jogar na roleta do cassino. Há religiões tão perigosas para a mente quanto o jogo e as drogas ilegais. Elas estão cheias de ideias ruins que ficam plantadas no cérebro. E não é nada fácil tirá-las de lá.
Essas ideias religiosas não têm função no mundo de hoje?
A principal preocupação das pessoas é que, em um mundo sem religião, não existiria mais moral e ética. Bobagem. A tendência natural das pessoas é agir moralmente. Quanto mais integrado o mundo estiver, mais moral ele será. Já a religião não contribui para isso.
Ateus e agnósticos ainda sofrem preconceito?
Tenho uma amiga que escreve esquetes de humor sobre isso. Em uma delas, um gay quer sair do armário e tem medo da reação dos pais. Então diz: "Pai, eu sou ateu". Três segundos depois, ele diz: "Brincadeira! Eu sou apenas gay". A verdade é que muita gente ainda vê os ateus como uma ameaça. Acho que é porque temos argumentos e aí a nossa voz fica mais poderosa que o discurso da fé.
Esta entrevista foi concedida por Michael Shermer em 2013.
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