por Adam Lee
para The Guardian
Por séculos, a igreja cristã escreveu o roteiro de como os ocidentais devem lidar com a morte. Houve a confissão no leito de morte, os últimos ritos, a cerimônia do sepultamento, o imaginário de anjos com harpas. No entanto, essa visão arcaica e estereotipada da morte, como uma estátua desgastada pelo tempo, está se desintegrando — e em seu lugar, algo novo e melhor tem a chance de crescer.
Funerais e sepultamentos tradicionais estão em declínio em favor de alternativas, como enterro verde e cremação. Funerais humanistas e celebrantes seculares estão se tornando mais comum, ecoando uma tendência que também está ocorrendo com casamentos.
Como as gerações mais jovens se afastam da religião , os EUA estão, ainda que lentamente, se tornando mais secular.
O advogado Caitlin Doughty escreveu um livro, Smoke Gets in Your Eyes - And Other Lessons from the Crematory [sem tradução para o português], mostrando como estão ocorrendo as mudanças em tradições e rituais que cercam a mortalidade.
Doughty e outros observadores têm afirmado que essas mudanças não são algo que deva ser lamentado, mas abraçado.
Defendem que, em vez de seguir um script que foi escrito para nós, podemos criar nossos próprios costumes e escolher por nós mesmos como queremos ser lembrados. Nós podemos planejar funerais que enfatizam os momentos que tornaram nossas vidas significativas e as lições que gostaríamos de passar adiante.
Assim, invés de um punhado de passagens bíblicas, podemos ter leituras de qualquer livro, poema ou canção em toda a vasta tapeçaria de cultura humana. Em vez de luto, tristeza e sermões sobre o pecado, podemos ter cerimônias que são celebrações alegres da vida da pessoa falecida.
A influência do humanismo tem ido além dos funerais, porque está mudando como nós morremos, derrubando, por exemplo, o dogma de que o suicido é pecado mortal. Para humanistas, é compreensível que uma pessoa recorra à “boa morte” quando a sua vida se torna insuportável por causa de alguma doença.
O caso mais famoso nos últimos anos foi o de Brittany Maynard, uma mulher de 29 anos com câncer cerebral terminal que pôs fim a sua vida em 2014, sob a lei da “morte com dignidade”, de Oregon.
Na Califórnia e em outros lugares, os adversários mais ferrenhos do direito de morrer são as igrejas e crentes fanáticos que afirmam que o tempo, lugar e circunstâncias da morte de cada pessoa são escolhidos por Deus, e que não temos o direito de mudar isso, independentemente do custo humano .
Esse posicionamento, contudo, é minoritário na população.
Uma pesquisa da Gallup revelou que cerca de 70% dos americanos apoiam o direto de uma pessoa optar por uma “boa morte” e obter ajuda médica para isso.
Trata-se de uma concepção profundamente humanista da morte. Origina-se na ideia de que um sofrimento desnecessário é o maior mal que existe e que a autonomia da pessoa é o valor supremo.
Se nós somos os proprietários de nossa vida, então temos o direito de encerrá-la quando julgamos que ela se torna insuportável.
Assim, quanto mais cedo enterramos nosso passado religioso, melhor.
Esse texto foi resumido e adaptado para o português por este site, que também é o autor do título acima. Texto original está neste link.
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